A dona de um dos mais belos, carismáticos e, porque não, maiores sorrisos de Hollywood, Julia Fiona Roberts, por pouco não apresentou ao mundo personagens tão adoráveis quanto Vivian, de Uma Linda Mulher (1990), Julianne, de O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) ou Erin Brockovich, do homônimo filme de 2000 que rendeu um Oscar de Melhor Atriz à intérprete. Antes de virar a estrela que todos conhecem, Julia queria ser veterinária e até se formou em jornalismo. Isto até o irmão mais velho, Eric Roberts, começar a ter sucesso no ramo e inclusive ser indicado ao maior prêmio do cinema (a saber, Ator Coadjuvante por Expresso Para o Inferno, 1985). Logo se tornou a rainha das comédias românticas, posto antes ocupado apenas por Meg Ryan. Desde então, Julia tem vivido pontos altos na carreira (como os filmes já citados), e outros nem tão felizes assim. Apesar de ter se dedicado a produções mais independentes nos últimos anos, há algumas raras exceções como Comer, Rezar, Amar (2010). Enquanto isso, a estrela, que completa no dia 28 de outubro mais um aniversário, é a homenageada da vez com seus cinco melhores filmes – e aquele que poucos viram, mas merece uma segunda chance.
Por Renato Cabral
Um surpreendente clássico do cinema que impulsionou a carreira de Julia Roberts, Uma Linda Mulher traz a história de um empresário (Richard Gere) que precisa de uma acompanhante para alguns eventos sociais. É quando ele acaba contratando uma prostituta, Vivian (Julia), e o que deveria ser apenas negócios se transforma em um envolvimento amoroso. Icônico em diversas cenas, a produção orçada em 14 milhões – e que ultrapassou 170 milhões de dólares em arrecadação mundial, tem em Julia Roberts todo o seu carisma. A delicadeza em representar uma personagem que é prostituta é um terreno perigoso para o cinema comercial e norte-americano, podendo parecer moralista e piegas. Porém Julia entrega uma ótima performance em uma produção recheada de ótimos diálogos e muita química entre os protagonistas. Um dos pontos altos da carreira da atriz que, lá em 1990, talvez nem imaginasse o que viria a se tornar: um dos grandes nomes do cinema mundial de todos os tempos.
Por Matheus Bonez
Pode parecer piada, mas a tal “maldição do Oscar” de que tanto falam realmente parece existir. No caso de Julia, foi depois de ter sido indicada pela segunda vez ao prêmio, quando estrelou Uma Linda Mulher (1990). Seus projetos seguintes foram fracassos ou de publico, ou de crítica, ou de ambos. A volta por cima foi com O Casamento do Meu Melhor Amigo, uma das melhores comédias românticas feitas nos últimos 20 anos e, quem sabe, em toda a história do cinema. Tudo é fora do lugar-comum: a mocinha, Julianne (Julia), na verdade, é uma vilã, pois quer acabar com o futuro casamento do amigo por quem é apaixonada – e por puro ciúmes. Ainda se a atual dele fosse uma asquerosa, tudo bem, seria compreensível. Mas é Cameron Diaz, linda, meiga, revelando seu talento de comediante pela primeira vez – e muito bem, diga-se de passagem. Mesmo com um melhor amigo gay (Rupert Everett, excepcional) que lhe serve de Grilo Falante com seus conselhos, Julianne faz tudo ao contrário do que alguém com o mínimo de decência faria – ainda bem, é claro, que ela se redime no final. Mas não sem antes Julia mostrar todo o seu perfeito timing cômico para uma personagem feita sob medida para ela.
Por Marcelo Müller
Dirigido por Roger Mitchell e escrito por Richard Curtis, o britânico Um Lugar Chamado Notting Hill pode não ser o mais complexo ou célebre filme estrelado por Julia Roberts, postos ocupados, em minha opinião, por Closer: Perto Demais (2004) e Uma Linda Mulher (1990), respectivamente. Ainda assim, é um dos pontos altos da carreira da atriz americana homenageada esta semana. A trama acompanha o personagem de Hugh Grant, dono de livraria especializada na venda de guias de viagem, que recebe inesperadamente a visita da famosa atriz americana Anna Scott (Julia). Mais improvável que tê-la como cliente será o posterior envolvimento amoroso deles, no qual virá à tona o lado mais prosaico da estrela idealizada por todos. Antes intocável, Anna está ao alcance, não mais no firmamento distante dos pobres mortais que antes podiam apenas admirá-la de longe. Um Lugar Chamado Notting Hill é uma comédia romântica repleta de idas e vindas, encontros e desencontros, que, de alguma forma, eleva o tão desgastado gênero, pois se serve de suas convenções para realmente fazer graça com as imprevisibilidades do amor.
Por Dimas Tadeu
Quando se fala em Julia Roberts, o que vem na cabeça são comédias românticas e personagens adoráveis e meio atrapalhadas, do tipo que transformam defeitos em encantos e fazem qualquer espectador se identificar com o conto de fadas que protagonizam. Talvez seja por isso que Erin Brockovich rendeu o único Oscar da carreira da atriz. No drama baseado em fatos reais, ela vive uma personagem que, vá lá, até tem empatia e um certo grau de adorabilidade, mas também é vulgar, esquisita e totalmente fora do contexto em que transita – no caso, um escritório de advocacia. Porém, é exatamente sua excentricidade e seu amor pela filha que a farão insistir num caso que parecia perdido, encarando um poderio corporativo e se redimindo num conto de auto superação para americano nenhum botar defeito. Ou seja: se na aparência, Erin não guarda muita semelhança com a “Adorável Julia”, na essência, ela é a representação máxima do arquétipo que há décadas a atriz personifica – e continuará personificando. Filme obrigatório para os fãs da estrela.
Por Robledo Milani
“And so it is…” Esse é o primeiro verso de The Blower’s Daughter, inesquecível canção-tema deste filme. Mas se a conclusão é de que “então é assim…”, como lidar com nossos sentimentos quando eles são contrários às nossas vontades? A peça de Patrick Marber, adaptada magistralmente para o cinema pelas mãos do competente Mike Nichols, mostra exatamente isto: quatro pessoas, dois homens e duas mulheres, que simplesmente não conseguem se comprometer, por mais que amem o próximo. O problema não é a falta de amor, mas sim a quem ele é direcionado e, principalmente, o quanto dele é destinado a si próprio. Relacionamentos modernos numa sociedade em convulsão ganham um verniz estelar a partir da interpretação destes quatro intérpretes. E a despeito das – merecidas – indicações ao Oscar recebidas por Natalie Portman e Clive Owen, é no casal formado por Jude Law e Julia Roberts onde todos os olhares estarão fixados. Julia poucas vezes esteve tão linda, tão limpa, tão entregue e tão misteriosa. Sua atuação aqui é um desafio no qual ela se sai indiscutivelmente bem, posicionando-se no mesmo nível dos seus colegas e mostrando que, mais do que uma estrela, é antes de tudo uma grande atriz.
Por Danilo Fantinel
O corajoso longa de Steven Soderbergh, que poderia ser descrito como uma experiência visual sobre voyeurismo, sexualidade e construção/desconstrução de personalidades ou ainda como um ensaio imagético sobre a indústria do entretenimento, o fazer cinematográfico e o ofício da atuação, não foi bem recebido por crítica e público. Independentemente de suas qualidades e falhas, este filme permitiu à Julia Roberts deixar de lado os tradicionais papéis de mulherzinha e de mulher fatal para mostrar mais versatilidade. Neste projeto metalinguístico, que remete ao típico filme dentro do filme, Julia vive dois personagens: uma jornalista objetiva, que é na verdade personagem de Rendez-vous, no qual contracena com Blair Underwood e Brad Pitt, e também a própria atriz que interpreta a repórter citada e que, neste caso, é personagem de Full Frontal. Assim, há duas dimensões narrativas. É Full Frontal em suas cenas rodadas em vídeo digital com imagem bem granulada e Rendez-vous nas cenas em 35mm, com estética hollywoodiana. Porém, uma porosidade cênica mistura as duas dimensões. Soderbergh deixa subentendidas as transições entre um longa e outro, exigindo atenção do espectador nesse confronto entre a ficção do filme que está sendo rodado e a “vida real” expressa em Full Frontal.