Sabe aqueles atores que são eternamente subestimados por estarem “presos” a um papel só (ao menos, mediante a avaliação de alguns)? Jim Carrey sofre desta sina por ser um comediante da unha do mindinho até o último fio de cabelo. Após estourar no final da primeira metade da década de 1990 com filmes como Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros, logo foi taxado de mais um careteiro produzido por Hollywood. Ledo engano, meus caros. Este ator pode ser tudo, menos qualquer um. Não à toa que, quando desvia para outros gêneros, todos ficam espantados com sa veia dramática.
O resultado disso tudo são dois Globos de Ouro, outros 43 prêmios e 73 indicações – que até incluem o Framboesa de Ouro, mas isso sabemos que é pura implicância. Em 2014, Carrey voltou com tudo comemorando 20 anos de um dos seus primeiros sucessos com a continuação Débi & Lóide 2 (2014), arrancando mais risadas do público. E para comemorar o aniversário do astro no dia 17 de janeiro, a equipe do Papo de Cinema resolveu relembrar quais são seus cinco melhores filmes e mais aquele que merece uma segunda chance. Confira!
Há personagens que são feitos para uma pessoa específica interpretar. Com Ace Ventura, não poderia ser diferente. No ano em que estourou, este foi um dos três grandes sucessos de Jim Carrey a encher os cofres das bilheterias. Na pele do detetive de animais que precisa investigar o sumiço do golfinho mascote de um time de futebol, o ator dá um show de caretas e expressões engraçadas que fizeram sua marca na história das comédias dos anos 1990 e do início dos anos 2000. Tudo no filme é exagerado, mas com Carrey no modo palhaço, quem disse que isso é ruim? Seja dando em cima da personagem de Courteney Cox, nos seus “diálogos” com os outros animais do filme ou tirando sarro da polícia, o interprete mostra que rir é o melhor remédio, mesmo que a trama soe absurda e, ao mesmo tempo, babaquinha demais. Mas não duvide: Ace Ventura é aquele tipo de filme que dá para ver várias vezes, independentemente de seu conteúdo. Só por apresentar este comediante nato já vale a espiada por si só. – por Matheus Bonez
O ano era 1994. Jim Carrey havia invadido os cinemas com a comédia amalucada Ace Ventura, uma verdadeira surpresa nas bilheterias, em fevereiro. Mas nada comparado ao megassucesso que viria alguns meses depois, em julho. Baseado em quadrinhos pouco conhecidos, mas com efeitos visuais de ponta para a época, O Máskara era a confirmação do estrelato do comediante canadense em Hollywood. Dirigido por Chuck Russell, e apresentando pela primeira vez a beldade estonteante de Cameron Diaz, o longa-metragem do herói mascarado que combate o crime enquanto tira sarro de suas “vítimas” encontrou em cheio o seu público. O talento cômico de Carrey com suas caretas era perfeito para o personagem, que precisava de um ator com expressões elásticas para convencer. E se como o Máskara o ator era uma metralhadora giratória de gags, como Stanley Ipkiss, seu alterego, Carrey caprichava na doçura daquele perdedor nato. Pena que o sucesso retumbante da empreitada não deu start para uma sequência de valor. O Filho do Máskara (2005) é uma piada de muito mau gosto e, felizmente, caiu no esquecimento. Depois da continuação que Débi e Loide, também de 1994, ganhou vinte anos depois de seu lançamento, resta a torcida para um retorno de Jim Carrey a um de seus papéis mais bacanas. Será que rola? – por Rodrigo de Oliveira
Truman é um daqueles personagens que desafiam Jim Carrey a ser o ator versátil que na verdade ele é, não só aquele com uma excelente veia cômica que costuma desfilar. Aqui o ainda academicamente injustiçado ator usa tanto da comédia quanto de seu peso no drama para criar o homem da caverna de Platão, que começa a perceber que as sombras talvez sejam indícios de um mundo muito maior lá fora. Criado desde pequeno dentro de um reality show, Truman não sabe que sua vida toda é televisionada mundialmente. O show da vida então se converte em uma comovente história quando enxergamos nós mesmos nos esforços do protagonista para assumir o controle de seus atos. Em si, O Show de Truman seria apenas um fime leve, mas por ser tão poderoso ao levantar diversas discussões que vão muito além da simples crítica as culturas de massas, é também uma ferramenta filosófica eficaz, profunda e complexa como toda boa obra de arte. Com certeza, um dos maiores acertos de Carrey. – por Yuri Correa
Jim Carrey já foi um ator subestimado por muitos. Na verdade, ele ainda é, como se sua fama de comediante careteiro (e dos bons) o impossibilitasse de ser eficiente em trabalhos mais sérios. Aliás, “eficiente” nem chega a ser a palavra certa, mas sim “excepcional”, e O Mundo de Andy foi uma das grandes provas disso. Dirigido pelo renomado Milos Forman, o filme é a cinebiografia de Andy Kaufman, artista que fez fama entre as décadas de 1970 e 1980 com suas apresentações e por seu jeito excêntrico de agir, sendo que aqui é feito um retrato muito humano de um indivíduo que boa parte das pessoas não compreendia. Nisso, Jim Carrey aparece para brilhar em uma atuação absolutamente fantástica. Atores poucos talentosos buscariam imitar os trejeitos da figura real que estão interpretando, mas nosso homenageado praticamente se torna Andy Kaufman diante de nossos olhos, encarnando-o com uma naturalidade impressionante, além de mostrar honestidade e segurança admiráveis. Uma atuação estupenda, que na época merecia até ter sido lembrada no Oscar. Felizmente, premiações não são tudo no cinema, e o trabalho de Carrey foi aplaudido de pé pela maior parte das pessoas. – por Thomás Boeira
Jim Carrey é conhecido principalmente por seu trabalho na comédia, por interpretar personagens que esbanjam caretas e se comportam de maneira exagerada, mas que, ainda assim, fazem a gente rir. Contudo, talvez buscando não ficar excessivamente preso ao gênero, ele saiu muitas vezes desta zona de conforto a fim de aceitar desafios como o proposto pelo personagem Joel, um dos protagonistas de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Carrey interpreta esse cara melancólico, apaixonado por qualquer mulher que lhe dê um pouco de atenção, e que recorre a um procedimento novo para apagar da memória o relacionamento que teve com Clementine (Kate Winslet). Carrey mostra o quão versátil é como ator, alternando momentos de introspecção e tristeza com instantes nos quais extrai graça da jornada que ele empreende pelas lembranças fugidias da amada, ela que também resolveu esquecê-lo. E talvez seja por isso mesmo que Joel seja o melhor trabalho de Carrey no cinema, pois com ele consegue ser completamente diferente do habitual, mesmo mantendo sua essência de comediante. Aqui, o palhaço está mais propenso ao choro do que ao riso. – por Marcelo Müller
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Vendido equivocadamente como apenas mais uma comédia escrachada estrelada por Jim Carrey, esta interessante produção baseada no livro de Steve McVicker – uma história surpreendentemente inspirada em um episódio real – se aproxima mais, na verdade, dos longas ditos “sérios” do comediante, como O Show de Truman (1998) e O Mundo de Andy (1999). Ao contrário destes, no entanto, o ator não encontrou o respeito da crítica ou o entusiasmo do público com o qual estava acostumado. Como resultado, tem-se o filme de menor bilheteria de toda a sua carreira – pouco mais de US$ 2 milhões arrecadados nos EUA e cerca de US$ 20 milhões em todo o mundo. Algo a se lamentar, pois acima de tudo isso significa que muitos se recusaram a assisti-lo em um dos seus desempenhos mais corajosos e versáteis. Steven Russell, seu personagem, era um trambiqueiro inveterado, mas também um homem apaixonado (pelo Phillip Morris do título original, interpretado com graça e entusiasmo por Ewan McGregor) e persistente, que não desistia de nada nem de ninguém. A divertida Leslie Mann (como sua primeira esposa) e o brasileiro Rodrigo Santoro (como um dos namorados de Russell) abrilhantam ainda mais o elenco deste longa dirigido com precisão por Glenn Ficarra e John Requa (a mesma dupla do ótimo Amor a Toda Prova, 2011). Uma pequena e impressionante pérola, que merece como poucas outras em sua filmografia ser descoberta. – por Robledo Milani