Jake Gyllenhaal é uma máquina de atuação. Desde os 11 anos de idade, o ator vem mostrando sua versatilidade que, principalmente a partir da primeira década de 2000, tem lhe rendido cada vez mais elogios do público e da crítica. Seus 34 prêmios e 83 indicações (uma ao Oscar, inclusive) só comprovam seu talento que passeia pelos mais diversos gêneros, dos dramas e suspenses mais intimistas, como os citados aqui, às comédias e filmes de ação de maior potencial de público, como Príncipe da Pérsia (2010) e O Dia Depois de Amanhã (2004). Irmão da também atriz Maggie Gyllenhaal, Jake é filho do diretor Stephen Gyllenhaal e da roteirista Naomi Foner, além de ser afilhado de Jamie Lee Curtis e Paul Newman. Ou seja, o fruto não caiu nem um pouco longe do pé. No caso, dos holofotes. Para comemorar seu aniversário no dia 19 de dezembro, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger seus cinco melhores filmes – e mais aquele que merece uma segunda chance. Confira!
Donnie Darko (2001)
– por Thomás Boeira
Donnie Darko é um jovem inteligente, mas que muitos classificam como mentalmente problemático. Através da visão de Frank, uma figura fantasiada monstruosamente de coelho, ele recebe o aviso de que o mundo acabará em 28 dias, além de escapar da morte quando uma turbina de avião cai em seu quarto. A partir disso, Donnie passa a agir estranhamente, em atos que afetam as pessoas ao seu redor. Marcando a estreia do diretor-roteirista Richard Kelly (que, infelizmente, não fez nada que preste depois), Donnie Darko é o tipo de trabalho cuja simplicidade ganha força graças às ideias instigantes desenvolvidas ao longo da história e o personagem-título se revela um guia fascinante para o público em meio aos eventos que ocorrem no filme. Com uma linha de pensamento que rivaliza com aquela seguida pela comunidade conservadora que o cerca (“Eu acho que você é a porra do anticristo”, ele diz para o palestrante motivacional vivido por Patrick Swayze), o rapaz é, de certa forma, um pária social, algo que contribui para torná-lo tão interessante. Representou o primeiro papel mais desafiador da carreira de Jake Gyllenhaal, que encarnou todas as nuances do personagem de maneira exemplar em uma atuação memorável, chamando a atenção de todos para seu enorme talento, que se comprovaria cada vez mais em outros grandes projetos.
O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005)
– por Matheus Bonez
Falar que o filme de Ang Lee é uma das obras mais sensíveis sobre a intensidade de um amor que nunca pôde ser declarado ao mundo é chover no molhado. Dizer então que a Academia errou feio e foi preconceituosa, sim, ao não dar o prêmio máximo para o longa por conta do bom, pero nada espetacular, Crash: No Limite (2005) também já é clichê e passado. Se o Ennis do finado Heath Ledger é o legítimo machão do interior sulista norte-americano e foi muito bem personificado pelo ator (merecidamente indicado ao Oscar), o Jack Twist de Jake Gyllenhaal é como o cowboy que não consegue se encaixar. Desde o início do filme percebe-se que Jack não é como seu colega de trabalho e futuro amante. Mas não é “aquele jeitinho” que todo mundo gosta de falar quando se refere a alguém ser gay – até porque já estamos em 2014 e falar que fulano ou beltrano é homossexual por um tom de voz diferente ou algo do gênero é totalmente demodê. O jeito diferente do personagem de Gyllenhaal mostra-se no olhar do ator e no modo como ele trata seu parceiro com carinho, enquanto que é mais durão com a namorada (Anne Hathaway), na sua tentativa de viver na gangorra entre esconder sua homossexualidade e conseguir extravasar seus desejos. Algo que o nosso homenageado tira de letra. Aliás, capta com perfeição. Não à toa foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Merecia ter ganho.
Zodíaco (Zodiac, 2007)
– por Rodrigo de Oliveira
David Fincher tentou evitar, mas não conseguiu ficar muito tempo distante dos serial killers. Depois do grande sucesso de Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995), o cineasta prometeu ficar afastado de histórias deste tipo. No entanto, este aqui foi um projeto bom demais para deixar de lado. Contando a história do assassino que aterrorizou Chicago na década de 1970, porém nunca preso, Fincher encontrou um roteiro que privilegiava a investigação e o desenvolvimento de personagens. Robert Downey Jr. foi um óbvio destaque do elenco, interpretando um jornalista astuto e cheio de ironia. Mas Jake Gyllenhaal, à época recém saído do ótimo romance O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e do interessante Soldado Anônimo (2005), também se sobressaiu. Interpretando um homem obcecado por encontrar o assassino conhecido como Zodíaco, o personagem de Gyllenhaal praticamente abandona sua própria vida pela causa. A dobradinha com Downey Jr. dá fluência à primeira parte do longa. Já no segundo ato e no terceiro ato, a derrocada do personagem por causa de sua obsessão é bem retratada pelo ator.
Os Suspeitos (Prisoners, 2013)
– por Marcelo Müller
A primeira cena mostra um “sacrifício” com a suposta anuência de Deus. Aliás, religiosidade e crença (favor, não confundi-las com fé) são elementos fundamentais à estreia em Hollywood do canadense Dennis Villeneuve, um longa pesado e tenso em que o sequestro das crianças não passa de pretexto para trazer à tona o pior da natureza dos envolvidos. Em meio ao elenco muito bem conduzido, Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal se destacam, um enquanto pai que transita entre o desespero e a selvageria, e o outro na pele do policial incumbido da investigação. O personagem de Gyllenhaal precisa lidar não apenas com o inquérito corrente, mas também com as ações paralelas desse pai desesperado que chegará até as últimas consequências – inclusive torturando sistematicamente um suspeito – para reaver a filha desaparecida. Se em Zodíaco (2007), de David Fincher, Gyllenhaal já havia mostrado competência num thriller de apuração criminal, aqui, num papel não menos exigente, ele reafirma uma capacidade de construir personagens cujas nuances não permitem que eles se diluam na situação maior do filme, pois capazes de chamar nossa atenção também para seus dramas particulares, o que acaba, inevitavelmente, engrandecendo os próprios filmes.
O Abutre (Nightcrawler, 2014)
– por Yuri Correa
Olhando para trás na carreira do nosso homenageado descobrimos uma sequência de bons filmes e papeis raramente interrompida por algum projeto que é apenas bom, mas nunca medíocre. Este aqui apenas comprova isso. Diferente dos determinados boas pintas que costuma interpretar, Jake Gyllenhaal encarna aqui o esquisito Louis Bloom que, com uma câmera na mão e nada mais a perder, está decidido a se tornar o número um no seu negócio de vender imagens chocantes para os telejornais locais. Com o cabelo oleoso sempre penteado e dono de uma impetuosidade ousada, o ator nos convence com facilidade da psicopatia implícita a seu personagem e divide diálogos inebriantes, com destaque para aquele com Rene Russo. Primeiro filme dirigido por Dan Gilroy, o longa-metragem é um suspense que se desenvolve com paciência, criando tensão tijolinho por tijolinho até culminar em sequências magnéticas e angustiantes, com certeza um dos melhores exemplares norte-americanos do ano, um feito que Gyllenhaal já tinha conseguido no ano passado ao estar à frente também do magnífico Os Suspeitos.
+1
O Homem Duplicado (Enemy, 2013)
– por Robledo Milani
Talvez ainda mais interessante do que o explícito título brasileiro, cabe ao espectador atento dedicar um minuto para refletir a respeito do batismo internacional desse intenso trabalho dirigido pelo mesmo Denis Villeneuve que poucos meses antes havia trabalhado com Jake Gyllenhaal no policial Os Suspeitos (2013). Afinal, se temos aqui como protagonista uma pessoa nitidamente duplicada – seria um sósia? Um irmão gêmeo? Ou mero produto da imaginação? – ainda mais curioso é perceber que o maior inimigo do homem é… o próprio homem! Baseado no romance do escritor português José Saramago – que já havia nos entregue o perturbador Ensaio sobre a Cegueira (2008), do brasileiro Fernando Meirelles – este filme abusa dos tons pálidos para criar um suspense que se mantém até o último minuto, ainda que as pistas para sua resolução estejam espalhadas por toda a obra desde o seu início. Mérito, portanto, da direção segura do canadense Villeneuve. Mas, acima de tudo, palmas para a atuação subliminar e absurdamente competente de Gyllenhaal, que revela sua maturidade enquanto artista criando dois personagens completamente diferentes, porém ainda assim complementares. Uma pérola a ser descoberta, que passou quase desapercebida pelos cinemas, mas com um resultado de deixar qualquer um de queixo caído.
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