Jude Law não é apenas um dos mais talentosos atores ingleses da atualidade. Bonito e charmoso, é presença constante nas listas de pessoas mais sexys do mundo a cada ano que passa. O que pode até parecer mediante o grau de maturidade com que o astro encara seus papéis na telona. Nascido em Londres, Law é daqueles intérpretes que não tem medo de “se enfeiar” para um bom papel, como provou com seu Karenin de Anna Karenina (2012). Indicado a dois Oscar, vencedor de dezessete prêmios e lembrado por mais de 50 vezes por suas atuações marcantes, o galã já provou diversas vezes que seu talento vai além do drama em comédias como O Amor Não Tira Férias (2006) e Alfie: O Sedutor (2004). Ao comemorar mais um aniversário neste dia 29 de dezembro, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger os cinco melhores filmes – e mais aquele especial, é claro –deste que é um dos melhores de sua geração. Confira!
– por Marcelo Müller
Neste filme, David Cronenberg parte dos jogos eletrônicos enquanto simulacros, cuja exacerbação embaralha existências sólidas e fantasiosas irrealidades. Elevado à instância sacrossanta, pois, assim como os mitos religiosos, ajuda a mitigar a dureza de viver, o game é apresentado numa igreja por Allegra Geller (Jennifer Jason Leigh), a maior programadora do planeta. Vítima de conspiração, ela foge com um estagiário de marketing, Ted Pikul (Jude Law), para salvaguardar sua mais nova criação, assim como o console feito de vísceras mutantes. Law interpreta com muita perspicácia esse homem promovido ao protagonismo quando violentamente deslocado de seu estado de conforto, colocado numa posição de constante tensão em meio a questões que imbricam real e virtual. Nesse mundo onde há anfíbios geneticamente alterados, matérias-primas tanto de armas alimentadas por dentes humanos quanto de iguarias exóticas, e pessoas que se conectam por meio de bio-portas instaladas na medula espinhal, o personagem de Law é o “estrangeiro” (mas não tanto) envolvido numa guerra declarada entre partidários e não partidários da deformação ocasionada pelo futuro. Sob a égide de David Cronenberg, Jude Law explicita com eficiência a curiosidade (geralmente perigosa) que sobrevém às cada vez mais profundas conexões com a virtualidade.
– por Conrado Heoli
Num elenco com Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Cate Blanchett e Philip Seymour Hoffman em atuações irretocáveis, Jude Law se sobressaiu com uma indicação ao Oscar e um prêmio BAFTA pela composição do enigmático Dickie Greenleaf, que consegue o feito de eclipsar o Ripley protagonista deste sofisticado estudo sobre um sociopata assassino. Considerada uma das mais fieis adaptações do romance escrito por Patricia Highsmith, este longa é clássico e elegante em todas suas nuances, seja no texto polido e direção correta de Anthony Minghella, na trilha sonora de Gabriel Yared ou na impecável ambientação de uma Itália nos anos 1950. Neste conto sobre classes sociais, dinheiro, desejo sexual, ressentimento e a subversão do poder, Minghella registrou seu ápice como realizador. Law, por sua vez, desenvolveu um de seus mais memoráveis trabalhos, onde reitera e justifica suas constantes menções entre os astros ingleses mais interessantes da contemporaneidade.
– por Victor Hugo Furtado
Em uma das produções mais dramáticas e sensíveis da carreira de Steven Spielberg, o jovem robô David (Haley Joel Osment), é programado para ser o filho perfeito de uma típica família de classe média. Rejeitado, parte em busca de respostas no perigoso centro de uma cidade futurista. É nesse contexto em que se encontra o andróide amante Joe (Jude Law), que apresenta a David o mundo distópico que vive num conflito de ideias junto a existência de vida inteligente artificial na sociedade. Maquiado como um autêntico robô, Law foca com perfeição os trejeitos limitados do personagem, mas sem esquecer a dramatização que permeia sua real existência, já que nem ele sabe bem ao certo o porquê de ser programado para satisfazer mulheres humanas. Além, é claro, de funcionar muito bem como elo entre o espectador e o novo e irregular mundo que descobrimos aos poucos.
– por Rodrigo de Oliveira
Imagine você dividir a cena com o incomparável Paul Newman e o astro Tom Hanks, em um longa-metragem dirigido por Sam Mendes, cineasta que havia acabado de levar o Oscar por Beleza Americana (1999). Jude Law teve essa experiência neste belo filme adaptado dos quadrinhos e não se mostrou nem um pouco intimidado pelos seus incríveis parceiros de tela. Pelo contrário. Aparentemente, eles serviram de inspiração para que Law construísse um personagem fora do ordinário, que não nos fizesse lembrar em momento algum de onde o conhecíamos anteriormente. É verdade que ele já havia sido indicado a um Oscar, por O Talentoso Ripley (1999), e trabalhado com Clint Eastwood, David Cronenberg e Steven Spielberg. Mas essa experiência nos mostrou a versatilidade desse jovem ator ao se transformar fisicamente neste sujeito de feições rudes e modos excêntricos. No filme, Law interpreta o assassino Harlen Maguire, contratado para dar fim a Michael Sullivan (Hanks), braço direito do chefão da máfia irlandesa John Rooney (Newman). Em um verdadeiro jogo de gato e rato, Maguire vai até as últimas consequências para atingir seus objetivos, usando de sua experiência como matador profissional – e fotógrafo criminal nas horas vagas – para dar fim naquele homem.
– por Matheus Bonez
Dan, personagem do nosso homenageado neste clássico contemporâneo de Mike Nichols, é o mais patético do quarteto que protagoniza o filme. Jornalista de obituários, escritor medíocre, sedutor que não consegue manter uma fachada de confiança (até porque não a tem de verdade), ele se apaixona por Alice (Natalie Portman) para depois correr atrás da fotógrafa Anna (Julia Roberts). Não satisfeito, quando perde uma, quer a anterior. E assim vai. É alguém digno de pena, sem caráter e que não tem noção da destruição emocional que causa com quem se envolve, já que se importa apenas com si. Suas paixões são tão líquidas quanto sua troca de cigarros permanente no filme. Para encarnar alguém tão desprovido de qualidades, Jude Law teve que penar. Afinal, seu rostinho de galã britânico poderia facilmente ludibriar o espectador, algo que ele não faz. Muito pelo contrário. O ator se entrega e assim podemos sentir tudo por seu personagem, menos algum sentimento de admiração. Ele não merece e Law soube imprimir isso em cada detalhe, numa das melhores atuações de sua carreira. Para fazer o espectador sentir nojo de alguém tão belo por fora, é porque a gente sabe: esta, sim, é uma performance de verdade.
– por Robledo Milani
A minissérie do italiano Paolo Sorrentino deu tão certo que ganhou até uma segunda temporada – batizada como The New Pope (2019), é focada mais no personagem de John Malkovich do que no inovador papa personificado por Jude Law na primeira leva de episódios. Como Lenny Belardo, também conhecido como Pius XIII, Law oferece ao público uma figura enigmática e sedutora, que deixa homens e mulheres aos seus pés na mesma medida. Eleito figura máxima da igreja católica como uma aposta de renovação – é o mais jovem já alçado a tal posto, e também o primeiro norte-americano a ocupar esse espaço – ele acaba frustrando as velhas raposas que acreditavam também que ele seria um personagem fácil de ser manipulado. Pelo contrário, ele tem ideias próprias – e bastante controversas. Ainda mais quando começa a realizar seus próprios milagres, no sentido figurado – ou não. Tendo ao seu lado Diane Keaton, Javier Cámara, Cécile de France e Ludivine Sagnier, entre outros, Law consegue se sobressair sem muito esforço, oferecendo a mais complexa e enigmática composição da sua filmografia em muito tempo. Não por acaso, foi indicado ao Globo de Ouro e ao Satellite, além de ter recebido um prêmio especial no Festival de Veneza – um feito inédito para uma série de streaming/televisão!