Julianne Moore é aquele tipo de atriz com o qual dificilmente alguém não simpatize, mas não apenas por ser uma bela ruiva. Talentosa ao extremo, a intérprete pode estar em qualquer tipo de filme, uma obra-prima ou uma bomba, mas que temos certeza de uma coisa: sairá intacta ao fim do projeto. Se há dúvidas, é só assistir ao recente remake de Carrie: A Estranha (2013) ou ao drama Para Sempre Alice (2014), que lhe deu, enfim, o aguardado Oscar que há tanto tempo merecia, para ter certeza do que estamos dizendo. Premiada 106 vezes e indicada outras 148 (cinco só ao Oscar), Moore é uma das mais reconhecidas atrizes de sua geração. Com seu aniversário no dia 3 de dezembro, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger seus cinco melhores filmes e mais aquele que poucos viram, mas merece uma segunda descoberta. Parabéns a ela e confira a nossa seleção!
– por Marina Paulista
Nesta crônica do diretor Paul Thomas Anderson sobre a indústria pornográfica na década de 1970, o enredo gira em torno de Eddie Adams (Mark Wahlberg), um adolescente que rapidamente se transforma num astro de filmes pornográficos e encarna sua persona da indústria, Dirk Diggler. Entretanto, além da excelente trilha sonora e da direção enérgica, boa parte do charme deste filme está nos personagens secundários: uma variedade de figuras memoráveis sustentadas por excelentes atuações de grandes nomes, como Philip Seymour Hoffman, William H. Macy, John C. Reily e, é claro, Julianne Moore. Na pele da estrela pornô e diretora Amber Waves, Moore vira uma espécie de figura materna para seus companheiros de cena mais jovens enquanto, ironicamente, se vê afastada cada vez mais de seu filho biológico, justamente por viver num ambiente regado a sexo e drogas. Se em alguns momentos ela representa um mundo divertido, colorido e convidativo, demonstra, em outros, a dor das consequências de suas escolhas. Sob o olhar livre de julgamentos que Anderson lança sobre seus personagens, é difícil não sentir empatia e carinho por Amber. Em meio a tantos ótimos personagens, a belíssima “mãezona” da indústria pornô é, certamente, uma das mais interessantes de se acompanhar.
– por Wallace Andrioli
Nesse belíssimo filme de Neil Jordan, Julianne Moore interpreta Sarah Miles, esposa de um funcionário do governo inglês que, durante a Segunda Guerra Mundial, tem um caso com o escritor Maurice Bendrix (Ralph Fiennes), até repentinamente abandoná-lo. A narrativa gira em torno desse misterioso término de uma história de amor aparentemente arrebatadora, até introduzir, lá pela metade, o elemento da fé, chave fundamental para a compreensão das escolhas do personagem. Nesse ponto, Miles deixa de ser apenas a mulher adúltera presa num casamento enfadonho, já vista em tantas obras (literárias e cinematográficas) do tipo, para se tornar uma protagonista gigantesca, trágica, comovente. E o desempenho de Moore é fundamental para isso: então uma atriz que começava a se firmar no alto escalão de Hollywood, após a primeira indicação ao Oscar (de coadjuvante, por Boogie Nights: Prazer sem Limites), ela consegue trafegar com absoluta naturalidade entre a potência sexual e o sacrifício decorrente da entrega plena à fé. Essa é uma das melhores atuações de Moore, pela qual foi novamente lembrada, com justiça, pela Academia.
– por Marcelo Müller
Adaptação do livro homônimo de Michael Cunningham, este filme fala sobre três mulheres separadas pelo tempo, mas de alguma maneira intimamente ligadas pelo livro Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Uma delas é a dona de casa que mora em Los Angeles, interpretada por Julianne Moore. Em meio ao planejamento da festa de aniversário do marido, ela não consegue parar de ler o livro, com o qual se identifica. O ambiente em que vive, de aparente felicidade e tranquilidade, não é suficiente para sufocar uma sensação de não pertencimento, de deslocamento no seio da própria família. Evasão e, quem sabe, suicídio são ideias que começam a rondar seus pensamentos, justo a partir do contato com a história da escritora que colocou no papel, mais de cinquenta anos antes, angústias semelhantes em forma de prosa. Julianne Moore faz um grande trabalho, sobretudo no que diz respeito à leitura desta personagem de amargura crescente, que precisa, até onde pode, represar sentimentos e anseios pelo bem de uma instituição que, nos anos 1960, ainda mais que hoje, era vista quase como sacrossanta e inabalável.
– por Robledo Milani
Tudo é perfeito à primeira vista. Mas por baixo das aparências, um mundo de contradições, desesperos e tristezas encontra-se escondido. E isso não só na residência dos Whitaker, o casal protagonista deste inquietante drama dirigido por Todd Haynes, mas em qualquer lar da América. O objetivo aqui é revelar aos olhos do espectador aquilo que habitualmente isola-se do universo exterior. Quando Cathy, magnificamente interpretada por Julianne Moore (indicada ao Oscar de Melhor Atriz e premiada no Festival de Veneza), encontra o marido aos beijos com outro homem, seu mundo desaba. Sem saber a quem recorrer, encontra apoio e compreensão no jardineiro, um homem inteligente e educado, mas negro. Os dois pontos polêmicos – os problemas conjugais dela e sua suposta relação infiel com um homem de cor – terminam por atiçar a sociedade local, que logo passa a discriminá-la. Temas como preconceito, racismo, homossexualidade, intolerância, infidelidade e igualdade de direitos são explorados, mas não com o objetivo de provocar discussões ou pregar teses, mas, antes, demonstrar nos pequenos e vitais atos de seus personagens quanta hipocrisia pode haver nos interiores de uma família perfeita. Julianne Moore é o centro vital deste belo e impressionante diálogo com o cinema da era de ouro de Hollywood, em que o artificialismo absoluto está em confronto direto com temas de relevância única.
– por Rodrigo de Oliveira
Julianne Moore é uma das atrizes mais talentosas de sua geração, sem sombra de dúvidas. E nesta produção, ela se entrega a um papel difícil, vivendo uma mulher que, no auge de sua vida, descobre uma doença degenerativa que a transformará totalmente e impactará todos que vivem ao seu redor: a doença? O Mal de Alzheimer. Neste filme, os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland são competentes ao mostrar esta mudança no cotidiano da família Howland. Antes uma ativa e inteligentíssima doutora em Linguística, Alice sucumbiu a essa doença e se viu gradativamente menos como ela mesma. Seu marido, interpretado por Alec Baldwyn, e seus filhos, dentre eles uma competente Kristen Stewart, sofrem cada um à sua maneira, e Alice chega a bolar um plano para se livrar do mal de uma vez por todas. O filme consegue capturar a atenção para a temática, é respeitoso na medida e, claro, tem uma atuação irretocável de Julianne Moore, vencedora de grande parte dos prêmios em que concorreu, incluindo o Oscar. Com uma performance sensível, corajosa e, não raro, emocionante, Moore é o que de melhor este filme oferece – o que não é pouca coisa.
– por Marcelo Müller
Sob a batuta do diretor canadense David Cronenberg, representando uma figura que condensa boa parte dos traços (entre eles os perversos) do ambiente tão glamoroso quanto potencialmente sórdido de Hollywood, Julianne Moore provou, mais uma vez – como se isso fosse ainda necessário –, seu talento para encarnar mulheres complexas. Aqui a norte-americana vive uma atriz decadente, desesperada para conseguir o papel que outrora foi da mãe numa produção muito famosa. Entre outras coisas, ela contrata a personagem de Mia Wasikowska, cujo passado é um mistério a ser desvendado, como sua assistente pessoal, e se envolve por puro capricho com o namorado da mesma, jovem interpretado por Robert Pattinson, um motorista de limusine que sonha em ser ator. Um dos pontos altos do trabalho de Moore é a bizarra comemoração, à beira da piscina, de uma tragédia alheia, cujos desdobramentos lhe serão favoráveis profissionalmente. A caricatura que a atriz propõe é paradoxal e assustadoramente próxima do real, ainda que numa chave evidentemente amplificada, tornada grotesca, pelo impulso criativo de um cineasta afeito a visitar o lado mais sombrio das pessoas, expondo suas “monstruosidades” como sintomas mais comuns do que a priori imaginamos da decrepitude moral que nos assola.