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5+1 :: John Malkovich

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Nascido em 1953 em Illinois, Estados Unidos, John Malkovich desde pequeno mostrou aptidão para interpretar. Em 1976, começou em uma companhia de teatro criada pelo amigo Gary Sinise, e desde então não mais parou. Sua filmografia apresenta uma centena de créditos diferentes, em produções para o cinema e televisão, curtas, longas e seriados. Indicado duas vezes ao Oscar, concorreu outras três vezes ao Globo de Ouro e uma vez ao Bafta, além de ter ganho um Emmy, dois Independent Spirit e prêmios nos festivais de Munique, Locarno e Moscou, entre outros. Já foi apontado como um dos astros mais sexies de todos os tempos e foi dono de uma boate em Lisboa. Foi colega de escola de Joan Allen e foi premiado pelos críticos de Nova York por interpretar a si mesmo em um filme que leva o seu próprio nome! Trabalhou com diretores de renome e com novatos, se dá bem na comédia e no drama, topa fazer o protagonista ou até uma participação especial. E com um currículo tão variado, faz a alegria de milhares de fãs ao redor do mundo. É por isso que nesse 09 de dezembro, dia do seu aniversário, nós aqui no Papo de Cinema não poderíamos deixar essa data passar em branco, comemorando com uma seleção das cinco atuações mais marcantes do astro na tela grande, além de apontar aquele trabalho que até pode parecer óbvio, mas merece receber uma atenção especial. Confira!

 

Um Lugar no Coração (Places in the Heart, 1984)
– por Victor Hugo Furtado
John Malkovich era somente um ator que havia realizado alguns filmes para a televisão e uma pequena ponta em uma série de TV quando surgiu o convite para contracenar com a já então consagrada Sally Field e com o astro Danny Glover na produção que o tornaria, enfim, conhecido em Hollywood. No drama dirigido por Roberto Benton, Malkovich dá vida a Will, um humilde e um tanto ensimesmado camponês cego que trabalha na fazenda da caridosa viúva Edna Spaldin (Field). Além de atuar como um contraponto em cenas mais desgastantes, como quando a proprietária se depara com as adversidades econômicas e ele age de forma sábia e paciente, Malkovich revela uma incrível capacidade de aparar e preencher as lacunas de roteiro com frases sentimentais que, no entanto, não soam piegas. Como resultado de seu esforço estético e dramático, nesta que pode ser apontada como uma das atuações mais simpáticas de sua extensa carreira, foi indicado pela primeira vez ao Oscar, concorrendo como Melhor Ator Coadjuvante, fato que só voltaria a acontecer em 1994.

 

Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1988)
– por Matheus Bonez
A adaptação de Stephen Frears para o clássico romance de 1782, escrito pelo francês Choderlos de Laclos, é uma verdadeira ode aos jogos sexuais e de paixão através dos séculos. Atemporal, a trama em torno do acordo entre a Marquesa de Merteuil (Glenn Close) e o Visconde de Valmont (John Malkovich) para seduzirem e destruírem a vida amorosa de suas conquistas, especialmente a da Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer), é uma narrativa repleta de signos sobre as relações amorosas. E boa parte do charme da produção é contar com um elenco acima da média que interpreta, porque não dizer, atores e atrizes que desfilam veneno e personificam diferentes personalidades para conseguirem o que querem. Se Glenn Close está fatal, é sua química com nosso homenageado que norteia a produção. Malkovich consegue transitar entre a feminilidade e virilidade de seu personagem com tanta graça, sarcasmo e sedução que fica quase impossível para o próprio espectador não acreditar no que ele fala e diz sentir. Sem meias palavras, é um verdadeiro galinha mau caráter que todos adoram amar. Mesmo sem prêmios, é uma performance que fica na memória, especialmente de seus fãs.

 

O Céu que nos Protege (The Sheltering Sky, 1990)
– por Bianca Zasso
Inspirado no livro homônimo do americano Paul Bowles, o filme dirigido por Bernardo Bertolucci tem como protagonista Kit, interpretada por Debra Winger, mas é John Malkovich quem rouba a cena. Seu personagem, Port, que embarca para a África ao lado da esposa em busca de novas experiências e uma possível salvação para seu casamento em crise, tem nuances que são reveladas ao longo de sua jornada pelo deserto. A aridez do cenário é refletida na interpretação de Malkovich, já que Port acredita que viajar por uma estrada desconhecida pode reacender a paixão por sua mulher, apesar das tentações que surgem a cada curva. Por falar em tentação, o erotismo sempre presente nos trabalhos de Bertolucci é acentuado pelo permanente clima de sedução do longa-metragem. Não bastassem as paisagens grandiosas, fotografadas por Vittorio Storaro em tons alaranjados, o calor africano exala dos corpos dos atores nos mais diversos níveis, chegando ao seu ápice quando Port contrai febre tifoide e Kit se vê envolvida com um homem misterioso que lhe apresenta uma nova forma de lidar com sua sexualidade.

 

Na Linha de Fogo (In The Line of Fire, 1993)
– por Wallace Andrioli
John Malkovich interpretou alguns vilões em sua carreira. Mas nenhum tão memorável quanto Mitch Leary, o psicopata que atormenta Clint Eastwood nesse grande filme do diretor alemão Wolfgang Petersen (provavelmente seu melhor trabalho nos Estados Unidos). Eastwood vive aqui um veterano membro da guarda presidencial que, carregando o trauma pelo assassinato de John Kennedy, tem que lidar, algumas décadas depois, com novas ameaças à vida do governante de seu país. E essas ameaças vêm justamente de Leary, que Malkovich encarna como um sujeito sádico no total controle da situação. O ator consegue a proeza de, num filme de ação, ter uma presença de cena tão forte quanto Eastwood, ícone do gênero. E, num momento em que personagens psicopatas encontravam guarida na premiação da Academia – Anthony Hopkins por O Silêncio dos Inocentes (1991) e Robert De Niro por Cabo do Medo (1991) foram indicados em 1992, com o primeiro sagrando-se vencedor – Malkovich foi merecidamente nomeado ao Oscar de ator coadjuvante, tendo sido derrotado, injustamente, pelo homem da lei interpretado por Tommy Lee Jones em O Fugitivo (1993).

 

Um Filme Falado (2003)
– por Leonardo Ribeiro
Ao longo de sua carreira, John Malkovich sempre buscou diversificar suas experiências cinematográficas, saindo frequentemente de Hollywood para trabalhar com grandes cineastas ao redor do mundo. Dentre eles está o mestre português Manoel de Oliveira, que dirige o ator neste longa – terceira colaboração entre os dois depois de O Convento (1995) e Vou Para Casa (2001) – no qual possui o papel coadjuvante, mas fundamental, do Capitão John Walesa, comandante do navio que transporta a protagonista (Leonor Silveira), uma professora de História que viaja com a filha para a Índia. No trajeto de Lisboa a Bombaim, Oliveira faz paradas em pontos históricos das civilizações mediterrâneas para realizar uma belíssima reflexão sobre o tempo, a cultura, o futuro da humanidade e o papel de Portugal no cenário mundial. Malkovich surge já na metade da projeção, em uma sequência-chave que faz jus ao título, um longo diálogo poliglota com três musas – a francesa Catherine Deneuve, a italiana Stefania Sandrelli e a grega Irene Papas. Com sutileza, ar galanteador e até arriscando algumas palavras em português, Malkovich serve como guia e catalisador do debate proposto por Oliveira. Não à toa, é no olhar assombrado do ator que o cineasta fixa sua câmera durante o impactante desfecho.

 

+1

 

Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich, 1999)
– por Marina Paulista
E se, além de simplesmente apreciar os filmes de nosso homenageado, você tivesse a chance de visitar o cérebro dele? Esta é a premissa desta obra brilhantemente absurda. Com roteiro de Charlie Kaufman – um artista que tem certa afinidade com o realismo mágico e o surrealismo – a narrativa gira em torno de Craig Schwartz (John Cusack), um talentoso manipulador de marionetes. Incapaz de se sustentar apenas com sua arte, ele consegue um emprego num escritório bizarro, onde encontra, por acaso, um portal que o leva para a mente do ator John Malkovich (o próprio). Craig e uma misteriosa colega de trabalho, Maxine (Catherine Keener), resolvem, então, explorar o fenômeno e vender ingressos para a mente de Malkovich. A descoberta, entretanto, bagunça a dinâmica da dupla e cria um triângulo amoroso entre eles e a esposa do homem, vivida por Cameron Diaz. Boa parte das situações surreais que o filme coloca diante do público só funcionam, é claro, graças a Malkovich, que convence até quando interpreta sua versão ficcional sendo “controlada” por outros personagens, replicando até os maneirismos de outros atores. Uma das obras mais originais do cinema americano moderno, este longa é, ao mesmo tempo, cômico, trágico e absurdo.

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