Diva com todas as letras, Jane Fonda é um dos maiores ícones da constelação hollywoodiana. Filha do genial Henry Fonda, primeiro chamou atenção como ícone sexual – principalmente a partir de seu casamento com o diretor francês Roger Vadim – para logo em seguida mostrar ao mundo que uma mulher, além de bela, poderia ser também talentosa. Dona de sete indicações ao Oscar, ganhou em duas ocasiões – sempre como principal. Além disso, soma 15 indicações ao Globo de Ouro (com sete vitórias) e seis ao Bafta (ganhou duas vezes), sem esquecer do Emmy e de uma Palma Especial concedida pelo Festival de Cannes, o mais importante de todo o mundo. Atriz presente em mais de cinquenta projetos no cinema e na televisão, é mãe de três filhos e, mesmo tendo sido uma das principais vozes do feminismo e da contracultura, decidiu se aposentar das telas durante seu último casamento, com o magnata Ted Turner, que durou dez anos, de 1991 até 2001. Após o divórcio, voltou mais uma vez atrás e retomou seu antigo trabalho, oferecendo ao público mais uma gama de atuações marcantes, seja em comédias ou dramas, nos Estados Unidos ou mesmo na Europa. Por tudo isso, não foi fácil escolher apenas seus cinco trabalhos mais marcantes neste 21 de dezembro, data em que comemora mais um aniversário. Mas eles estão aqui, reunidos e comentados pela equipe do Papo de Cinema, além de apontarmos mais um especial que, obviamente, não poderia ser esquecido. Confira… e aproveite!
A Noite dos Desesperados (They Shoot Horses, Don’t They?, 1969)
– por Conrado Heoli
Logo após viver a personagem-título no icônico Barbarella (1968), Jane Fonda recebeu sua primeira indicação ao Oscar por este drama de Sydney Pollack, indicado a outros oito prêmios da Academia e instantaneamente aclamado. Este longa serviu para a atriz colocar à prova seu talento dramático – até então sublimado por sua imagem de sex symbol. A adaptação do romance de Horace McCoy apresenta Fonda como Gloria, uma das maratonistas de dança numa competição insana durante a Grande Depressão norte-americana. Surrealista e sordidamente ácido como os melhores trabalhos de Luis Buñuel, o longa evidencia um microcosmo social dos males estadunidenses presentes não apenas durante o período que retrata, mas também naquele em que foi lançado. Uma das maiores performances de Jane Fonda quase não aconteceu, já que a atriz declinou o convite de Pollack inicialmente, mas reconsiderou a pedido de seu então marido, o cineasta francês Roger Vadim, que percebia influências do existencialismo francês no roteiro de Robert E. Thompson e James Poe. A atriz diria mais tarde que este foi o primeiro trabalho em que pode efetivamente contribuir com a construção de sua personagem, quando um diretor pediu sua opinião para este fim.
Klute: O Passado Condena (Klute, 1971)
– por Robledo Milani
Jane Fonda ganhou seu primeiro Oscar logo em sua segunda indicação ao maior prêmio da indústria cinematográfica norte-americana. Membro de maior destaque de uma das famílias mais estreladas do showbiz internacional – além do pai, Henry, também seu irmão, Peter, e até uma sobrinha, Bridget, já desfilaram pelas telas – Jane assume aqui neste thriller dirigido por Alan J. Pakula uma personagem misteriosa, cheia de segredos e de difícil definição. Retrato de uma época em que o avanço feminino ganhava cada vez mais importância na sociedade, sua Bree Daniels é uma prostituta que, por mais que as coisas deem errado no seu caminho, recusa se ver como vítima do meio em que transita. Sua situação, no entanto, começa a mudar quando aceita ajudar John Klute (Donald Sutherland, em atuação monocórdia, sendo constantemente eclipsado pela atriz) a encontrar um dos antigos clientes dela, há alguns meses desaparecido. Fonda é puro charme ao mostrar, lá no início dos anos 1970, como uma mulher pode ser sexy, determinada e dona do próprio nariz, assumindo-se como tal e sem baixar a cabeça para ninguém. Uma composição que marcou gerações e deu início a uma nova forma de Hollywood retratar as mulheres em cena.
Amargo Regresso (Coming Home, 1978)
– por Marcelo Müller
Filha de Henry Fonda, um dos grandes nomes da Era de Ouro de Hollywood, Jane Fonda não deve ser lembrada apenas por fazer parte de um clã de intérpretes. Uma das provas de seu talento flagrante se dá neste longa-metragem dirigido por Hal Ashby já quando a Nova Hollywood estava prestes a sucumbir. A trama não poderia ser mais emblemática daqueles anos de contestação. Afinal de contas, toca na velha ferida nos regressos do Vietnã, uma guerra constantemente criticada pelos diretores que tomaram para si as rédeas do cinema norte-americano, incluindo aí o realizado nos grandes estúdios, nas décadas de 1960 e 1970. Jane interpreta uma mulher casada com um oficial do exército que embarcou para o combate com os vietnamitas. Querendo fazer a diferença, se voluntaria para trabalhar num hospital de veteranos, onde acaba se apaixonando pelo soldado vivido por Jon Voight, cuja principal sequela da batalha é ter ficado paraplégico. No meio de um triângulo amoroso complicado, a personagem de Jane Fonda enfrenta de peito aberto um turbilhão de dificuldades sociais e sentimentais, algo muito bem expressado pela atriz que faz jus ao sobrenome famoso, neste que é um de seus trabalhos mais importantes.
A Síndrome da China (The China Syndrome, 1979)
– por Matheus Bonez
Com produção de Michael Douglas (que também atua), este longa oferece uma bela discussão sobre ética jornalística, os perigos envolvendo experimentos nucleares e o que grandes empresários podem chegar a fazer para não perderem seus investimentos. Jane Fonda é a repórter Kimberly Wells. Ao lado do cinegrafista Richard Adams (Douglas), ela testemunha um grave acidente numa usina. A emissora em que trabalham se recusa a veicular as imagens por terem sido gravadas sem autorização, mas o argumento é apenas um drible pela relação da empresa de comunicação com os donos do local. Investigando mais a fundo, a dupla conta com a ajuda do supervisor Jack Godell (Jack Lemmon), que revela imensas falhas de segurança no complexo que podem afetar a população. Além do compromisso com a verdade em um roteiro muito bem elaborado, o filme traz um show de atuações, especialmente Jane Fonda, que faz seu personagem crescer de uma ambiciosa novata que quer ascender na carreira para uma jornalista realmente envolvida com o lado humano de seu trabalho, num processo de amadurecimento que brilha aos olhos do público. Um de seus melhores trabalhos, que gerou sua quinta indicação ao Oscar, após já ter levado duas estatuetas para casa.
A Manhã Seguinte (The Morning After, 1986)
– por Victor Hugo Furtado
Arriscando-se em thrillers de ritmo desacelerado, porém muito estruturados, Jane Fonda se une a um Jeff Bridges controlado e seguro neste filme que tem uma das cenas iniciais mais intensas do gênero: a personagem alcoólatra de Fonda acorda e percebe que não tem ideia de onde está. Vê que há sangue na cama em que dormiu, vira-se para o lado e encontra um homem morto, deitado ao seu lado, com uma faca enterrada no peito. Na atuação da atriz, ela se torna uma frustrada e problemática mulher que não consegue ligar os mais simples pontos devido a seu estado de choque emocional, algo que soa estranhamente verossímil pelas mãos do diretor Sidney Lumet. As ações inconsequentes, aliadas a uma situação absurda em que o par de protagonistas prende o espectador como poucas produções conseguiram no cinema contemporâneo de suspense. Como resultado, Fonda foi indicada pela sétima vez ao Oscar, concorrendo novamente como Melhor Atriz, com sincero merecimento.
+1
Barbarella (1968)
– por Leonardo Ribeiro
A sequência dos créditos iniciais desta adaptação dos quadrinhos de Jean-Claude Forest, na qual a “astronavegadora” Barbarella realiza um striptease de seu traje espacial em gravidade zero, marcaria para sempre a carreira de Jane Fonda. Dirigido pelo francês Roger Vadim, o longa serviu como veículo para alçar a atriz, então casada com o cineasta, ao posto de símbolo sexual, tal qual fizera com sua ex-esposa, Brigitte Bardot. Entre as diversas leituras que acumulou ao longo dos anos – muitos a apontam como exemplo da objetificação da mulher no cinema, outros defendem a personagem como um símbolo da libertação sexual feminina da década de 1960 – a obra acabou ganhando status cult, com seu visual kitsch e psicodélico, sendo lembrada como um produto representativo da cultura de sua época – dos hippies, do amor livre etc. A confusa trama sobre um cientista que ameaça a galáxia com uma arma de destruição, o “raio positrônico”, serve mais como desculpa para que Fonda desfile sua beleza hipnotizante, e ela provavelmente nunca esteve tão bela, se comprometendo com o absurdo do roteiro e entregando uma atuação carregada de inocência, que, em meio ao conteúdo erótico e aos diálogos de duplo sentido, imprime um charme cômico particular à experiência.
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