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5+1 :: Ingmar Bergman

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O colega norte-americano Woody Allen já descreveu Ingmar Bergman como “o maior artista do cinema desde a invenção da câmera cinematográfica”. Exagero ou não, o cineasta sueco com certeza está no Olimpo da sétima arte e serve de inspiração há décadas para autores de todo o mundo, além de emocionar e intrigar o público até hoje, mesmo seis anos após sua morte. Diretor e roteirista de clássicos como Fanny e Alexander (1982) e Através de um Espelho (1961), Bergman recebeu 73 prêmios em 60 anos de carreira, além de ter sido lembrado outras 27 vezes. Nove destas indicações foram ao Oscar, prêmio que ele recebeu apenas pelo conjunto da obra, em 1971.

Nascido Ernst Ingmar Bergman, em 14 de julho de 1918, o sueco era filho de um padre e foi casado cinco vezes, tendo tido 8 filhos. E se isso não fosse o bastante, como é de praxe a equipe do Papo de Cinema escolheu cinco de seus melhores filmes – e mais aquele especial. Com quase 70 produções que levam seu nome nos créditos, não estranhe se faltar alguma na nossa singela lista. São tantas obras interessantes em uma filmografia tão coesa que a equipe penou para conseguir deixar vários títulos de fora.

 

O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet, 1957)
Por Danilo Fantinel
Se a morte espreita todos desde sempre, gerando alegorias míticas, celebrações místicas e questionamentos filosóficos sobre seus inadiáveis encontros com suas vítimas, este filme mostra que na Europa medieval, sob o signo calamitoso da peste negra, ela assumiu dimensões inexoravelmente sobrenaturais para os incautos. A pandemia ceifou aproximadamente um terço da população do continente entre 1347 e 1350. Em uma época em que o conhecimento mantinha-se enclausurado nas escolas monásticas (universidades eram incipientes), o fervor religioso relativo às causas do horror e aos chamados por intervenção divina proliferou-se tão rapidamente quanto a bactéria transmitida por pulgas de ratos. Neste ambiente bubônico, um cavaleiro volta das Cruzadas questionando os desígnios e as ausências de Deus ao passo que tenta burlar a própria Morte em um jogo de xadrez. Enquanto o cruzado delineia um discurso metafísico do alto de seu nobre pedestal, seu escudeiro assume o perfil de verdadeiro herói, refletindo virtudes, anseios e atitudes empíricas do homem comum. No entanto, ambos estão condenados. Quem sobreviverá será o artista sensitivo, capaz de feitos que lhe proporcionarão a grande conquista: ver a Morte antes de ser visto por ela e, assim, escapar do encontro fatal. Ou pelo menos adiá-lo.

 

Morangos Silvestres (Smultronstället, 1957)
Por Willian Silveira
O inferno não são os outros, como suspeitava Jean-Paul Sartre. O inferno somos nós. Aos 78 anos, o professor Isak Borg (Victor Sjöström) está prestes a se aposentar. Pela ocasião, a Universidade de Lund decide render-lhe homenagem. O que deveria ser um deslocamento físico, feito de carro até a premiação, transforma-se em um deslocamento psicológico. O movimento para o passado permite ao frio e egoísta Sr. Borg reavaliar suas ações. Qual o valor da admiração quando ressentida de afeto? Evitamos certas perguntas por medo da resposta. Nunca estamos prontos para o que deixamos para trás, ainda mais quando o que ficou se parece a um retalho de culpas. Este é um dos filmes mais planos e menos filosóficos de Ingmar Bergman. A escolha de abrir mão da fábula ou da paródia – ou mesmo da ficcionalização mais alegórica – dá ao filme um aspecto cru e primitivo – como o olhar desamparado de Sjöström ao presenciar o passado. Deus, insistentemente questionado por Sua omissão no restante da filmografia, silenciou-se de vez. Sem Ele, somos insuficientes. Se ao final da vida o homem está mais sozinho do que nunca, Bergman exercita aqui uma toada do perdão.

 

Persona: Quando Duas Mulheres Pecam (Persona, 1966)
Por Conrado Heoli
Um dos trabalhos mais profundos de Ingmar BergmanPersona foi lançado no Brasil em meio a muitas polêmicas com o título de Quando Duas Mulheres Pecam. A introdução vanguardista, com imagens desconexas que apresentam uma crucificação, uma aranha e um pênis, adianta a aura enigmática do complexo roteiro de Bergman. O filme revela algumas das mais contundentes impressões da fase psicanalítica de seu autor, numa hipnótica fotografia em preto e branco assinada por Sven Nykvist. Bergman, sempre magistral na direção de seus atores, tem sua primeira parceria com aquela que viria a ser uma de suas mais importantes colaboradoras: Liv Ullmann. Ao lado de Bibi Andersson, Ullmann colabora com a construção do imaginário feminino na obra do cineasta. Sua personificação para a atriz muda que representa revela muito mais que quaisquer diálogos. Irretocável em forma e conteúdo, já foi descrito como um romance pós-moderno lésbico, um suspense psicológico incompreensível e um estudo profundo sobre a dominação e submissão. Eis um filme que merece novas e regulares visitas, tanto por suas belíssimas imagens quanto pela oportunidade de decifrar alguns de seus incontáveis mistérios.

 

Gritos e Sussurros (Viskningar Och Rop, 1972)
Por Marcelo Müller
Segundo relatos, Ingmar Bergman construiu este filme a partir de certa imagem vinda em sonho e que não lhe saía da cabeça: mulheres vestidas de branco contra fundo vermelho. Ou seja, o sueco utilizou uma ideia de natureza pictórica para fazer, quiçá, seu filme mais doloroso e aquele no qual a imagem mais expressa por si. Agnes está morrendo numa casa de campo. A beleza do entorno contrapõe duramente a devastada paisagem interna dos personagens. Ali, em meio ao sofrimento da irmã, Karin e Maria deixam vir à tona suas frustrações, pulsões destrutivas e o rancor que as coloca em rota de colisão com os circundantes, sobretudo os próximos por parentesco ou matrimônio. Anna, a empregada devotada, cuida de Agnes como se ela fosse sua filha falecida precocemente. Aliás, a morte poucas vezes foi tratada com tamanho peso e densidade no cinema. Finitude, desespero, insegurança, trauma e amor se amalgamam nos aposentos da casa imponente de paredes vermelho-sangue, esquife dessas quatro mulheres que personificam a dor.

 

Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978)
Por Robledo Milani
Será que alguma vez você pensou em alguém mais além de si própria?”, pergunta a filha (uma soberba Liv Ullmann, parceira habitual do cineasta) para a mãe (Ingrid Bergman, a musa de Hollywood), num dos momentos mais marcantes deste filme. Esta frase resume perfeitamente o filme que seria lembrado, dentre outros motivos, por ser o único encontro nas telas do maior realizador sueco com a mais internacional de todas as intérpretes suecas. A dupla Bergman – Ingmar, o diretor, e Ingrid, a atriz – levou o nome do país natal para o mundo todo, munido apenas do talento arrebatador que possuía, e que aqui fica mais evidente do que nunca. Os dois foram reconhecidos com indicações ao Oscar – ela como Melhor Atriz, ele com Melhor Roteiro Original. O longa entrou para a história também por significar a despedida dela nas telas, que viria a falecer apenas cinco anos depois, e o quase adeus dele – depois, Ingmar faria apenas mais um clássico (Fanny & Alexander, 1982), se resignando a trabalhar basicamente na televisão a partir de então. É muito bom reencontrar dois mestres, já quase no final de suas carreiras, em tão boa forma. Bergman – qualquer um dos dois – poucas vezes esteve tão incrível!

 

+1

Saraband (idem, 2003)
Por Pedro Henrique Gomes
Sobre a possibilidade de um fim, um fim duro, mas sincero e forte na sensibilidade dos elementos em jogo. É mais ou menos em torno disso que este, um dos últimos filmes de Bergman, vai operar. Nos 30 anos que mantiveram Marianne (Liv Ullmann) distante de Johan (Erland Josephson), o tempo deixou sequelas e questões por resolver, até o reencontro do casal, já com idade avançada, na casa dele no interior da Suécia. A paisagem, com suas montanhas compondo o cenário, dá o tom do drama, de lembranças furtivas e vibrantes, de novas relações e visões de mundo, novos abraços e novos beijos. A beleza do filme passa por aí, por um processo de amadurecimento e reconhecimento de um fim ao mesmo tempo em que ainda se exige de si muitas coisas. O envelhecimento, a morte iminente, a passagem de uma longa vida de vitórias e percalços, vão marcando cada cena, inscritos na feição e na personalidade de cada personagem.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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