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De família envolvida com a sétima arte, entre pais e irmãos, John Cusack não poderia ter escolhido outra profissão que não ator para cravar seu nome no meio hollywoodiano. Típico boa praça, é daqueles intérpretes carismáticos que não escolhe muito a dedo seus trabalhos, fazendo pontas ou papeis importantes para amigos em obras de gosto duvidoso muitas vezes. O que pode parecer uma crítica, mas na verdade ele parece ser meio desligado com a fama ou a opinião dos críticos: o ator faz o que está afim e ponto. O que não quer dizer que muitas obras suas não mereçam também um carinho especial, muito pelo contrário. Nascido em 28 de junho de 1966, o ator está prestes a completar mais um aniversário, oportunidade perfeita para a equipe do Papo de Cinema fazer jus à sua carreira e escolher cinco (e mais um, é claro) daqueles longas essenciais de sua obra. Confira!

 

20150622 51 john cusack papo de cinema 3Digam o Que Quiserem (Say Anything…, 1989)

Estreia de Cameron Crowe como diretor, Digam o Que Quiserem é uma produção que se destaca dentro do gênero de filmes de adolescentes. Aqui, John Cusack interpreta Lloyd Dobler, rapaz apaixonado pela colega Diane Court (Ione Skye) e que começa a sair com ela logo depois de eles se formarem no ensino médio. Mas enquanto ele tenta conquista-la naquele que é seu primeiro relacionamento sério, ela está prestes a embarcar na jornada universitária, o que não lhes dá muito tempo juntos. Crowe trata com propriedade as inseguranças trazidas pelo período de transição da adolescência para a fase adulta, ao mesmo tempo em que desenvolve com sensibilidade os protagonistas e seus dramas pessoais. Nisso, Cusack e Skye se destacam ao trazer um carisma essencial para os personagens, sendo que nosso homenageado, em especial, faz de Lloyd um ótimo apoio emocional para sua colega de cena. E assim, Cusack viu sua carreira ser catapultada rumo ao estrelato. – por Thomás Boeira

 

20150622 51 john cusack papo de cinema 4Os Imorais (The Grifters, 1990)

No final dos anos 80, John Cusack havia se tornado um dos astros mais queridos do público americano, especialmente por comédias como a já citada Digam o Que Quiserem. Na virada da década, o reconhecimento como ator dramático veio com Os Imorais, thriller neo-noir que marcou a primeira parceria do ator com o cineasta britânico Stephen Frears. A trama, baseada no romance de Jim Thompson, se passa no submundo dos trapaceiros profissionais, mostrando a relação entre um trio de personagens: Roy (Cusack) vigarista inseguro que vive de pequenos golpes, Myra (Annette Bening) mulher atraente que esconde muito mais do que aparenta e tem um relacionamento com Roy, e Lilly (Anjelica Huston) veterana golpista e mãe de Roy, que trabalha lavando dinheiro para a máfia em corridas de cavalos. Filmando com muito estilo e elegância, Frears transporta para as telas um universo amoral fascinante, guiado pelas ótimas reviravoltas do roteiro, incluindo um final impactante e surpreendente, e pelo incrível trabalho do elenco, com Bening e Huston sendo indicadas ao Oscar por suas atuações. Para alguns, Cusack acaba eclipsado por suas colegas de cena, mas sua interpretação é precisa, com um personagem que mantém alguma inocência em meio a uma teia cruel de traições. – por Leonardo Ribeiro

 

20150622 51 john cusack papo de cinema 5Tiros na Broadway (Bullets Over Broadway, 1994)

Muitos atores que trabalham sob a batuta de Woody Allen acabam “o imitando”, trazendo para suas interpretações alguns trejeitos e tiques característicos do nova-iorquino. John Cusack não fugiu disso, pois seu autor teatral às voltas com a montagem de uma peça é um decalque alieniano, diga-se, dos mais memoráveis e inteligentes. Do alto de sua pretensão artística (traço ironizado ao longo dos anos em diversos filmes de Allen), ele se vê completamente enamorado por sua protagonista, pressionado pela máfia que financia a apresentação a incluir no elenco uma atriz evidentemente inexpressiva, além de tragado pelas diversas confusões que vão surgindo durante os ensaios. Cusack constrói um personagem no limite entre a insegurança e a certeza de fazer algo relevante. As interações com o gângster metido a dramaturgo vivido por Chazz Palminteri derrubam gradativamente suas máscaras, ajudando-o a desconstruir uma autoimagem idealizada, a entender que a felicidade possuiu diversos caminhos e que, talvez, aceitar a própria condição (sem tanto talento) não seja necessariamente jogar a toalha, mas sim viver com menos pressões internas. A tarimba de John Cusack não permite que a caricatura se instaure, o que certamente é determinante para a maravilha que vemos na tela. – por Marcelo Müller

 

20150622 51 john cusack papo de cinema 7Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich, 1999)

Spike Jonze tomou o mundo de surpresa em 1999 com sua estreia em longas-metragens. Com roteiro de Charlie Kauffman, o filme é tão criativo quanto seu título pressupõe, colocando John Malkovich em uma versão de si mesmo tendo de lidar com pessoas entrando em seu cérebro e vivendo sua vida. Tudo começa quando o titereiro Craig Schwartz (John Cusack) descobre uma passagem secreta para a cabeça do ator hollywoodiano enquanto trabalhava no enigmático andar 7 ½. Interessado em pular a cerca e se envolver com sua colega de trabalho Maxine (Catherine Keener), Schwartz abre a mente de Malkovich à ele, mas acaba percebendo não muito tempo depois que o tiro saiu pela culatra. Indicado a três Oscars e a dezenas de prêmios ao redor do mundo, o filme tem uma das melhores atuações de John Cusack, impecável como o impulsivo Craig Schwartz. Dos prêmios aos quais esta produção foi indicada, Cusack foi lembrado pelos críticos de Londres, que o colocaram na lista dos melhores atores do ano. Participar do filme foi uma vontade do intérprete, que pediu ao seu agente o roteiro mais maluco que ele pudesse encontrar. Calhou de ser este primeiro e imperdível trabalho de Spike Jonze. – por Rodrigo de Oliveira

 

20150622 51 john cusack papo de cinema 6Alta Fidelidade (HIgh Fidelity, 2000)

Em mais uma parceria com o diretor Stephen Frears, John Cusack encarna o dono da loja de discos Rob Gordon na adaptação do romance de Nick Hornby. Em crise sobre o que fazer da vida, com o estabelecimento cada vez mais vazio e o estresse crescente, o protagonista toma um belo pé na bunda da namorada, Laura (Iben Hjejle). Viciado em listas, seja das melhores músicas para um funeral ou dos cinco melhores empregos que poderia ter, ele resolve verificar quais foram seus cinco maiores foras de namoradas. Além de tudo, vai atrás de cada uma para saber onde errou e, assim, reconquistar Laura. Mesmo que ele demore a perceber porque quer tanto isto. Cusack torna Rob um cara como qualquer outro em sua posição, alguém indeciso, inseguro, atacado, apaixonado. Mais humano e crível do que muita gente do lado de cá da tela. Afinal, como não sofrer por amor? Fazendo analogias diretas com a música, o roteiro faz uma pergunta interessante a partir de Rob e os milhares de versos românticos que povoam os ouvidos de todos ao longo da história: afinal, se ouve musica pop por ser infeliz ou se é infeliz por ouvir música pop? Pode parecer bobo e exagerado demais, mas quem disse que a paixão não é assim mesmo? – por Matheus Bonez

 

20150622 51 john cusack papo de cinema 8+1

Matador em Conflito (Grosse Pointe Blank, 1997)

Nesta comédia de humor negro, John Cusack é Martin Blank, um matador profissional que está em conflito com a vida que leva, tem uma relação excêntrica com o psiquiatra e ainda é perseguido por um rival. Tudo isso em meio a reunião de dez anos de formatura do ensino médio, onde ele reencontra uma antiga paixão, Debi (Minnie Driver), o que dá mais motivos para conflitos internos. muitos tiros, mortes e sacadas recheadas de absoluto sarcarmo, Cusack dá voz ao seu personagem com aquela cara de “boy next door” que o ator sempre carrega, mas nem por isso menos talentoso. Bem pelo contrário, cai como uma luva para seu protagonista que tenta levar a vida como qualquer outro ser humano, mesmo que sua profissão não seja das mais agradáveis. O longa fez um relativo sucesso na época, mas acabou esquecido com o tempo e retomado anos depois com status de comédia cult. Pode não chegar a tanto, mas o roteiro inteligente e divertido faz com que seja daquelas comédias boas de se assistir sempre, seja tendo o filme em casa ou quando se está zapeando à procura de algo interessante na televisão. Um achado que merece ser redescoberto. – por Matheus Bonez

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