Kate Elizabeth Winslet começou sua carreira no cinema em 1994 com polêmico Almas Gêmeas e, já em seu segundo filme, Razão e Sensibilidade (1995), foi indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante. Aos poucos, começou a chamar atenção mundial até 1997, quando foi lançada na estratosfera com sua performance no épico de bilheteria Titanic. Desde então, mostrou ser uma das atrizes mais talentosas de sua geração, senão a melhor delas. Recordista de indicações ao Oscar quando completou 31 anos (foi a que teve mais indicações nesta idade, quatro) ainda foi lembrada mais uma vez antes de se tornar vencedora da cobiçada estatueta com O Leitor (2008).
Inglesa, belíssima dona de uma dramaticidade inegável, Kate escolhe bem seus projetos e, mesmo que às vezes dê algum leve tropeço (como o irregular O Amor Não Tira Férias, de 2006), sai intacta devido ao seu talento. No dia 5 de outubro de 2013 a atriz completa 38 anos totalmente em forma e, para celebrar uma carreira tão recheada de projetos interessantes, a equipe do Papo de Cinema escolheu seus cinco melhores filmes – e mais uma produção que merece ser lembrada, mesmo que fora dos padrões.
Titanic (idem, 1997)
Por Danilo Fantinel
Independentemente de sua opinião sobre James Cameron a respeito de seus filmes ou conduta, dois fatos de sua carreira merecem atenção. O primeiro ultrapassa o “gosto/não gosto”: o diretor de O Exterminador do Futuro 1 (1984) e 2 (1991), Aliens: O Resgate (1986) e Avatar (2009) é um bom cineasta de entretenimento que usa como pouco a tecnologia visual. O segundo? Bem, Cameron apresentou Kate Winslet às multidões em 1997 com Titanic. Anteriormente, ela havia feito Hamlet (1996), de Kenneth Branagh, e Razão e Sensibilidade (1995), de Ang Lee, filmes restritos a públicos menores. No longa que a alçou ao primeiro time de atores internacionais, Kate interpreta Rose DeWitt Bukater, esnobe filha das elites que se apaixona pelo pobre Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) pouco antes do naufrágio da então mais segura nau já construída pelo homem, em águas congelantes, em 1912, pouco antes da I Guerra Mundial. Titanic é um festival de efeitos especiais – e para muitos, apenas isto. Por outro lado, contrapõe luxo e simplicidade, heroísmo e covardia, engenharia avançada e irresponsabilidade canhestra, sempre apontando o conflito de classes em plena Belle Époque. Em Rose, Kate mistura uma detestável altivez com a rebelião contra o próprio status social.
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of a Spotless Mind, 2004)
Matheus Bonez
Este talvez seja um dos filmes mais românticos já realizados na história do cinema mundial. Longe do água com açúcar, com os pés fincados na realidade – mesmo que aqui ela beire à fantasia. Ora, quem nunca quis apagar da mente alguém por conta de uma relação desastrosa? Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças responde à pergunta oferecendo como resposta um mundo onde isto é possível de se fazer com uma cirurgia complexa. O introvertido Joe (Jim Carrey, melhor do que nunca) quer esquecer seus momentos ao lado da tresloucada Clementine, um papel feito sob medida para Kate Winslet brilhar e oferecer não apenas seus já conhecidos – e mais do que eficientes – dotes dramáticos, mas também certa leveza, uma complexidade cômica que ora faz rir, ora chorar ao seu lado. A lembrança de uma personagem tão forte não seria tão intensa caso a atriz não se jogasse por inteira no papel – o que ela faz como poucas poderiam. Clementine é a luz e a dor de Joe e, por mais diferentes que eles sejam e o público entenda porque eles não conseguem ficar juntos, todos sabem que o amor é que move os dois. Então, como não torcer para um casal tão parecido, tão igual a qualquer outro que conhecemos na nossa realidade aqui fora da tela? Em conflito com sua idéia principal, o filme de Michel Gondry é difícil de apagar da memória. Até porque é impossível. Simples assim.
Pecados Íntimos (Little Children, 2006)
Por Robledo Milani
Kate Winslet pode ter surgido como a adolescente de Almas Gêmeas (1994), ter levado meio mundo às lágrimas em Titanic (1997) e virado ícone de muitos amalucados em Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), mas foi somente em Pecados Íntimos que se mostrou uma atriz completa. Aqui deixa de lado todos os artifícios e acessórios para se despir por inteiro – e literalmente – como uma versão suburbana de Madame Bovary, abandonando, ainda que por instantes, o marido que não mais lhe satisfaz e a filha pequena para se refugiar num caso com o vizinho, também casado e com filhos. Winslet parte numa busca desesperada por felicidade, talvez nos piores lugares, mas cada gesto e palavra que profere esconde tanto que somente seus olhares poderão revelar. Como resultado conquistou sua quinta indicação ao Oscar, e foi lembrada também no BAFTA, no Critics Choice Award, no Globo de Ouro e na premiação do Sindicato dos Atores. Em nenhuma destas disputas saiu vitoriosa, mas o que demonstra na tela está além de avaliações ocasionais. Sarah Pierce, sua personagem, é trágica por natureza, e acompanhá-la nesta jornada de dor e descoberta é tão sofrido quanto prazeroso, graças ao imensurável talento da intérprete.
Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, 2008)
Por Willian Silveira
No centro do quadro, Kate Winslet é April Wheeler, a mãe perfeita de duas adoráveis crianças. No fundo, na cozinha da casa americanamente bem montada, o marido desfocado. A sequência que se seguirá será a mais forte e significativa do filme. Em seu sétimo ano de casamento, o jovem, estruturado e promissor casal Wheeler não suporta mais conviver entre aparências. Viver para fora, para vizinhos e colegas, é fácil; difícil é viver para dentro. A briga não se dará na sala, espaço dos outros, mas na cozinha, lugar da família. É a mesa de jantar que aponta o caminho dos casais Agredida verbalmente pelo homem cujas ilusões compartilhou e ajudou a construir, Winslet atua na contramão do esperado. Ao ver a realidade desmoronar, nada de força física, histeria ou choro prolongado. Seu silêncio interrompido pelas palavras certas, em uma situação em que palavras certas não existem. A face marcada pelo tempo, a pele arranhada pelo esforço de construir algo em conjunto. O vão entre a expectativa e a realidade pintado em sua face. Quando penso no imagem da incredulidade, da desmistificação das ilusões, penso em April.
O Leitor (The Reader, 2008)
Por Rodrigo de Oliveira
Vencendo seu primeiro Oscar pela performance em O Leitor, Kate Winslet é uma das razões principais para se conferir este drama assinado por Stephen Daldry. A trama se passa na Alemanha pós-Segunda Guerra e acompanha o jovem Michael Berg (David Kross) e seu relacionamento amoroso com uma mulher mais velha, Hanna Schmitz (Winslet). Ainda que Kross se empenhe em sua performance, é impossível não ser ofuscado por Kate Winslet. A atriz interpreta uma personagem que possui grandes segredos, enterrados em seu passado, que são amenizados com a relação entre ela e seu “garoto”. Berg faz a ponte entre Hanna e a literatura ao ler para sua amada clássicos como A Odisséia e A Dama do Cachorrinho, e estas histórias conseguem afastá-la de suas escolhas pretéritas. O conto de fadas encerra-se, no entanto, quando ela é promovida a um trabalho que não está preparada a assumir. Para ela, melhor do que enfrentar sua limitação é fugir (fato que curiosamente ecoa a trajetória de April Wheeler em Foi Apenas um Sonho, do mesmo ano, também interpretada por Winslet, que acredita que seus problemas não a perseguirão caso se mude para outro país). Um drama pungente que ainda conta com uma pequena participação do sempre competente Ralph Fiennes.
+1
Mildred Pierce (idem, 2011)
Por Renato Cabral
Mildred Pierce é uma produção que pode destoar de nossa listagem, pois é originada da televisão. Sempre priorizando produções lançadas diretamente nos cinemas, nesse momento foi necessário abrir uma exceção, afinal a minissérie realizada para a HBO por Todd Haynes (Longe do Paraíso, 2002) e estrelada por uma Kate Winslet vencedora do Emmy, é um verdadeiro evento televisivo ao trazer para a telinha uma linguagem de cinema. Com isso, a produção apresenta uma das melhores performances da carreira da atriz inglesa como a personagem-título, que inclusive já foi representada por Joan Crawford (Almas em Suplício, de 1945). Na história baseada no livro de James M. Cain, Winslet é Mildred, uma mãe de família que se esforça ao máximo para dar o que há de melhor para os filhos, em especial à mimada Veda (Evan Rachel Wood). Nesse caminho de garantir uma estabilidade às crianças e alcançar o topo, ela conhecerá as amarguras da vida, que vão desde perdas irreparáveis a ser explorada pela filha e seu novo marido. Como todo melodrama, a personagem principal precisa sofrer duramente e até se mostrar fragilizada, e é na performance cuidadosa e dedicada de Winslet que encontramos uma personagem forte e de nuances, que apenas aguarda o momento certo de emergir ainda mais forte.
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