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5+1 :: Jennifer Jason Leigh

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Há atrizes que são reconhecidas pela simples menção do nome. Outras, por melhores que sejam, não tiveram a sorte de sempre estrelarem produções badaladas ou serem indicadas em grandes premiações. Jennifer Jason Leigh pertence a esta segunda categoria e não há nenhuma crítica sobre isto. Muito pelo contrário. Seu jeito discreto, da beleza comum ao próprio fato de não querer chamar muito a atenção, sempre lhe deixou no meio do caminho com uma variação bem grande entre filmes de destaque e outros que nem vale a pena lembrar. Após muitos anos, a atriz finalmente foi indicada ao Oscar por sua excepcional atuação em Os Oito Odiados, mas este não é o único longa-metragem que vale a pena ver da intérprete. Muito pelo contrário. No dia cinco de fevereiro, Leigh completa mais um aniversário e nós resolvemos retomar cinco de alguns de seus melhores trabalhos e mais um que merece atenção especial. Confira!

 

Mulher Solteira Procura… (Single White Female, 1992)
Se Jennifer Jason Leigh ainda não tinha caído na boca do público, foi graças a este suspense com ares de Brian De Palma que seu nome começou a ser reconhecido. No papel de Hedra, mulher misteriosa que atende o chamado de Allison (Bridget Fonda) para dividir um apartamento, a atriz realiza um trabalho notável de megalomania escondido sob um olhar sedutor e dissimulado. Pois é na relação das duas, que vai se tornando muito mais uma simbiose do que amizade (ainda mais com as estranhas manifestações de Hedra) que o thriller vai se construindo, tornando a dupla quase uma só. Tanto que chegamos ao clímax quase sem saber quem é a vilã e quem é a mocinha da história. Aliás, há alguma? O longa tem seus defeitos, mas as duas atrizes dão um show com suas persnagens. Leigh, especialmente, se transforma em outra aos poucos, deixando o lado sombrio de Hedra seduzir não apenas Allison como o próprio público. Ainda que o filme não seja um sucesso de crítica, sua atuação foi muito festejada, sendo indicada pelos críticos de Chicago como uma das melhores do ano e ainda tendo vencido o prêmio de Melhor Vilã no MTV Movie Awards daquele ano. – por Matheus Bonez

 

Shortcuts: Cenas da Vida (Short Cuts, 1993)
A personagem de Jennifer Jason Leigh em Shortcuts: Cenas da Vida, filme de Robert Altman baseado na obra de Raymond Carver, no qual se entrelaçam diversas histórias, fragmentos que, juntos, formam uma imagem crua e pessimista do cotidiano estadunidense, é uma profissional do sexo, mas não uma convencional.  Lois é atendente de serviços de sexo por telefone. Ela fala obscenidades, geme, entre outras interações verbais com seus clientes, só que na frente dos filhos pequenos, quando não amamentando o menor, ainda bebê. A situação é aceita a contragosto pelo marido, Jerry (Chris Penn), que, por sua vez, trabalha limpando piscinas. A ocupação insólita da personagem de Leigh é apenas um dos indícios da representatividade dela para o mosaico de Altman, diretor que, mesmo quando deflagra o ridículo, nunca faz de suas criaturas alvos de zombaria ou algo que o valha. Jennifer Jason Leigh, cuja carreira alterna, nem sempre regularmente, bons e maus papeis – menos por sua capacidade e talento, mais pelos tipos nem sempre dotados de potencial que ela acaba aceitando interpretar – imprime muita personalidade nessa figura emblemática do filme-coral de Altman. – por Marcelo Müller

 

eXistenZ (1999)
Allegra Geller (Jennifer Jason Leigh) é uma renomada designer de games prestes a lançar sua mais nova criação, eXistenZ. Durante um evento de divulgação, ela sofre um atentado realizado por fanáticos opositores à realidade virtual e foge acompanhada pelo segurança Ted Pikul (Jude Law). Quando os dois decidem testar o jogo, os limites entre real e virtual se tornam cada vez mais nebulosos e perigosos. David Cronenberg trabalha novamente com as transformações do corpo resultantes de processos físicos e psicológicos em uma trama intrincada e repleta de reviravoltas. Neste universo grotesco e surreal, típico do diretor, a personagem de Jennifer Jason Leigh surge como alguém que domina o trânsito entre a realidade e a fantasia, mas que aos poucos se perde neste caminho, passando a questionar a veracidade de tudo que a cerca. Esse estado de desorientação transparece na atuação da atriz, que também exala a sensualidade necessária para retratar a relação com o personagem de Law e a ligação carnal, de forte apelo sexual, entre máquina e seres humanos, representada pelo console do videogame que é ligado diretamente ao corpo do jogador. Um trabalho de fina complexidade, que coloca Leigh como uma das figuras femininas marcantes da obra de Cronenberg. – por Leonardo Ribeiro

 

O Operário (The Machinist, 2004)
Ok, a atração principal de O Operário é Christian Bale e seu absurdo emagrecimento para o papel de Trevor, um operador de máquinas industriais que certo dia deixa um acidente acontecer com o seu colega de trabalho. Insone há quase um ano, como revela em determinado momento, ele acusa ter sido distraído por um funcionário que não existe, enquanto percebe estranhas pistas em sua rotina de que algo está errado. Disposto a ajudá-lo, há Stevie (Jennifer Jason Leigh), uma prostituta que atende em casa e tem em Trevor o seu cliente favorito. É inegável que Stevie tem importância ímpar para o arco do protagonista. Não é somente a única voz lúcida em tela, servindo de âncora na realidade para ele, como também sua consciência distante, dizendo com calma e carinho através de uma voz rouca, que está na hora de levar uma vida normal, tentando-o, convidando-o e finalmente decretando que o operário deixe a culpa de lado, ainda que ele faça isso não exatamente do modo como ela planejara. – por Yuri Correa

 

Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015)
Bonita sem se encaixar na beleza padrão norte-americana, marcada por corpos esguios e rostos perfeitos, Jennifer Jason Leigh se aproveita do alto poder de atuação, da voz peculiar e da personalidade autêntica para assumir papéis fortes. Assim, dá vida a personagens que muitas vezes trilham o caminho tênue entre genialidade e loucura, equilíbrio e abismo. Em Os Oito Odiados (odiosos seria a tradução mais correta do original inglês), a atriz interpreta Daisy, figura central ao redor da qual orbitam todos os homens da narrativa western tarantinesca. Capturada para ser trocada por uma valiosa recompensa, Daisy é uma das líderes de um bando de perigosos foras da lei dos quais muitos querem se livrar. Com poucos diálogos, a personagem revela sua ironia, excentricidade, periculosidade e desprezo pela organização social e por qualquer tipo de autoridade apenas com olhares felinos, sorrisos tortos, comentários sarcásticos e movimentos contidos. Quando dá voz ao texto cáustico do cineasta, Jennifer personifica a própria fúria erínia. Com uma atuação excepcional, proporcionada apenas por atrizes raras, merece o Oscar de coadjuvante ao qual foi indicada. – por Danilo Fantinel

 

+1

Margot e o Casamento (Margot at the Wedding, 2007)
Este título reside na lista dos filmes ainda mais esquisitos do diretor Noah Baumbach, mas que ainda assim decide tratar de um tema bem corriqueiro: a família. Nicole Kidman interpreta a personagem título que decide levar seu filho para visitar a tia, Pauline, interpretada de forma carismática por Jennifer Jason Leigh. Mas quando as duas irmãs se encontram, alguns acontecimentos do passado aos poucos vão sendo desenterrados. O humor ácido e cinismo que a personagem de Kidman apresenta contrasta de forma excepcional com a personalidade calma e sincera sem ser estúpida de Pauline. Leigh encontra uma personagem que poderia cair no ostracismo se mal performada, mas nas suas mãos ganha uma faceta quase que inesquecível. Em parte, talvez, se deva ao fato do elenco ter convivido e morado junto por alguns dias que antecederam as filmagens. O resultado é que a dupla Kidman e Leigh tem uma ótima química nesta produção que merece ser redescoberta. – por Renato Cabral

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