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5+1 :: Jessica Lange

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Ela já foi alvo da paixão de um gorila e até uma bruxa suprema. Jessica Lange transita por diversos papeis em quase 40 anos de carreira. A maior parte, com elogios da crítica. Isto que a ainda então modelo, na sua estreia nas telonas, tenha sido execrada pelos especialistas justamente no remake de King Kong (1976). Após um tempo sem trabalhos, nos anos 1980 ela voltou com tudo para participar de produções de alto nível e que mostraram ao mundo seu talento. Logo conquistou seu primeiro Oscar, prêmio que levaria mais uma vez no início dos anos 1990. Nestas quase quatro décadas, além dos prêmios da Academia, foram 40 estatuetas conquistadas, além outras 50 indicações em trabalhos para o cinema e a televisão.

Por sinal, após um tempo sumida das telas desde o início do século XXI, Jessica Lange voltou com força na telinha, virando diva da nova geração por suas participações impactantes nas temporadas da série American Horror Story, tendo aparecido em quatro temporadas e conquistando público e mais prêmios. No dia 20 de abril, a bela atriz completa mais um aniversário. Para comemorar uma personalidade marcante como ela, a equipe do Papo de Cinema escolheu seus cinco melhores trabalhos no cinema – e mais um que merece atenção especial. Confira!

 

Frances (1982)
Por Marcelo Müller

Jessica Lange foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por conta da interpretação de Frances Farmer, nome de grande destaque na Hollywood de outrora, embora pouco familiar às novas gerações. Frances chamava atenção não apenas pelo talento, ou pela beleza, atributos que lhe eram peculiares. Esquerdista, sincera e com uma personalidade forte, sofreu na pele o preço de remar contra a maré, de comportar-se de maneira singular num mundo, já naquela época, formatado pelos agentes, os magos do marketing, enfim, por todo aparato responsável pela permanência dos astros num firmamento artificial. Lange vive com intensidade em Frances as fases de sua personagem, abordando com sutilezas até mesmo os turbulentos episódios envolvendo internação psiquiátrica e os embates com a mãe que expressava quando podia todo desgosto por ter uma filha comunista. Frances, até hoje figurante nas páginas negras da Meca do cinema norte-americano, mulher completamente à frente de seu tempo (quiçá até do tempo em que vivemos, no qual as celebridades ostentam imagens são cada vez mais pasteurizadas), ganha no corpo, no olhar e nos trejeitos emulados pela grande atuação de Jessica Lange, uma homenagem à altura de sua importância.

 

Tootsie (1982)
Por Rodrigo de Oliveira

Quando pensamos em Tootsie, é muito fácil lembrar da performance genial de Dustin Hoffman como o ator que, em um momento de desespero e desemprego, se veste como uma mulher para conseguir um papel em uma novela. O desempenho de Hoffman lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar e é, certamente, um dos grandes personagens de sua carreira. Com direção de Sidney Pollack, o longa foi indicado a 10 prêmios da Academia, mas acabou convertendo apenas um em prêmio. E quem recebeu a estatueta foi Jessica Lange, como Melhor Atriz Coadjuvante, levando seu primeiro Oscar – ela já havia sido indicada antes em Frances (1982). Em Tootsie, Lange vive a atriz Julie Nichols, mulher por quem o personagem de Hoffman está apaixonado, mas que não pode se declarar por estar se fazendo passar de mulher. O mais engraçado nesta história é que Julie começa a ficar interessada pela versão feminina daquele homem, a deixando bastante confusa. Em ótima atuação, Lange faz dobradinha perfeita com Hoffman – que solta uma daquelas frases inesquecíveis: “Eu fui um melhor homem com você vestido de mulher do que eu jamais fui com outra mulher vestido de homem”. Imperdível.

 

Muito Mais do que um Crime (Music Box, 1989)
Por Robledo Milani

Jessica Lange foi, ao lado de Meryl Streep e Glenn Close, uma das grandes estrelas do cinema norte-americano nos anos 1980. Sua popularidade talvez nunca tenha atingido o efeito que a primeira mantém até hoje, mas certamente se saiu melhor do que a segunda em termos de respaldo da crítica. Após ganhar seu primeiro Oscar logo no começo da década, enfileirou um trabalho de sucesso atrás do outro. E mesmo tendo atuado sob o comando de nomes como Sam Shepard, Taylor Hackford e Bruce Beresford, lhe faltava se aliar a um realizador de respeito internacional: exatamente o que acontece neste drama de tribunal dirigido pelo grego Costa-Gavras sobre uma advogada que assume a defesa do próprio pai, acusado de uma série de crimes de guerra e, à medida que aprofunda suas investigações, vai descobrindo verdades cada vez mais assustadoras sobre o passado de sua família. Ainda que o roteiro de Joe Eszterhas (Instinto Selvagem, 1992) seja hábil em manipular a curiosidade do espectador, é no jogo de atuações de Armin Mueller-Stahl e, principalmente, Lange, que reside o maior interesse da trama. Ela, aliás, conquistou merecidamente sua quinta indicação ao maior prêmio do cinema mundial por este impecável desempenho.

 

Cabo do Medo (Cape Fear, 1991)
Por Conrado Heoli

Em determinado momento de Cabo do Medo, thriller de Martin Scorsese, a esposa da família Bowden (interpretada por Jessica Lange) olha para sua figura no espelho, pinta seus lábios e parece tentar decifrar todos os males que a cercam e sua vulnerabilidade para proteger a si mesma e a sua família de uma ameaça crescente. Esta é a atmosfera que acompanha protagonistas e espectadores neste angustiante suspense, onde um estuprador condenado (Robert De Niro) é livre da prisão e persegue o advogado (e a esposa e a filha deste, vividas por Lange e pela jovem Juliette Lewis) que supostamente foi responsável por sua condenação. Scorsese desvia dos problemas da versão original de O Círculo do Medo (1962), dirigida por J. Lee Thompson e protagonizada por Gregory Peck e Robert Mitchum, e conduz rigorosamente a produção, onde se destacam um elenco afinado, a magistral trilha de Bernard Hermann e a montagem afiada de Thelma Schoonmaker. Lange pode ter sido esnobada no Oscar e Globo de Ouro (De Niro e Lewis receberam indicações por suas performances), mas é impossível desviar de seu magnetismo e imponente presença, assim como sua entrega e disposição para sequências complexas, onde revela todas as nuances que a qualificam como uma excepcional atriz.

 

Céu Azul (Blue Sky, 1994)
Por Robledo Milani

Depois de permanecer na ‘geladeira’ de Hollywood por mais de três anos, este longa – o último dirigido por Tony Richardson, que morreu de AIDS em 1991 – chegou finalmente aos cinemas em 1994. A demora não foi causada por nenhum problema em particular da produção, mas sim do estúdio – Orion Pictures – que foi à falência durante a sua realização. E mesmo tendo custado relativamente pouco, cerca de US$ 16 milhões, o longa precisou esperar até ser adquirido por outra distribuidora que se responsabilizasse pelo seu lançamento. E ninguém pode agradecer mais por esta decisão – a de finalmente oferecer uma luz ao projeto – do que os fãs de Jessica Lange. Ainda que apresente performances competentes de nomes como Tommy Lee Jones, Powers Boothe e Chris O’Donnell, a grande estrela é mesmo Lange, que rouba a atenção a cada momento em cena como essa dona de casa à beira da esquizofrenia que, para fugir dos conflitos morais e éticos da marido militar, decide viver em um mundo de fantasia habitado por estrelas de cinema – as quais ela incorpora com perfeição. Tal versatilidade não só lhe valeu seu segundo Oscar, como também o Globo de Ouro e o prêmio dos críticos de Los Angeles.

 

+1

Terras Perdidas (A Thousand Acres, 1997)
Por Matheus Bonez

Antes de enfrentar alguns fracassos de crítica e público em 1998 com filmes como A Vingança de Bette e Segredo de Sangue (este, inclusive, lhe valeu uma indicação ao Framboesa de Ouro), Jessica Lange mostrou, mais uma vez, porque é uma das atrizes mais respeitadas de Hollywood. Terras Perdidas não fez muito barulho, apesar de ter levado a atriz ao Globo de Ouro com uma lembrança na categoria de atuação dramática. Nesta espécie de Rei Lear passada numa fazenda de Iowa, ela é a primogênita de Larry Cook (Jason Robards), o dono da propriedade onde duas de suas três filhas moram. Quando o pai resolve dividir as terras entre o trio, a mais nova (Jennifer Jason Leigh), acaba excluída da partilha por questionar a divisão. A guerra silenciosa fica entre Ginny (Lange) e Rose (Michelle Pfeiffer). Além dos acres do título original, elas também dividem a atenção do mesmo homem (Colin Firth). Porém, a relação com o pai – e seus traumas – une as duas. E é justamente quando este problema do passado começa a aflorar que as atuações desabrocham, especialmente por parte da nossa homenageada, que dosa bem a introspecção de sua personagem com a explosão de sentimentos que acontece por parte das conturbadas relações estabelecidas. Mais um trabalho de Jessica Lange que merece estar entre os pontos altos de sua filmografia.

 

 

 

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