John Travolta vive uma relação de amor e ódio com Hollywood. Quando foi descoberto no final dos anos 1970, ainda numa papel coadjuvante em Carrie: A Estranha (1976), sua carreira logo engrenou com sucessos musicais, uma indicação ao Oscar, e um ou outro drama mais denso. Logo quase caiu no ostracismo e só conseguiu um relativo sucesso comercial de volta quando retornou, alguns quilos acima do peso, chocando quem lembrava do corpo esbelto do início da carreira, com a comédia Olha Quem Está Falando (1989), que rendeu duas sequências. Porém, foi com Quentin Tarantino (em um dos filmes desta lista) que o ator atingiu o respeito quase absoluto da crítica e logo teve mais uma segunda indicação ao prêmio máximo da Academia.

Seguiram-se mais alguns bons papeis, como em A Outra Face (1997), O Quarto Poder (1997) e Segredos do Poder (1998), mas o ego inflado o fez apostar em A Reconquista (2000), um dos maiores fracassos da história e que lhe rendeu três Framboesas do Ouro, além do título de pior ator da década. É claro que, alguns anos depois, ele conseguiu “se redimir”, apesar da carreira bastante irregular entre bons e péssimos títulos. Porém, seu carisma continua imbatível e é quase impossível não gostar da presença de Travolta, mesmo que o filme seja ruim. No dia 18 de fevereiro ele completa mais um aniversário e, é claro, a equipe do Papo de Cinema resolveu comemorar com seus cinco melhores trabalhos – e mais um que merece uma nova chance. Confira!

 

Os Embalos de Sábado à Noite (Saturday Night Fever, 1977)
Por Matheus Bonez
Muitos podem chiar o quanto quiserem, mas uma coisa é fato: para o bem ou para o mal, este é um dos musicais mais marcantes da história do cinema, seja pela simplicidade de sua história, da trilha embalada pelos Bee Gees, as danças na boate 2001 e, é claro, pelo Tony Manero de John Travolta. Tudo em Os Embalos de Sábado à Noite remete à “febre” da disco, como o próprio título (também de uma dos hits da trilha sonora) sugere: ele é o retrato de um país cansado de guerras e escândalos políticos que prefere voltar os olhos para o escapismo. Afinal, tudo o que Tony Manero quer é isso: esquecer que trabalha em uma loja de tintas e que o pouco dinheiro que consegue é para ser o astro das pistas de dança do clube. É impossível não lembrar do longa, especialmente da sequência inicial com Travolta mostrando todo o seu gingado ao som de Stayin’ Alive. Não é nenhuma obra-prima, e talvez nem sua atuação seja das mais primorosas, mas o longa fincou o nome do ator em Hollywood, inclusive lhe valendo uma indicação ao Oscar. Um belo início de carreira.

 

Grease: Nos Tempos da Brilhantina (Grease, 1978)
Por Marcelo Müller
Grease: Nos Tempos da Brilhantina não cansa o espectador, mesmo com as repetidas audiências. A história de amor entre Danny (John Travolta) e Sandy (Olivia Newton-John) não tem nada de profundo. Quando muito, dá para tirar dali alguma observação a respeito de como o sexo era encarado entre as décadas de 1950 e 1960, com o puritanismo tentando segurar a onda dos hormônios. Mas, nada demais. O que importa mesmo é o desenho de personagens e situações, saturado pela encenação propositalmente exagerada que mostra essa geração da brilhantina e das corridas de automóvel em meio a números musicais que figuram entre os mais legais do cinema americano pós-Guerra. John Travolta interpreta o garoto que finge não estar nem aí para as meninas com as quais fica, tudo para fazer jus à fama de bad boy. Porém, aos poucos, a máscara cai em virtude do amor sentido pela personagem de Newton-John. A voz de Travolta pode até esganiçar nas notas mais altas, mas o carisma de seu personagem garante boa parte da graça desse filme que envelheceu muito bem e que lhe garantiu um lugar cativo na história do cinema.

 

Pulp Fiction: Tempo de Violência (Pulp Fiction, 1994)
Por Yuri Correa
Por maior que seja a quantidade de filmes na filmografia de Quentin Tarantino, em meio a tantas obras 10/10, Pulp Fiction: Tempo de Violência ainda é aquele que se destaca como uma 11/10. Escrito pelo próprio diretor, como todos os seus projetos, o longa-metragem acompanha diversas histórias que dependem e influenciam umas as outras. Envolvendo uma leva de diálogos inesquecíveis e reproduzidos em milhares de referência que só têm se multiplicado com o passar dos anos, o texto constrói piadas impagáveis sem necessitar dos recursos de punch line, apostando na interpretação que seu elenco dá àquelas falas para garantir uma comicidade. Entre os vários nomes e destaques do filme, encontra-se o nosso homenageado da semana e um dos mais memoráveis personagens dele, Vincent Vega. Capanga do chefão do crime Marsellus Wallace, ao lado de Jules (Samuel L. Jackson), o matador contrasta comicamente com seu colega de cena quando apresenta uma calma inerente à sua persona enquanto Jules se revela um inteligente e extrovertido assassino. Protagonista de algumas das melhores e mais icônicas sequências do filme, como aquela que envolve uma overdose, John Travolta tem ainda em Pulp Fiction uma de suas mais importantes realizações – e uma pela qual ganhou mais uma indicação ao Oscar.

 

O Nome do Jogo (Get Shorty, 1995)
Por Rodrigo de Oliveira
Depois de ter sua carreira renascida por Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), John Travolta viu aparecerem novos bons personagens para defender. E um dos primeiros desta nova leva foi, certamente, Chili Palmer em O Nome do Jogo, baseado no livro do saudoso Elmore Leonard. Travolta utiliza sua conhecida persona cool para viver um agiota que precisa coletar uma dívida em Hollywood. Palmer é fã de cinema e um de seus alvos é o medroso produtor Harry Zimm (Gene Hackman, hilário), sujeito afundado em dívidas. Os dois chegam a um acordo. Zimm produzirá uma ideia original de Palmer (um episódio da sua vida, na verdade) enquanto que o agiota ajudará o produtor a se livrar de um pesado débito com o mafioso Bo Catlett (Delroy Lindo), este também interessado em ingressar no mundo do cinema. O longa de Barry Sonnenfeld funciona muito bem pela ironia fina do roteiro, mostrando que a máfia e Hollywood não são tão diferente assim. Travolta lidera bem o elenco, que ainda conta com Rene Russo, Danny DeVito e James Gandolfini, dando a Chili Palmer confiança ímpar ao negociar com seus inimigos. Esqueça a continuação, Be Cool (2005), um arremedo do original.

 

Hairspray: Em Busca da Fama (Hairspray, 2007)
Por Robledo Milani
Alçado à posição de astro logo nos seus primeiros trabalhos, John Travolta teve que lutar durante muito tempo para desconstruir a imagem de galã e se mostrar um ator sério, capaz dos mais diversos tipos de personagens. Porém em nenhum destes trabalhos ele se demonstrou mais versátil do que nesta versão musical do sucesso levado às telas pela primeira vez duas décadas antes pelo sempre polêmico John Waters. Após interpretar dançarinos em busca da fama, matadores de aluguel, bombeiros, militares, serial killers, anjos, alienígenas e até o presidente da república, ele deixou fãs e admiradores do mundo inteiro boquiabertos ao aparecer como… a mãe (!) da protagonista – uma adolescente gordinha que sonha com o sucesso mesmo estando fora dos padrões de beleza impostos pela mídia. Ainda que escondido sob muita maquiagem e enchimento, a obesa Edna Turnblad que constrói se revela uma senhora dona de muita personalidade – como bem mostram os números Welcome to the 60s e (You’re) Timeless to Me, por exemplo – deixando seus medos e preconceitos de lado para lutar por um amanhã melhor para ela, sua filha e toda a sociedade. Defendendo com calor e paixão um personagem criado inicialmente pela travesti Divine, Travolta não só comprova o tamanho do seu talento (literalmente e figurado), como também deixa claro estar pronto para qualquer tipo de desafio.

 

+1

Um Tiro na Noite (Blow Out, 1981)
Por Thomás Boeira
Entre o final da década de 1970 e início da de 1980, John Travolta se encontrava em franca ascensão, e Um Tiro na Noite certamente é uma das produções que o ajudaram a ser reconhecido por seu talento. Aqui, ele interpretou Jack Terry, um captador de áudio para filmes de terror B que, em uma noite aparentemente tranquila, grava o som de um acidente de carro que resulta na morte de um candidato a presidência. Pela evidência que tem em mãos, o acidente parece ter sido um assassinato, e ele passa investigar o que aconteceu, tendo a ajuda de Sally (Nancy Allen), que estava no carro junto com a vítima. Influenciado pelo clássico Blow-Up: Depois Daquele Beijo (1966), de Michelangelo Antonioni, além do cinema de Alfred Hitchcock (de quem é fã declarado), Brian De Palma concebeu um suspense inteligente e cativante ao mesmo tempo em que contém uma tensão de tirar o fôlego, e encontra em John Travolta um protagonista à altura do projeto. O ator não só traz carisma e credibilidade ao personagem como também tem uma ótima dinâmica com Allen, fator responsável por boa parte da eficiência do arrebatador terceiro ato. Um Tiro na Noite é um filme admirável, e mostra que Travolta definitivamente já viveu dias bem melhores comparado com que anda fazendo atualmente.

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