Ethan Coen, nascido em 21 de setembro de 1957, e seu irmão mais velho Joel Coen, nascido em 29 de novembro de 1954, formam uma das duplas mais interessantes do cinema norte-americano. Popularmente conhecidos como Irmãos Coen, os dois têm nas suas prateleiras os Oscars de Melhor Roteiro por Fargo (1996), Melhor Roteiro Adaptado, Diretor e Filme por Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), além da Palma de Ouro por Barton Fink: Delírios de Hollywood (1991), o prêmio de Melhor Diretor em Cannes por O Homem que não Estava Lá (2001) e o Grand Prix também na Croisette por Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum (2013). Curiosamente, no começo da carreira, os irmãos dividiam os créditos de forma diferente. Enquanto Joel assinava a direção, Ethan comandava produção – embora ambos fizessem as duas funções, além de montarem o filme juntos sob a alcunha de Roderick Jaynes. A partir de Matadores de Velhinha (2004), eles começaram a assinar juntos a direção. Uma dupla com tantos filmes inesquecíveis merecia um 5+1 bastante especial. Portanto, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para escolher os seus melhores filmes – e mais um, que não fez o sucesso merecido em sua época, mas ganhou status Cult com o tempo. Confira!
Barton Fink: Delírios de Hollywood (Barton Fink, 1991)
Quarta realização dos irmãos Coen, esta produção de 1991 teve seu roteiro escrito em pouco mais de três semanas durante o processo de criação do filme anterior da dupla, Ajuste Final (1990). O longa-metragem aborda a trajetória do personagem-título, um jovem dramaturgo que é contratado para escrever roteiros para um estúdio de Hollywood na década de 40. Passando por um bloqueio criativo ele não consegue desenvolver as histórias e ideias. John Turturro entrega uma introspectiva e excepcional performance ao lado de um destacável John Goodman, que interpreta um vendedor de seguros que vive no mesmo hotel que Fink. O impacto da obra foi tamanho que foi selecionado para o Festival de Cannes e levou a Palma de Ouro e também os prêmios de Ator, para Turturro, e também de direção para Joel Coen – na época, os dois dirigiam, mas apenas um deles assinava. Hoje é considerado um dos filmes essenciais dos irmãos e uma perfeita introdução para a estética dos diretores que é repleta de nuances de cinema noir, horror e humor peculiar. – por Renato Cabral
Fargo (Fargo, 1996)
Os irmãos Coen já eram reconhecidos por seus primeiros filmes quando apresentaram este suspense de humor ímpar, que permanece como um dos roteiros mais sensacionais que o cinema norte-americano já produziu, merecidamente laureado com o Oscar. Subvertendo os códigos comuns à thrillers de sequestro, o longa apresenta uma coleção de personagens inesquecíveis para contar, numa comédia de erros e um tanto quanto sombria, a história de um suburbano vendedor de carros que decide forjar o sequestro da própria esposa para conseguir o resgate e saldar dívidas. Seu problema são os tipos que ele encontra para dar conta do serviço e a eficiente detetive que investiga o caso. Nas paisagens gélidas da Dakota do Norte, a narrativa se desenvolve ao redor de mentiras, trapaças e extrema violência, pontualmente interrompidas pela comicidade de situações inusitadas que beiram o absurdo. William H. Macy, Frances McDormand (vencedora do Oscar pelo papel), Steve Buscemi e Peter Stormare são em boa parte responsáveis pelo excepcional êxito do filme, que para muitos segue como a insuperável obra-prima de Joel e Ethan Coen. Caso concorde, não deixe de assistir a igualmente ótima série televisiva derivada do filme, que funciona como um bem-vindo retorno àquele universo. – por Conrado Heoli
E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O Brother, Where Art Thou, EUA, 2000)
Uma comédia aventuresca dos Irmãos Coen baseada na obra Odisseia de Homero. Como não dar certo? Ao adaptar a narrativa para os EUA dos anos 30, em meio à Grande Depressão, e tendo como protagonista George Clooney na pele de Ulysses, aqui um fugitivo do sistema penitenciário, a dupla conseguiu um feito e tanto que rendeu elogios da crítica por todos os lados, mesmo que o retorno de público não tivesse sido tão imediato. A busca pelo tesouro que o protagonista empenha ao lado de outros dois presos, Pete (John Turturro) e Delmar (Tim Blake Nelson) é permeada por obstáculos exatamente como na clássica história, tendo o “Ciclope” Big Dan Teague (John Goodman) como o grande vilão e até ninfas sedutoras que podem colocar tudo a perder. Sem contar que o trajeto percorrido deve ser feito antes que a esposa de Ulysses (Holly Hunter) se case com outro homem. Tudo embalado pelo cancioneiro norte americano, desfilando entre jazz, blues e folk music. Com uma direção e roteiro beirando à perfeição e um elenco mais do que imerso na trama (Clooney, por sinal, foi indicado ao Globo de Ouro em Comédia ou Musical pela atuação), os Coen criaram uma obra que foi crescendo ao longo dos anos, tornando este título tão atemporal quanto a obra na qual foi inspirado. – por Matheus Bonez
Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2008)
Conhecidos por roteiros originais com personagens e situações bem características, os irmãos Ethan e Joel Coen encararam talvez o maior desafio de suas carreiras ao adaptarem um livro elogiadíssimo de um dos maiores nomes da literatura americana contemporânea, Cormarc McCarthy. No entanto, o resultado alcançado por eles nessa adaptação é impressionante: mergulhados na narrativa árida e anticlimática de McCarthy, os Coen mantêm o espectador sempre um passo atrás dos acontecimentos principais da trama, posição idêntica à ocupada pelo personagem de Tommy Lee Jones, velho xerife que não consegue acompanhar a violência do mundo moderno; ao mesmo tempo, conseguem fazer da fauna que habita o mundo desse autor tão específico algo também parte de seu cinema. A estupidez incorrigível de Llewelyn Moss (Josh Brolin) e a estranheza do vilão Anton Chigurh (Javier Bardem, estupendo), por exemplo, são extremamente coenianas. Dessa intersecção estética e narrativa arriscada saiu aquele que é, provavelmente, não só a obra máxima de Ethan e Joel Coen, como também o melhor filme americano da década passada. – por Wallace Andrioli
Um Homem Sério (A Serious Man, 2009)
Agregando vários elementos recorrentes em seus filmes (principalmente o humor nonsense gerado do conflito entre um protagonista “normal” com um mundo de comportamento caricato e absurdo), o roteiro primeiramente se dedica a um prólogo dentro da mitologia judaica para ilustrar a origem dos problemas de Larry Gopnik (o excelente Michael Stuhlbarg), um professor de física que passa a contestar sua própria fé ao observar sua vida ruir – apesar de seus esforços. Enxergando uma verdadeira batalha em cada um dos pequenos e grandes empecilhos que surgem na vida do acadêmico, os Coen constroem aquele universo singular através de seus (a)típicos diálogos, enquanto comentam a natureza estranha de um personagem que, representando o verdadeiro “homem comum”, não consegue evitar de questionar tanto a matemática que ensina, quanto as crenças a que ele, sua família e comunidade se submetem. Paralelamente divertido e melancólico em como reflete nossas angústias corriqueiras na figura de Larry, o filme consegue com essa espécie de paradoxo de sentimentos apontar, enfim, para a dubiedade expressa em uma famosa teoria física (pincelada no roteiro) que por sua vez tem relação com o próprio ato de acreditar. – por Yuri Corrêa
+1
O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1997)
Existe uma grande gama de perdedores nas histórias criadas por Ethan e Joel Coen. Mas talvez o mais querido deles seja um sujeito que não aceita ser chamado de outra forma se não de “Dude”. O “Cara”, em bom português, é do tipo que assina cheque pré-datado para uma quantia de 69 centavos. É daqueles que não se preocupa com nada, a não ser em quando conseguirá fumar seu próximo baseado ou tomar seu próximo drink, o White Russian. O personagem de Jeff Bridges é tão perdedor que nem o filme leva o seu nome. O Grande Lebowski é, na verdade, outro homem, um ricaço que tem sua esposa sequestrada e, para reavê-la, conta com a ajuda de seu homônimo pobretão. Com sequências oníricas engraçadíssimas, personagens excêntricos e trilha sonora pinçada a dedo, o longa-metragem dos irmãos Coen, lançado em 1998, pode não ter sido um grande sucesso à época, o que é uma lástima. Não teve a resposta de público ou crítica que merecia tendo sido completamente ignorado pelo Oscar ou Globo de Ouro. O lado bom é que, com o tempo, as pessoas foram desfrutando melhor dos desdobramentos da história e começaram a curtir mais os personagens, elevando o filme de Ethan e Joel Coen a um status de cult. – por Rodrigo de Oliveira
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