O maior astro de Hollywood! Nascido em 16 de março de 1926, Joseph Levitch – ou apenas Jerry Lewis, como o mundo inteiro o conhece – foi o maior nome do cinema popular norte-americano entre os anos 1950 e 1960. Comediante, ator, cantor, roteirista, diretor e produtor, Lewis conheceu se deu bem em todos os meios pelos quais se aventurou, seja nos palcos, na televisão, na indústria musical ou na tela grande. Em 1946, ele e Dean Martin formaram uma dupla que reinou por uma década e estrelou nada menos do que 16 filmes! O último foi Ou Vai Ou Racha (1956), já lançado com os dois separados. Mas se os fãs ficaram temerosos com o que o futuro poderia reservar a eles, para Lewis esse foi o começo de período de ainda maior consagração, em que diversificou sua atuação tanto na frente como atrás das câmeras. Curiosamente, o sucesso junto ao público não se refletiu com a crítica, que o acusava de se repetir sem muita criatividade – foi preciso cruzar o Atlântico para que nomes como François Truffaut e Jean-Luc Godard, que escreviam para a prestigiada revista francesa Cahiers du Cinema, o chamassem, enfim, de gênio. Em 2016, Jerry Lewis completa 90 anos, e ainda que suas aparições públicas tenham diminuído bastante nos últimos tempos, ele marcou presença até numa comédia brasileira – Até que a Sorte nos Separe 2 (2013) – e ainda nesse ano voltará às telas em um thriller ao lado de Nicolas Cage! Em homenagem à todo esse fôlego e incomensurável talento, apresentamos aqui o melhor de Jerry Lewis!
Passados dois anos do fim da longa parceria com Dean Martin, Jerry Lewis repetiu a colaboração com o diretor Frank Tashlin nesta trama sobre uma grande estrela do cinema, Carla Naples (Marilyn Maxwell), que descobre uma gravidez inesperada. Considerando a maternidade um risco para sua carreira, ela pede ajuda a um antigo conhecido de sua pequena cidade natal, o ingênuo Clayton Poole (Lewis), apaixonado pela atriz desde a infância. Clayton aceita o pedido e passa a viver diversas confusões tentando cuidar dos três bebês, além de fugir das investidas românticas de Sandra (Connie Stevens), irmã caçula de atriz. Tashlin explora as inúmeras facetas de Lewis para criar momentos antológicos, como aquele em que Clayton praticamente destrói um quarteirão inteiro da cidade com uma mangueira de bombeiros. Outra cena clássica é a de Lewis em um aparelho vazio de TV fingindo ser parte da programação. O ator brilha também nos números musicais, como o da bela canção “Dormi-Dormi-Dormi”, ao lado do cantor de ópera italiano Salvatore Baccaloni, ou ainda numa hilária paródia a Elvis Presley. Divertido e encantador, o longa se tornou um dos favoritos entre os fãs do comediante, especialmente no Brasil, onde foi campeão de reprises nas tardes televisivas. – por Leonardo Ribeiro
Admirado por muitos, considerado um dos grandes atores/diretores cômicos do cinema, Jerry Lewis interpreta (também) o mensageiro do Hotel Fontainebleu, na festiva Miami deste filme dirigido por ele próprio. O funcionário não fala muita coisa, seguindo seu dia a dia de trabalho silenciosamente, comunicando-se no mais das vezes apenas por meio de caretas e peripécias. Ele inevitavelmente atrai confusão, personificando aquela máxima de que se uma coisa pode dar errado, ela vai dar errado. Tudo se complica ainda mais quando o grande astro Jerry Lewis (sim, ele mesmo) chega para hospedar-se no hotel. Mesmo quando fala que precisa descansar, que está estafado em virtude da trágica morte da tia, o ator provoca risos histéricos dos admiradores e puxas-saco que o acompanham. A graça deste longa-metragem está na dinâmica estabelecida entre os dois homens interpretados por Lewis, guardadas as devidas proporções e diferenças, algo próximo do que rege a dupla formada pelo barbeiro judeu e por Hynkel, em O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin. Por conta da óbvia semelhança física, o ator (personagem) começa a ter problemas em sua estadia, enquanto o empregado segue sua rotina de mensageiro. Jerry Lewis mostra aqui não somente seu talento frente às câmeras, mas suas destacadas qualidades de realizador. – por Marcelo Müller
“Você trabalha aqui? É um vendedor?”, pergunta uma cliente para um atrapalhado Jerry Lewis, vestido como se fosse a um safari. “Só se eu vender alguma coisa!”, responde ele. Neste longa-metragem lançado em 1963, Lewis é Norman Phiffier, um sujeito desengonçado e pobretão que conquista o coração da bela Barbara (Jill St. John), herdeira de uma cadeia de lojas. Quem não gosta da ideia da filha estar junto de um homem de uma faixa social diferente é sua mãe, a senhora Tuttle (Agnes Moorehead). Para provar à Barbara que aquele sujeito não presta, ela consegue um trabalho em uma das lojas, na certeza que de que ele se mostrará inapto. O começo é turbulento, mas logo Norman – do seu jeito – toma conta da situação. Jerry Lewis já havia se provado um sucesso sem seu parceiro Dean Martin no final da década de 1950 e consegue aqui mais um memorável show de risadas. Dirigido por Frank Tashlin, o comediante conquista o espectador com gags certeiras, como a cena da máquina de escrever invisível ou a do aspirador de pó incontrolável. Tudo vale para o riso e Lewis estava no topo nesta época. – por Rodrigo de Oliveira
Quando Dean Martin e Jerry Lewis se separaram, em 1956, muitos se perguntaram qual seria o futuro dos dois astros. Enquanto o primeiro não conseguiu se diversificar e acabou virando estrela de televisão, o segundo mostrou força e talento para ser ainda maior sozinho do que em dupla. E um dos filmes fundamentais para essa consagração foi justamente esse, levemente inspirado no clássico O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Ao contrário das comédias rasgadas às quais seu público estava acostumado a vê-lo até então, Lewis aparece aqui como dois personagens: o atrapalhado professor Julius Kelp e o conquistador irresistível Buddy Love. Se um é ridicularizado pelos próprios alunos e desprezado pelos colegas, o outro surge como o seu inverso, galanteador e autoconfiante até demais. O problema é justamente esse – se na superfície a balança pende para o mais descolado, será na personalidade sensível e delicada que o tímido mestre em química guardará seu trunfo. Além de estrelar, Lewis é também o diretor e o roteirista dessa fábula de risos contidos e profundas camadas de leituras, que consegue transmitir sua mensagem com leveza, porém nunca incorrendo num discurso leviano. Um belo exemplo de comédia que permanece atual até hoje. – por Robledo Milani
Em uma das raras comédias comandadas por Martin Scorsese, Robert De Niro interpreta o comediante de stand up Rupert Pumpkin. Seu sonho é ser famoso como seu grande ídolo, o apresentador de talk show Jerry Langford (Jerry Lewis), e para isso ele basicamente passa a perseguir o sujeito, achando que os dois teriam se tornado amigos depois de terem uma breve conversa. No fundo, o que temos aqui é um conto sobre a relação dos fãs com seus ídolos, sobre como o desejo das pessoas de se tornarem seres humanos como aqueles que elas admiram pode ultrapassar limites e virar algo doentio. Scorsese conta essa história através de uma narrativa ágil e bem humorada, sem se esquecer de dar peso às figuras que passam pela tela. E se De Niro capricha em seu trabalho como o admirador obcecado, nosso homenageado não fica atrás no papel do astro perseguido, criando um personagem que fica longe da leveza que mostra em seu programa, revelando uma exaustão com o próprio show business, detalhe que culmina em sua principal cena, quando desabafa em um belo monólogo. – por Thomas Boeira
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A estreia do iugoslavo Emir Kusturica em Hollywood não foi nada óbvia: um conto sombrio e fantasioso sobre um rapaz órfão que larga sua vida na cidade grande atendendo a um chamado de um tio distante e, uma vez ao lado dele, acaba se perdendo de amores entre duas mulheres. Para o protagonista, o neo-astro Johnny Depp, recém saído de Edward Mãos de Tesoura (1990). Os papéis femininos ficaram com a oscarizada Faye Dunaway e com a revelação Lily Taylor. Faltava apenas essa figura paterna, um tanto infantil, mas cuja afeição seria irresistível. Portanto, que acerto terem chamado Jerry Lewis para o papel. O veterano estava há exatamente uma década sem um papel de destaque na tela grande e este retorno aqui pode até ter sido tímido, porém de grande impacto, ao lado de nomes de respeito e de novos talentos que se consagrariam nos anos seguintes. Lewis fica pouco tempo em cena, mas tanto sua participação como esquimó nos sonhos do protagonista – em que improvisa um diálogo impagável – como ao personificar o tio Sweetie, vendedor de cadillacs noivo de uma adolescente imigrante, é impossível não se comover com seu olhar terno e contagiante alegria. Tanto no drama como na comédia. – por Robledo Milani