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5+1 :: Jack Nicholson

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A vida de John Joseph Nicholson, por si só, já daria um bom filme. Mas ele foi além, e tirou desta jornada diversas histórias inesquecíveis, numa das mais brilhantes carreiras já vistas em Hollywood. Nicholson nasceu no dia 22 de abril de 1937, em Nova York. Apenas na juventude foi descobrir que a mulher que acreditava ser sua mãe era, na verdade, sua avó, e que sua mãe natural era aquela que pensava ser sua irmã mais velha. Quando começou a trabalhar como ator, seu primeiro agente lhe desaconselhou a investir neste sonho, pois segundo o profissional o jovem não possuía “talento” para a atuação. Décadas depois acumula mais de oitenta premiações ao redor do mundo, entre elas três vitórias no Oscar – um dos raros intérpretes a conseguir este feito, ao lado de Meryl Streep, Daniel Day-Lewis, Walter Brennan, Ingrid Bergman e Katharine Hepburn (esta é a única com quatro estatuetas conquistadas).

Casado apenas uma vez, ainda nos anos 1960, com a atriz Sandra Knight, com quem teve sua primeira filha, Jack Nicholson foi pai mais quatro vezes, com outras quatro mulheres diferentes. Entre suas conquistas mais famosas estão as atrizes Anjelica Huston (com quem viveu por 16 anos) e Lara Flynn Boyle. Recebeu um total de 12 indicações ao Oscar, ganhou 6 vezes o Globo de Ouro, outras 6 vezes no National Board of Review, foi premiado no Festival de Cannes e em quatro ocasiões levou foi considerado o melhor ator do ano pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA. E esta é apenas uma amostra deste grande ator, que agora é devidamente homenageado aqui no Papo de Cinema, com seus cinco melhores trabalhos (dispostos em ordem cronológica) e, é claro, mais um que merece ser (re)descoberto! Confira!

 

Chinatown (Chinatown, 1974), por Danilo Fantinel

Um dos melhores longas de Roman Polanski, Chinatown é constantemente citado nas listas dos maiores filmes já realizados. Na trama, o detetive JJ Gittes, interpretado com um misto de sobriedade, melancolia e ironia por Jack Nicholson, é contratado para investigar um caso de adultério, mas acaba descobrindo um intrincado esquema de corrupção e assassinato em Los Angeles em 1937. Ex-policial, Gittes é um sujeito durão, hábil em lidar com policiais incompetentes, ricaços inescrupulosos e mulheres misteriosas. Nicholson apresenta todas as dimensões de seu personagem de forma discreta, com apoio essencial do roteiro assinado pelo vencedor do Oscar Robert Towne – uma joia que se revela surpreendente até o final do filme. Não à toa, o guru de Hollywood Robert Mckee costuma exibir Chinatown na íntegra após suas palestras “Cinema como Obra de Arte”. Com fotografia estudada e excelentes movimentos de câmera, o longa é um dos mais belos tributos ao filme noir clássico norte-americano, e tem no poder de atuação de Nicholson um de seus grandes trunfos.

 

Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo’s Nest, 1975), por Conrado Heoli

Quando Jack Nicholson aceitou protagonizar Um Estranho no Ninho (1975), de Milos Forman, ele já era um dos atores norte-americanos mais requisitados. Depois de Sem Destino (1969), A Última Missão (1973) e Chinatown (1974), já apontado como o tipo ideal para representar o homem dos anos 1970, Nicholson se arriscou na adaptação de Forman para o clássico romance de Ken Kesey de mesmo título. Com um hospício servindo como microcosmo para a sociedade, a comédia dramática apresenta Randle P. McMurphy (Nicholson), rebelde que simula sua loucura para escapar da prisão. Internado numa rígida instituição, ele se aproxima de tipos excêntricos, como um nativo norte-americano aparentemente mudo, e se descobre intrigado pela personalidade fria da enfermeira Ratched (Louise Fletcher). Um Estranho no Ninho arrecadou todas as principais categorias do Oscar em 1975, inclusive a primeira das três estatuetas de Jack Nicholson. Outro prêmio foi para um jovem Michael Douglas, que produziu o filme depois que seu pai, Kirk Douglas, desistiu após lutar durante anos para realizá-lo. Uma obra profunda e tocante, repleta de momentos e atuações inesquecíveis.

 

O Iluminado (The Shining, 1980), por Matheus Bonez

Muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão. Porém, de bobo o Jack de O Iluminado não tem nada. Pelo contrário. Seu intelecto é tão alto e sua loucura tão perturbadora que não é apenas o hotel em que ele está confinado com a mulher e o filho que assusta a família e o público. Jack Nicholson construiu um personagem tão emblemático que vai cedendo à insanidade no decorrer desta obra-prima de Stanley Kubrick que fica impossível não olhar para o ator, mesmo hoje em dia, sem lembrar (e ficar aterrorizado) quando seu olho está arregalado ou sua risada ecoa pela tela. O melhor de tudo é que O Iluminado não é deste tipo de terror fácil que precisa de artifícios como assassinos em série, crianças fantasmas ou corpos desmembrados para causar um horror em que está no escuro do cinema ou em casa. É tudo feito através de uma mente que não conseguimos entender o que se passa. Nem Freud poderia explicar. Talvez por isso os pesadelos continuem mesmo após mais de 30 anos de seu lançamento.

 

Batman (Batman, 1989), de Rodrigo de Oliveira

Na tentativa de trazer a figura do Homem-Morcego soturna, conhecida nos quadrinhos, mas mal aproveitada audiovisualmente depois do seriado sessentista, a Warner planejou, em 1989, uma superprodução séria para reapresentar Batman ao grande público. Para comandar a tarefa, um novato Tim Burton, saído do sucesso surpresa de Os Fantasmas se Divertem (1988). Isso, por si só, poderia não empolgar muito. Portanto, na hora de escalar o elenco, um nome forte era necessário para mostrar ao público e para a crítica especializada que a Warner não estava brincando em serviço. E este nome foi Jack Nicholson. O ator, conhecido por seus papéis sérios em produções premiadas, acabou chancelando o longa-metragem e sua participação como o arqui-inimigo do herói, Coringa, é simplesmente memorável. Não só Nicholson deu ao vilão a carga de insanidade e periculosidade necessária para parecer ameaçador, como sua presença na produção ajudou totalmente o filme a alçar voo. Conta-se que ele, por exemplo, foi o apoio que Tim Burton precisava para ter voz mais ativa no set. O estúdio encrencava com as escolhas do cineasta e Nicholson teria firmado o pé que receberia ordens do diretor e não do estúdio. É bem verdade que o cheque polpudo que o astro recebeu ajudou bastante em sua afeição pelo trabalho. Além do cachê, Nicholson assinou um contrato – até então sem precedentes – que dava a ele porcentagens dos lucros de Batman. Nada mal para este memorável palhaço do crime. Uma pena que o desfecho do personagem tenha nos privado de assistir a mais vilanices do Coringa de Jack Nicholson. A propósito: Você já dançou com o demônio sob a luz do luar?

 

Melhor é Impossível (As Good As It Gets, 1997), por Marcelo Müller

A ranzinzice e as pequenas obsessões cotidianas do escritor nova-iorquino Melvin Udall são o charme maior de Melhor é Impossível¸ comédia romântica que certamente eleva a média desse gênero bastante maltratado, sobretudo por Hollywood. Quem melhor para encarnar um sessentão casca-grossa que vai amolecendo ao se permitir estabelecer conexões? Jack Nicholson, claro. Seu personagem persegue principalmente o vizinho gay (Greg Kinnear) e a garçonete (Helen Hunt), mãe solteira com problemas domésticos, ainda que não pareça lá muito disposto a ser amigável no geral. Contudo, essas duas pessoas (e mais o cãozinho Verdell) serão responsáveis por fazer o homem que evita pisar nas junções da calçada (como esquecer tal peculiaridade?) repensar o modo como encara a vida. Melhor é Impossível não deixa de ser o que convencionamos chamar feel good movie, pois sobre toda problemática há certeza do desfecho satisfatório, pelo qual torcemos, sejamos sinceros. Quanto a Jack Nicholson, não me ocorre outro ator que encarnasse Melvin com tamanha desenvoltura entre os registros “mal-humorado” e “senhor gente boa”.

 

+1

 

Alguém tem que Ceder (Something’s Gotta Give, 2003), por Renato Cabral

A diretora Nancy Myers praticamente ressuscitou a carreira de Diane Keaton com Alguém tem que Ceder, delicioso filme sobre se redescobrir de diversas maneiras após os 50 anos. Além da atriz, a diretora também alavancou um pouco mais a carreira de Nicholson. Interpretando o excêntrico e mulherengo Harry Sanborn, um magnata da indústria fonográfica americana, o ator demonstra uma química perfeita junto a Keaton, com quem faz par romântico. Ponto também para o sempre excelente timing cômico do ator, já demonstrado em filmes como Melhor é Impossível (1997), Marte Ataca! (1996) e As Bruxas de Eastwick (1987), por exemplo. Vale lembrar que Alguém Tem que Ceder acontece logo após a ótima recepção à performance de Nicholson na dramédia independente As Confissões de Schmidt (2002), pelo qual foi inclusive indicado ao Oscar. Um dos maiores atores de Hollywood, ele tem a destreza em trabalhar no filme de Myers um personagem que se transforma no decorrer da trama sem parecer piegas. Versatilidade pode muito bem ser uma das palavras para definir um pouco da carreira desse grande ator.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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