Paixões platônicas existem desde que o mundo é mundo, mas algumas pessoas não aceitam a rejeição e levam o sentimento à obsessão. É o caso de Adèle H. (Isabelle Adjani), filha do escritor Victor Hugo, que se apaixona por um oficial britânico. Já do outro lado do Atlântico, ele não sente o mesmo. O fato da jovem ter corrido atrás dele, ultrapassando quilômetros e fronteiras, parece tornar esse amor mais frágil ainda. Não para ela. A protagonista não entende o que aconteceu para a relação ter esfriando tanto. Com os relatos reais a favor da personagem, literalmente contados através de diários, François Truffaut entrega uma obra sensível e dolorosa a cada quadro. E a nossa homenageada, quase uma estreante na sétima arte, com seus 19 anos, se entrega completamente a Adèle, tornando a personagem crível sob vários âmbitos. É impossível não compreender aquilo que vemos na tela. Todos já passamos por situações parecidas, ainda que a protagonista leve tudo às últimas consequências no seu modo de ver o mundo. O amor pode ser lindo, mas quando acaba, o que sobra? Truffaut e Adjani entenderam bem a mensagem e transformam o que poderia ser um reles conto romântico num belo relato sobre a fragilidade da psique humana. – por Matheus Bonez