O número de prêmios conquistados em mais de 20 anos de carreira não mentem: Javier Bardem é um dos atores mais competentes e requisitados do mundo. São 83 estatuetas (incluindo um Oscar) e outras 47 indicações. Porém, não são apenas estes números que definem sua excelência. O espanhol começou a despontar para Hollywood e o mundo quando interpretou o poeta cubano Reinaldo Arenas em Antes do Anoitecer (2000), mas, antes, ele já havia trabalhado com cineastas espanhóis de peso como Manuel Gómez Pereira (o maior exemplo é Entre as Pernas, 1999), Bigas Luna (A Teta e a Lua, 1994, e Jamón Jamón, 1992) e Pedro Almodóvar (Carne Trêmula, 1997).
Após sua ascensão além das terras hispânicas, Bardem soube intercalar papeis de destaque em dramas menores e blockbusters, participando de filmes como Vicky, Cristina, Barcelona (2008), sua primeira parceria com Woody Allen; a comédia romântica Comer, Rezar, Amar (2010), ao lado de Julia Roberts; 007: Operação Skyfall (2012), interpretando um dos maiores vilões da carreira de James Bond; e, é claro, Onde os Fracos Não Tem Vez (2007), que lhe garantiu seu primeiro Oscar. O sexy espanhol completa 45 anos no dia primeiro de março de 2013. Para homenageá-lo, a equipe do Papo de Cinema resolveu fazer aquela lista com cinco de seus melhores filmes – e um, é claro, que merece ser lembrado.
Antes do Anoitecer (Before Night Falls, 2000)
Por Renato Cabral
“Leonardo da Vinci foi homossexual, assim como Michelangelo, Sócrates, Shakespeare e quase toda outra figura que veio a formar o que conhecemos como beleza”, narrou Javier Bardem ao interpretar o poeta cubano Reinaldo Arenas em Antes do Anoitecer. Assim como todos estes grandes artistas, o escritor também era gay e aqui, em filme, o diretor Julian Schnabel constrói um retrato da vida e morte de Reinaldo, dando a Bardem um espaço grandioso para explorar sua performance. O ator não deixa barato e entrega uma atuação minuciosa e dedicada de Arenas, tanto que acabou indicado ao Oscar de melhor ator. Detalhe para a evolução do poeta que o ator bem constrói, passando de um dos rebeldes de Fidel, o começo do seu envolvimento com seu primeiro amor, Pepe, e os seus anos na prisão, escrevendo cartas, culminando depois nos anos em que morou em Nova York.
Segunda-Feira ao Sol (Los Lunes al Sol, 2002)
Por Marcelo Müller
Em Segunda-Feira ao Sol, Javier Bardem interpreta Santa, homem arrasado pela crise financeira que abate violentamente a cidade costeira em que vive. Antes funcionário do estaleiro local, agora um desempregado sem qualquer perspectiva, ele passa os dias tentando preencher o vazio. Relutante em admitir fracassos, sejam eles profissionais ou mesmo sentimentais, Santa se torna uma espécie de líder dos “derrotados”, sempre bradando contra o sistema que lhe tirou o sustento, afundando cada vez mais numa autocomplacência que busca esconder profundas frustrações. Segunda-Feira ao Sol é um filme de forte cunho social, no qual se mostra exemplarmente, primeiro à dedicação quase única e exclusiva das classes menos favorecidas ao trabalho (consequência da alienação), e, segundo, à desolação resultante do descarte compulsório desta mesma classe, irremediavelmente agredida pelo sistema capitalista. Sem erguer panfletos ou bradar ideologias, evitando assim chamar atenção demasiada para si enquanto veículo, Segunda-Feira ao Sol apresenta a sociedade (via as pessoas que a formam) como vítima de processos que ela utiliza de maneira (auto) predatória para, paradoxalmente, sobreviver.
Mar Adentro (Mar Adentro, 2004)
Por Conrado Heoli
Duas das mais importantes figuras do cinema contemporâneo espanhol fizeram de Mar Adentro uma obra excepcional: Javier Bardem e Alejandro Amenábar. Neste tocante drama, Bardem reconstrói em muitas nuances a triste história de Ramón Sampedro, pescador com talento para a poesia que aos 26 anos sofreu um grave acidente e ficou quadriplégico. Aos 54, dependendo de sua família e amigos para sobreviver, ele conhece a advogada Julia e uma instituição que defende a eutanásia, quando decide travar uma batalha judicial para conquistar o direito de terminar com sua própria vida. Na performance que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza em 2004, Javier Bardem reiterou seu talento para papeis desafiadores e complexos – em seguida o ator foi cooptado de uma vez por todas pelo cinema norte-americano. O trabalho de Amenábar privilegia em totalidade a entrega de Bardem na composição de um personagem com tamanha força vital, que torna amarga a experiência do espectador em acompanhar este homem lutando para deixar um universo que ficaria muito mais vazio e triste sem ele. Venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, porém merecia também uma indicação ao prêmio de Melhor Ator.
Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country For Old Men, 2007)
Por Rodrigo de Oliveira
O título em português pode ter sido até bem bolado, mas nada reproduz tão bem o âmago desta obra dos irmãos Ethan e Joel Coen quanto o original No Country for Old Men. Nos olhos cansados do xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) podem-se observar toda a experiência de um homem calejado pela vida, mas que não consegue entender ou suportar viver em um mundo em que a violência é praticamente uma força incontrolável. O Texas em 1980, retratado em Onde os Fracos Não Têm Vez, pode realmente não ser um lugar para velhos. E este é um dos pensamentos filosóficos do personagem tão bem encarnado pelo sempre competente Tommy Lee Jones. Apesar da excelente performance, o filme é realmente de Javier Bardem. Sua atuação como Anton Chigurh, o psicopata fora de órbita, não foi imensamente elogiada e premiada à toa. Cada vez que o ator aparece em cena, temos certeza de que algo vai acontecer com quem se meter em seu caminho. Mesmo que nem sempre isso aconteça, a presença ameaçadora de Bardem o coloca no hall de grandes serial killers do cinema. O personagem lhe rendeu sua primeira estatueta dourada no Oscar e abriu caminho para muitos outros papéis interessantes em Hollywood.
Biutiful (Biutiful, 2010)
Por Yuri Correa
Triste, a ponto de ser opressivo, Biutiful é aquele filme que tenta ser complexo apenas através do melodrama, confundindo o fato de um nem sempre um significar o outro. E caso não contasse com uma performance extraordinária de Javier Bardem, este sim, multifacetado e profundo em sua composição, o filme de Alejandro González Iñárritu seria apenas artificial ao tentar arrancar lágrimas de seu espectador. Pai de duas crianças e diagnosticado com câncer terminal, Uxbal é um homem dividido entre os filhos, com quem tenta desesperadamente uma última ligação antes de morrer, e os meios que possui para sobreviver, seja ou ajudando a manter em cativeiro imigrantes ilegais, ou como médium interligando recém-falecidos e seus parentes. Desta maneira, é sintomático que o personagem logo se encontre às vésperas de sua morte, uma vez que sua ligação com esta última é muito mais forte do que a que tem com seus filhos, que deveriam representar sua nova chance e um recomeço. Triste e soturno, Bardem constrói este Uxbal duplamente ancorado em extremos num filme que, infelizmente, tenta tragá-lo apenas para um dos lados, sendo aquele raro sorriso que divide com os filhos em certo instante uma bem vinda boia salva-vidas.
+1
Jamón, Jamón (Jamon Jamon, 1992)
Por Danilo Fantinel
Javier Bardem é hoje um dos maiores símbolos sexuais do cinema e muito disso deve-se a Jamón, Jamón, o filme de Bigas Luna que deu visibilidade ao ator então em início de carreira. No longa, Bardem é Raul, um comerciante do típico presunto cru espanhol contratado pela industrial Conchita (Stefania Sandrelli) para afastar Silvia, interpretada pela também iniciante Penélope Cruz, de seu filho José Luis (Jordi Mollà). Grávida de José, Silvia não é bem-vinda na família, pois sua mãe, Eva (Anna Galiena), foi amante de Manuel (Juan Diego), atual marido de Conchita. Confuso? Pois a esta trama de sexo sobrepõe-se uma nova rede de relações quando Silvia e Conchita apaixonam-se pelo guapo Raul, enquanto José mantém um tórrido romance com Eva, dona de um prostíbulo nos arredores de Madri. Encontros e desencontros colocam em ebulição o já caliente sangue espanhol, e o resultado não poderia ser outro que não a tragédia. Se Bigas Luna dedica-se às pulsões sexuais em obras como As Idades de Lulu (1990) e Son de mar (2001), em Jamón, Jamón o cineasta alinhava o desejo carnal à própria pulsão de morte, possibilitando a Bardem explorar as facetas de um sedutor que transita entre a frieza do interesse calculado e o calor da paixão verdadeira.
Últimos artigos de (Ver Tudo)
- Top 10 :: Dia das Mães - 12 de maio de 2024
- Top 10 :: Ano Novo - 30 de dezembro de 2022
- Tendências de Design de E-mail Para 2022 - 25 de março de 2022
Deixe um comentário