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5+1 :: Jeff Bridges

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Seguir a carreira da família é a coisa mais comum no mundo. Em Hollywood, então, nem se fala. Mas nem todos conseguem ser mais famosos que o próprio. Se Lloyd Bridges se tornou mais popular na televisão, o filho mais novo, Jeff Bridges, alçou o estrelado no cinema mainstream. Já quando tinha dois anos de idade fez uma pequena ponta. A partir dos anos 1960, seus papeis começaram a aumentar até estrelar sua primeira grande produção no cinema em 1971, quando já foi indicado ao Oscar. Desde então, transitou entre vários papeis, dos menos glamourosos aos que aparece bem vestido e como verdadeiro galã. Já ganhou 29 prêmios e foi indicado em outros 64, sempre com personagens desafiadores que fazem emanar seu talento. No dia 4 de dezembro o ator completa mais um aniversário e a equipe do Papo de Cinema lhe homenageia com a escolha de seus cinco melhores trabalhos e mais um que merece atenção especial. Confira!

 

A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show, 1971)
– por Marcelo Müller
O hoje consagrado Jeff Bridges era praticamente um iniciante em 1971. Mesmo assim, aceitou o convite do diretor Peter Bogdanovich para ser um dos protagonistas deste filme baseado no livro homônimo, escrito por Larry McMurtry. O clássico da nova Hollywood, que mostra a juventude ávida por transcender os limites do pensamento interiorano de Anarene, a cidadezinha melancólica pela iminente última sessão no cinema local, catapultou o ator que partiu dali para uma carreira farta e multifacetada. Combatendo o modorrento cotidiano com as idas ao cinema e ao bar para jogar sinuca, seu personagem, junto do amigo de quem é bastante distinto emocionalmente, enfrenta diversos ritos de passagem. A projeção de Rio Vermelho (1948), a derradeira da sala de exibição antes de as luzes se apagarem definitivamente, assim como a inocência que esmaece frente à necessidade de crescer, são símbolos dessas transições que trazem consigo o peso da ausência e das responsabilidades. O desejo pela adolescente vivida por Cybill Shepherd, mais precisamente a descoberta do amor e do sexo, expõe a proximidade da vida adulta. A despeito da pouca idade, Jeff Bridges representou toda uma geração que ansiava crescer, na mesma medida em que temia a maturidade e suas consequências.

 

Starman: O Homem das Estrelas (Starman, 1984)
– por
Jeff Bridges era apenas o filho mais talentoso do grande Lloyd Bridges, com apenas duas indicações como Coadjuvante ao Oscar, quando aceitou o convite do diretor John Carpenter – mestre do Cinema B – para ser o protagonista deste conto romântico a respeito de um alienígena que, ao chegar na Terra, assume a forma do marido recém falecido de Jenny (Karen Allen, de Os Caçadores da Arca Perdida, 1981), que, confusa entre o susto e encanto, irá ajudá-lo a cumprir sua missão pelo nosso planeta. Bridges ofereceu tanto calor humano ao seu extraterrestre que o tornou um personagem real, de peso e profundidade, com o qual era possível o público se identificar, por mais fantasiosa que sua história fosse. Um desempenho que combinou sensibilidade com atitude, marcando sua presença e postura através de pequenos detalhes, fortemente calcados em seu forte olhar e a determinação em busca de seus objetivos. Com isso, Bridges voltou ao prêmio da Academia, desta vez estreando na categoria principal, além de ter concorrido também ao Globo de Ouro, ainda mais em um gênero pouco afeito a esse tipo de reconhecimento. Um feito que ninguém esperava vir desse jovem que ainda teria muito o que revelar nos anos seguintes.

 

 O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1998)
– por Leonardo Ribeiro
Jeffrey Lebowski (Jeff Bridges), ou The Dude, é um desempregado boa vida que passa  a maior parte do tempo bebendo seu white russian e jogando boliche com amigos. Quando é confundido com um milionário cuja esposa foi raptada, e dois bandidos urinam no tapete de seu apartamento, The Dude vai ao encontro do verdadeiro Lebowski, que o contrata como detetive particular. Ao aceitar o cargo, The Dude se vê em meio a um intrincado mistério, que envolve ainda uma gangue de niilistas, uma artista performática e um figurão da indústria pornográfica. Imprimido seu humor típico, Joel Ethan Coen escrevem e dirigem esta comédia de erros – que brinca com os arquétipos do film noir – repleta de personagens peculiares e de um imenso apuro estético. Num elenco de nomes habituais na filmografia da dupla, como John Goodman, John Turturro e Steve Buscemi, Jeff Bridges consegue se destacar no papel principal, o primeiro sob o comando dos Coen. Com um visual desleixado – barriga saliente, barba e cabelos longos, óculos escuros, roupão e chinelos – e a fala mansa de quem está eternamente chapado, Bridges construiu uma figura marcante, que ultrapassou a barreira do cinema para se tornar um ícone da cultura pop. 

 

Coração Louco (Crazy Heart, 2009)
– por Rodrigo de Oliveira
Turnês lotadas, rios de dinheiro, mulheres bonitas a sua volta. Tudo isso está longe de ser a realidade do decadente músico de country Bad Blake (Jeff Bridges). Famoso no passado, mas amargando hoje o peso da velhice e do esquecimento, Blake segue fazendo shows minúsculos em espeluncas no interior dos Estados Unidos e enxugando toda a bebida que vê pela frente. Uma chance de mudança se abre quando ele conhece a jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal), com quem logo começa um romance, e quando pensa em voltar a colaborar com seu antigo pupilo (esse sim, bem-sucedido) Tommy Sweet (Colin Farrell). Em poucas palavras, este é o longa-metragem dirigido pelo estreante Scott Cooper e que deu o primeiro e único Oscar a Jeff Bridges. O ator sempre teve uma queda pela música e sua performance como Bad Blake é excepcional em vários níveis. Ele consegue passar amargura e tédio ao chegar em mais uma espelunca para tocar suas músicas, transmite charme com as mulheres, mesmo que esse charme seja um tanto antiquado, é competente ao comunicar ao espectador em poucos gestos o seu desagrado em ter de sucumbir às ofertas de Tommy Sweet. E, finalmente, dá um show no palco com ótimas canções.

 

Bravura Indômita (True Grit, 2010)
– por Yuri Correa
Datado do final da década de 1960, o Bravura Indômita (1969) original de Henry Hathaway, era um reflexo claro da decadência que alcançara o gênero dos westerns uma vez que o programa espacial estava garantindo a popularidade e a disseminação de filmes de ficção científica. Decadente, porém só na temática, não na qualidade, uma vez que já iniciava trazendo o “herói” Rooster Cogburn (o icônico John Wayne, ninguém melhor), como a figura do outrora irretocável cowboy, fragilizado perante um júri, sendo repreendido por seus métodos e estampando no rosto um tapa-olho digno dos piores vilões do gênero. É, portanto, interessante que os irmãos Coen tenham decido trazer a história do velho Cogburn de volta ao cinema, agora vivido pelo eterno Dude, Jeff Bridges. Diferente de Wayne e o ressentimento que trazia ao personagem, Bridges o impregna de austeridade e astúcia, dignos do personagem que teve mais de cinquenta anos para amadurecer no imaginário toda uma nova geração de realizadores. Indicado a Melhor Ator pelo projeto apenas um ano depois de ter sido premiado com o careca dourado, acabou não levando, infelizmente. 

 

+1

 

O Pescador de Ilusões (The Fisher King, 1991)
– por
Um filme no qual o finado Robin Williams faz o papel de um mendigo à beira da loucura por conta da morte da esposa poderia facilmente ter como destaque o astro que transitava entre a comédia e o drama com facilidade. Mas quem chama tanto a atenção nesta produção é o nosso homenageado na pele de Jack, um famoso locutor de radio que larga a profissão quando debocha de um atormentado homem no ar e causa uma tragédia. Três anos depois e sendo sustentado pela namorada, ele encontra Parry (Williams), um mendigo esquizofrênico que logo o ex-radialista descobre ser viúvo de uma das vitimas de seu trauma. Através da culpa, Jack faz de tudo para ajudar o pobre homem, mesmo que ele acabe descobrindo no caminho que necessita de mais auxilio ainda para se livrar do passado e recomeçar a vida. Terry Gilliam mistura drama e comédia de uma forma deliciosa neste filme com dois grandes atores liderando um embate apaixonante de ideias. No caso de Jeff Bridges, seu Jack transita da depressão para a negação e consequente aceitação de sua condição de uma forma tão sutil que um grande ator poderia encontrar equilíbrio em um personagem tão multifacetado. Apesar de ter sido indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical por conta deste longa, com o tempo o papel foi esquecido perante tantos outros trabalhos magistrais de Bridges. Porém, é sempre um prazer rever este longa que sabe olhar o lado positivo da alma humana.

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