Inglesa que tem o teatro no sangue, Dame Judi Dench começou a conquistar o público internacional através do cinema apenas nos anos 1990. Porém, esta intérprete de forte expressão transitava pela televisão e teatro desde o final dos anos 1950, quando tinha apenas 25 anos. Nestes mais de 50 anos de carreira, Judi tem colecionado dezenas de premiações e mais de uma centena de outras indicações pelos mais diferentes papéis, passeando pelo drama e a comédia, da ficção científica ao musical, da aventura ao thriller político. No dia 09 de dezembro a atriz completa mais um aniversário. Ótima oportunidade para comemorar e relembrar seus cinco melhores filmes – além daquele que merece um destaque.
Sua Majestade, Mrs. Brown (Mrs Brown, 1997)
– por Robledo Milani
A esquizofrenia do título em português – afinal, o correto seria Sua Majestade, Mrs. Brown – em nada reflete o tom contemplativo e de relativo tranquilo desenvolvimento da história filmada pelo inglês John Madden. A parceria do diretor com a atriz deu tão certo que os dois voltariam a trabalhar juntos no oscarizado Shakespeare Apaixonado (1998) e nos dois O Exótico Hotel Marigold (2011 e 2015). Aqui, Judi Dench surge para viver uma das personagens favoritas dos britânicos – e uma das suas mais celebradas monarcas: a rainha Vitória! Figura já levada às telas inúmeras vezes – só recentemente, foi vivida por Emily Blunt na juventude, em A Jovem Rainha Vitória (2009), e novamente pela própria Dench, na comédia dramática Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (2017). Porém, antes de privilegiar intrigas palacianas ou conflitos internacionais, o foco do roteiro de Jeremy Brock (vencedor do Bafta por O Último Rei da Escócia, 2006) está em um viés muito mais íntimo: deprimida após a morte do marido, o Príncipe Albert, Victoria se descobre cada vez mais próxima de um dos seus servos, o cavaleiro John Brown (daí a brincadeira nada sutil no batismo da obra). Se no começo a relação dos dois era vista com bons olhos – afinal, estava servindo para dar novo ânimo a ela – aos poucos vai se tornando um escândalo de gigantescas proporções. E quem transita por esses dois registros com pleno domínio de cena é Dench, segura e absoluta como a protagonista. Tanto é que por este trabalho recebeu sua primeira indicação ao Oscar – e foi premiada no Globo de Ouro e no Bafta!
Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love, 1998)
Por Robledo Milani
Foram menos de oito minutos em cena – em um filme de 123 minutos de duração – mas suficientes para lhe garantirem o Oscar, como Melhor Atriz Coadjuvante, pelo papel da Rainha Elizabeth em Shakespeare Apaixonado, uma das mais criativas e envolventes releituras sobre a vida do autor de textos clássicos como Hamlet e Romeu & Julieta. Judi Dench, neste filme, mostra todo o seu talento com o mínimo de esforço, fazendo uso do que tem de melhor: olhares intensos, diálogos certeiros e uma atitude que exala nobreza. Como a soberana que observa de longe os desenlaces amorosos entre Willian Shakespeare (Joseph Fiennes) e a jovem Viola (Gwyneth Paltrow), Dench faz aparições curtas, porém certeiras. Se no início demonstra toda sua insatisfação com os velhos espetáculos, rindo leve e solta apenas com a intervenção inesperada de um pequeno cachorro, é no final que mostra de vez a que veio, solucionando todos os problemas e salvando o filme – e alguns personagens – com poucas e exatas palavras. Uma dama como apenas a realeza inglesa poderia gerar, Judi Dench talvez tenha entrado tarde demais no cenário cinematográfico mundial, mas aqui mostra que, mesmo oferecendo pouco, sua presença é sempre inesquecível.
Iris (Iris, 2001)
Por Renato Cabral
Em Iris, Judi interpreta a novelista Iris Murdoch na terceira idade (Kate Winslet interpreta Iris na juventude), fase em que luta contra o Alzheimer. O filme do diretor inglês Richard Eyre busca mostrar o romance da vida de Murdoch com seu companheiro John Bayley (Oscar para Jim Broadbent) do momento em que se conheceram até a doença que se abateu à escritora e em como esse amor se manteve incondicional. Indicada ao Oscar pela performance, Dame Judi entrega um trabalho que se complementa com o de Kate Winslet, já que ambas interpretam a mesma personagem, tanto que Winslet também foi indicada como coadjuvante ao Oscar. Mas o que realmente fica do filme é a química entre Dench e Broadbent e este amor sem fim do marido de Murdoch que ultrapassa qualquer tempestade. Vale lembrar também que é a primeira vez que Dench trabalha com o diretor Richard Eyre, com o qual iria reprisar a parceria em Notas Sobre um Escândalo (2006), lhe rendendo novamente uma indicação ao Oscar.
Notas Sobre um Escândalo (Notes on a Scandal, 2006)
Por Marcelo Müller
Em Notas Sobre um Escândalo, Judi Dench interpreta Barbara Covett, professora solitária e controladora que chefia uma escola no subúrbio de Londres. Avessa a relacionamentos mais profundos, do tipo casmurro por natureza ou pelas pancadas que a vida dá, ela vê na recém-contratada Sheba Hart (Cate Blanchett) alguém em quem confiar, finalmente uma amiga, ou, além disso, já que não tardamos a perceber algo de paixão nos olhares da mulher endurecida e, até então, quase seca de emoções. Mas, a partir do envolvimento sexual de Sheba com um aluno, claro, bem mais novo, Barbara reverte toda essa expectativa de “salvação” depositada na amiga, tornando-a uma torrente de ódio. Judi Dench impressiona com sua atuação em Notas Sobre um Escândalo, por meio da qual cria uma mulher cujo semblante pétreo se alimenta das neuroses e de outras questões, a princípio, protegidas da luz do sol. Ao lançar a frustração em forma de vingança na direção da colega, Barbara expõe a complexidade de sua própria dor, transformada em raiva, muito menos da própria Sheba, e mais dela própria.
Philomena (2013)
– por Robledo Milani
A última – ao menos por enquanto – das sete indicações ao Oscar recebidas por Judi Dench veio por esse retrato tímido e poderoso. Sob a direção do amigo Stephen Frears – com quem havia trabalhado antes em Sra. Henderson Apresenta (2005) e voltaria a se encontrar em Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (2017) – Dench surge mais uma vez como protagonista em Philomena, drama sobre a jornada de uma mulher em busca do filho que lhe foi roubado dos próprios braços décadas atrás. Ao mesmo tempo em que a história começa pela investigação de um jornalista (papel de Steve Coogan, também autor do roteiro), a trama, de fato, tem início muitos anos antes, quando a jovem Philomena (vivida por Sophie Kennedy Clark, de A Garota Dinamarquesa, 2015), ao se descobrir grávida sem estar casada, é entregue pelos pais a um convento. Lá, as freiras encobriam um esquema de tráfico de crianças, e o menino que dá à luz acaba sendo adotado por uma família nos Estados Unidos. Tanto tempo depois, será possível que os destinos de mãe e filho possam se reencontrar? Os silêncios resignados e os olhares esperançosos que Dench compartilha com a audiência são de cortar o coração, seja pela simplicidade dessa mulher – que ela abraça sem ressalvas – como também pela força insuspeita que revela diante da verdade que a acompanhou por toda a sua vida. Um resultado de cortar o coração, entregue por uma atriz em estado de graça.
+1
007: Operação Skyfall (Skyfall, 2012)
Por Dimas Tadeu
Talvez o papel de M não seja lá muito desafiador pra Judi Dench. A “patroa” de 007, por assim dizer, meio matriarca, meio figura repressora, caía como uma luva para a atriz, que não precisava se esforçar muito para conseguir empatia e precisão no papel. Mas com Skyfall, a coisa mudou. O brilhante desnudamento emocional que Sam Mendes faz dos personagens não deixa M incólume, e é Dench a responsável pelas inúmeras camadas de M que passamos a conhecer no filme. No começo, vemos a típica chefona decidida e inteligente, mas, aos poucos, ela vai revelando relações com pessoas, situações e um passado que, ao contrário do que se poderia pensar, também esconde fracassos. Num crescendo que só se completa com o surpreendente clímax, a atriz merecia inclusive indicações a prêmios por tirar da zona de conforto um papel do qual já era dona. E Dench o faz de forma louvável e interessantíssima.
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