Sabe a expressão “pau pra toda obra”? Pois parece que Jamie Foxx é uma das representações máximas quando se fala nele em Hollywood. Ator, produtor, roteirista, comediante, músico… parece que não há limites para o talento deste rapaz que já levou o Oscar para casa num ano em que foi indicado duas vezes. Por sinal, quebrar recordes parece ser outra face da versatilidade do ator. Em 2004, ele conseguiu uma indicação tripla no Globo de Ouro, em três diferentes categorias, todas de atuação. No total, já foram mais de 100 vezes em que seu nome foi lembrado entre prêmios e indicações, além de um programa de TV com seu próprio nome e até o topo da parada da Billboard. O ator, que homenageia o comediante Redd Foxx com seu sobrenome, faz aniversário no dia 13 de dezembro. É claro que, para parabenizá-lo, a equipe do Papo de Cinema resolveu escolher seus cinco melhores trabalhos – e mais aquele que merece uma segunda revisão. Confira!
Ray (2004)
Por Rodrigo de Oliveira
Ray consegue uma façanha bastante peculiar: agradar já em seus primeiros dois minutos de projeção. Quando o espectador ouve as notas tocadas ao piano por Ray Charles e vê as imagens captadas pelo diretor Taylor Hackford em planos-detalhe sobre os óculos, a gravata e os dedos do músico passeando sobre o teclado, já é possível se animar com o que será mostrado. Não bastasse isso, Jamie Foxx É o cantor neste longa-metragem. Desde o James Morrison de Val Kilmer em The Doors (1991), não existia uma personificação tão adequada e correta de uma lenda da música no cinema. E apesar de interpretar um mito, Foxx não parece incomodado com a responsabilidade. Ao contrário. O ator vive Ray Charles de forma intensa, visceral. Mas nunca esquecendo o lado humano do personagem. Quando Foxx abre a boca, não achamos que está apenas recitando palavras de um famoso cantor. Acreditamos nele, torcemos por ele. Antes de representar um mito, Foxx nos mostra um homem que lutou duro para chegar ao topo, a um lugar onde muitos acreditavam que ele nunca chegaria. Atuação impecável que deu ao ator o prêmio da Academia por sua performance.
Colateral (Collateral, 2004)
Por Thomás Boeira
Quando lançado, Colateral chamou atenção pelo fato de trazer Tom Cruise (ator com o qual nos acostumamos a ver em papeis de mocinhos) interpretando um vilão. No entanto, quem conseguiu surpreender muito mais foi o nosso homenageado. Aqui, Jamie Foxx ficou com o papel de Max, taxista que tem o grande sonho de deixar seu emprego e abrir uma empresa de aluguel de limusines. Em um dia aparentemente normal, ele tem como passageiro o elegante Vincent (Cruise), que está na cidade a negócios. Mas estes negócios vêm a ser alvos que ele foi contratado para matar, e Max acaba sendo obrigado a ser seu motorista ao longo da noite. Colateral é um thriller que funciona mais por ter um diretor excepcional como Michael Mann, que mantém a narrativa numa tensão constante, do que propriamente por seu roteiro. Mas, mesmo assim, vale dizer que Foxx surpreende não só por trazer grande carisma para seu personagem, mas também por ter uma presença tão forte em cena que nem o fato de um astro como Tom Cruise estar ao seu lado tira seu brilho. Assim, Foxx viu seu ano de 2004 ser perfeito, já que ele viria a ser indicado ao Oscar por sua atuação aqui e também por Ray, pelo qual saiu vitorioso da cerimônia.
Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (Dreamgirls, 2006)
Por Matheus Bonez
Baseado no musical homônimo da Broadway, o filme revisita a história da black music nos EUA entre os anos 1960 e 1970, numa ótima alusão ao caminho de grupos como o The Supremes e de cantores como James Brown e Marvin Gaye. Neste emaranhado de artistas que são espelhados extraoficialmente nos personagens de Beyoncé Knowles, Eddie Murphy e Jennifer Hudson, Jamie Foxx surge como o legítimo empresário mau caráter de filmes do gênero. No papel de Curtis Taylor Jr., Foxx tira o talento vocal do grupo, Effie (Hudson) para dar lugar à sua amante, Deena (Beyoncé). Mas não é este apenas o jogo completo do personagem, que, na pele de muitos, poderia cair no clichê. Na verdade, Foxx beira sim à atuação mais canastrona de sua carreira, porém de forma proposital, equilibrando seu personagem entre o ridículo e o duvidoso, não menos humano. E esta dose de humanidade, de realidade que o ator captura e transmite ao público é o seu grande diferencial, mostrando porque Foxx é um dos talentos mais reconhecidos do cinema norte-americano contemporâneo.
Miami Vice (2006)
Por Robledo Milani
Após ganhar seu Oscar por Ray (2004), Jamie Foxx atirou para todos os lados: estrelou uma aventura sem maiores repercussões (Ameaça Invisível, 2005), se uniu a um diretor de prestígio (Soldado Anônimo, 2005, de Sam Mendes) e se arriscou em um musical (Dreamgirls, 2006). Dentre estes projetos, talvez o mais acertado tenha sido esta versão para a tela grande do popular seriado televisivo que teve cinco temporadas, de 1984 até 1990. Assumindo o papel de Philip Michael Thomas como o detetive Ricardo Tubbs (enquanto Colin Farrell foi escalado para estar ao seu lado como Sonny Crockett, no lugar que antes fora de Don Johnson), Foxx aproveitou a chance de se reunir novamente com o cineasta Michael Mann, com quem havia trabalhado no tenso Colateral (2004) – papel que lhe valera outra indicação ao Oscar. James e Colin aproveitam a oportunidade que lhes é oferecida, formando uma dupla de policiais com muito estilo, porém de métodos pouco convencionais – e contraditórios entre si, mas que acabam funcionando melhor do que a encomenda. Nosso homenageado não só convence como protagonista, mas também como estrela de ação e chamariz de bilheteria – afinal, mais de US$ 163 milhões arrecadados em todo o mundo nunca fizeram mal a ninguém. Assim, provou de vez que buscar inspiração em antigos programas de televisão nem sempre é uma má ideia: basta escolher os talentos certos. Exatamente como aconteceu aqui.
Django Livre (Django Unchained, 2012)
Por Marcelo Müller
Inicialmente, Quentin Tarantino queria Will Smith como Django, protagonista de Django Livre, seu primeiro e tão aguardado western. Com a recusa do ator, coube a Jamie Foxx interpretar o escravo convertido em caçador de recompensas que empreende uma grande jornada para reaver a esposa. Imaginar como teria sido o Django de Smith é mera especulação, mas o de Foxx é um personagem forte, que deve muito de suas nuances ao trabalho de seu intérprete. No início, Django é diminuído pela submissão de sua raça, alguém que precisa, em virtude desta lógica desumana que propiciou a escravatura, colocar-se à disposição daquele que for seu dono. Liberto, começa a se acostumar com a ideia de virar um pistoleiro profissional e a ter privilégios semelhantes aos dos homens brancos – como, por exemplo, montar seu próprio cavalo. Ainda que vacile, vez ou outra, no momento de puxar o gatilho, aos poucos vai entendendo a lógica perversa que o cerca e, a partir daí, interpretará o personagem que for necessário para levar adiante seu plano maior, ou seja, o resgate de sua amada Broomhilda (Kerry Washington). Django é um dos momentos altos da carreira de Jamie Foxx, papel que, mesmo não sendo inicialmente dele, lhe caiu como uma luva.
+1
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (The Amazing Spiderman 2, 2014)
Por Yuri Correa
Depois de um primeiro filme apenas errado, Marc Webb voltou a direção do cabeça de teia nessa retomada da franquia estrelada por Andrew Garfield com uma continuação muito melhor do que a confusão narrativa que víramos antes. Em A Ameaça de Electro encontramos o universo de Peter Parker com linguagem muito mais madura e já solidificada em uma identidade só, no caso, a cartunesca. É desta abordagem que surge com naturalidade o inusitado vilão Electro do título, interpretado pelo nosso homenageado, Jamie Foxx. Muito bem equilibrado entre o excêntrico e o ingênuo, seu antagonista desperta medo justamente por se tratar de um indivíduo tão poderoso e tão igualmente obtuso. Porém, não foram todos que compraram a caricata ideia por trás do longa-metragem, que beira em certos momentos ao mesmo estilo camp que derrotara os dois Batman’s (1995 e 1997) de Joel Schumacher no passado. Digerindo-se este aspecto, A Ameaça de Electro torna-se um filme eficiente, divertido e, inesperadamente, tocante também.
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