Ele dirigiu apenas 8 longas-metragens, e em apenas sete anos. Mas, certamente, é um dos mais celebrados realizadores que Hollywood já teve. Isso, é claro, para qualquer um que tenha estado bem atento ao que de melhor a cultura pop tinha a oferecer durante os anos 1980. John Hughes pode nunca ter sido indicado ao Oscar – ou a qualquer outro prêmio – mas é adorado por milhares de pessoas, fãs e admiradores, que ainda hoje lembram em detalhes de cada uma das tramas que criou. Como esquecer de personagens como Ferris Bueller, da inacreditável Mulher Nota Mil, da pequena Malandrinha ou do quinteto formado por Andy, Richard, Brian, John e Claire? E se formos além, nos debruçando sobre alguns dentre as dezenas de projetos em que se envolveu apenas como roteirista, quem por aqui não tem uma boa lembrança da Garota de Rosa-Shocking, das férias frustradas da família Griswold, da paixão secreta por alguém muito especial ou do pequeno Kevin McCallister quando, sozinho em casa, havia se dado conta que tinham esquecido dele? Pois todos nasceram no coração e na mente de Hughes, o homem de mais de US$ 2 bilhões nas bilheterias de todo o mundo que, no entanto, nos deixou precocemente, com apenas 59 anos, no dia 06 de agosto de 2009. Portanto, na data em que, se vivo, comemoraria mais um aniversário, segue aqui nossa homenagem com alguns dos seus trabalhos imprescindíveis – além daquele que merece ser (re)descoberto. Confira!
Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles, 1984)
Traduzir uma das fases mais complicadas da vida. Assim se pode definir o trabalho de John Hughes, que já tinha seu foco bem definido logo em sua estreia como diretor. Como protagonista, temos aquela que seria a “mocinha” mais frequente dos filmes do diretor, a então jovem atriz Molly Ringwald, que encarna com naturalidade a madura e apaixonada Samantha, que vê seu aniversário de 16 anos ir por água abaixo devido ao casamento de sua irmã. Como todos os heróis criados por Hughes, a garota terá de fazer do limão uma limonada para não tornar uma data tão importante uma lembrança péssima e ele constrói isso com muita música, apostas e alívios cômicos bem ao gosto adolescente, neste caso presente no personagem Ted. Apesar do roteiro bem construído, o filme funciona como uma prévia das temáticas que fariam parte dos trabalhos seguintes do diretor, em especial a boa construção dos estereótipos juvenis, que mesmo trajando roupas típicas da década de 80, ainda permitem uma identificação com o público atual. Afinal, apostas, bullying e paixões não correspondidas existem desde que a adolescência foi inventada e Hughes fez um retrato do seu tempo sem deixar de ser atemporal. – por Bianca Zasso
Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985)
Um cérebro. Um atleta. Uma desajustada. Uma princesa. E um criminoso. John Hughes era o diretor que capturava de forma mais correta a adolescência norte-americana dos anos de 1980. Nesta produção, lançada em 1985, o cineasta juntou cinco estereótipos em um cenário apenas (a biblioteca de um colégio) e conseguiu destrinchá-los, mostrando ao espectador que jovens são muito mais do que um rótulo apenas. O criminoso poderia ter muito mais em comum com a princesa do que poderíamos imaginar de começo. É uma história de formação, que constrói e desconstrói os dramas adolescentes na velocidade de uma música pop. O elenco, formado por rostos que viriam a ser referência do gênero naquela década, defende seus papéis de forma muito madura. Embora seja encaixado como comédia adolescente, tem momentos dramáticos fortes, como quando aqueles jovens abrem seus medos para seus colegas. Um dos maiores temores é envelhecer e perder o brilho da vida. “Quando crescemos, o coração morre”. Um choque geracional que é bem construído na relação entre os estudantes e o diretor do colégio, a figura de autoridade que representa a vida adulta. Hughes dirigiu um jovem clássico que, como clama a música tema Don’t You (Forget About Me), nunca esqueceremos. – por Rodrigo de Oliveira
Mulher Nota Mil (Weird Science, 1985)
Abraçando a fantasia sem pudores, John Hughes realizou aqui aquele que talvez seja seu trabalho mais descompromissado. A história sobre dois jovens nerds, Gary (Anthony Michael Hall, ator-símbolo do universo do diretor) e Wyatt (Ilan Mitchell-Smith) que resolvem criar a mulher perfeita utilizando um computador, trata novamente das mazelas da adolescência, porém, diferente do clássico absoluto Clube dos Cinco, lançado no mesmo ano, desta vez Hughes opta por uma abordagem totalmente cômica, muito menos realista ou reflexiva. Mesmo tendo um de seus roteiros mais frágeis, o longa se vale da habilidade de Hughes como narrador e do humor nonsense para criar cenas que marcaram a geração oitentista, como o ritual da criação (quando os garotos usam sutiãs na cabeça), homenageando A Noiva de Frankenstein (1935), a primeira aparição da estonteante Kelly LeBrock – que com este filme e com A Dama de Vermelho (1984) tornou-se uma das musas da década – ou a festa que termina com a invasão de uma gangue de motoqueiros e o surgimento de um míssil no meio da sala. Para completar, ainda temos as participações de Robert Downey Jr. e Bill Paxton (impagável) e a icônica música tema, Weird Science, sucesso do Oingo Boingo, banda do compositor Danny Elfman. – por Leonardo Ribeiro
Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off, 1986)
O cineasta, roteirista e produtor John Hughes pode ser considerado um dos grandes cronistas da juventude norte-americana dos anos 80. Muitos podem torcer o nariz para essa sentença, exatamente porque Hughes fazia um cinema extremamente popular. Ora, não há nada de errado, ou de menor, em saber se comunicar com as massas, desde que haja, como neste grande filme, um estofo de qualidade. Ferris Bueller é um ícone desse cinema oitentista, uma das figuras mais emblemáticas de/para uma juventude que cresceu admirando suas artimanhas para faltar aula a fim de aproveitar um pouco a vida. Mas, para além de todo o aspecto de entretenimento, este longa-metragem é mais um tijolo na construção de Hughes de uma visão amarga e irônica do ambiente escolar secundarista estadunidense. A sempre conturbada relação entre pais e filhos também entra na baila. Ferris e seus amigos são filhos da geração denominada baby boomer, nascida em meio ou logo depois da Segunda Guerra, que passou a adolescência num ambiente de contracultura, mas que encaretou depois de adulta. Ferris rompe com isso, de maneira irreverente, mas não menos contundente, no fim das contas, que numa realização dramática e mais evidentemente comprometida com as mesmas questões. – por Marcelo Müller
Antes Só Do Que Mal Acompanhado (Planes, Trains & Automobiles, 1987)
Como um dos nomes mais celebrados do cinema da década de 1980, a quem é responsabilizado o retrato da juventude oitentista estadunidense, John Hughes é normalmente lembrado por filmes que trazem adolescentes e seu pequeno universo emocional como força motriz. Aqui, entretanto, é um tema ainda mais universal que garante o sucesso da empreitada, um que, de uma maneira ou outra, percorre todas as suas obras: a amizade. Pois quando Neal Page (Steve Martin) é forçado a viajar com um extrovertido vendedor chamado Del Griffith (John Candy), os dois prontamente passam a se detestar, começando a cumprir o que já era na época um arco clássico dos dois opostos que se tornam amigos, isso inserido em uma estrutura de road movies. Claro que além dos méritos de roteiro e direção de Hughes, é preciso reconhecer que ele tem aqui dois ótimos atores cômicos nas mãos, e se Steve Martin já tem seu talento mais atestado pelo público, talvez seja hora da nova geração (re)descobrir o hilário John Candy, que faz o seu Del fugir da caricatura fácil e se converter em uma criatura autêntica (e o que será que ele tinha naquele mala!?). – por Yuri Correa
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Ela Vai Ter Um Bebê (She’s Having a Baby, 1988)
É verdade que John Hughes é lembrado principalmente por sua maneira honesta e divertida de retratar a adolescência, mas a filmografia do cineasta não se reduz a essa fase da vida. Neste filme escrito, dirigido e produzido por ele, acompanhamos o jovem casal Jake (Kevin Bacon) e Kristy Briggs (Elizabeth McGovern) enfrentando os desafios do início da vida adulta. Embora o título sugira uma narrativa voltada apenas à questão da paternidade, o roteiro vai muito além; fala sobre o casamento, amor e relacionamentos em geral – e a dificuldade em deixar a vida de solteiro para trás – a construção de uma carreira profissional, responsabilidade, adaptação e amadurecimento. Além dos diálogos afiados característicos de Hughes, esta comédia romântica transita com uma facilidade invejável entre o dramático e o cômico, com alguns momentos genuinamente engraçados e outros literalmente angustiantes. Não tão cultuado como alguns dos outros trabalhos do realizador, este divertido filme ganha pontos, entretanto, pelo carisma do casal central e dos personagens secundários, particularmente o amigo sacana de Jake, Russ (um jovem Alec Baldwin). E mais: não saia da sala quando os primeiros créditos começarem a subir, pois há uma hilária cena extra, repleta de rostos familiares. – por Marina Paulista
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