Mesmo que já fosse conhecido no teatro, especialmente o baiano, que tivesse, inclusive, participado de algumas produções cinematográficas, Lázaro Ramos apareceu, realmente, como um nome incontornável neste longa-metragem de Karim Aïnouz. O ator interpreta um frequentador mítico da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro. João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã – que já havia aparecido no cinema em A Rainha Diaba (1974), de Antônio Carlos Fontoura –, é concebido na telona por Lázaro em todo esplendor de sua singularidade. Malandro, negro, artista, homem envolvido com a criminalidade, homossexual e artista, além de pai de sete filhos adotivos. E o sucesso de Lázaro no papel, que lhe abriu diversas outras portas, pode ser algo também imputado ao acaso, à sorte. Inicialmente, seria Seu Jorge o intérprete de Madame Satã, enquanto Lázaro viveria Mané Galinha, um dos grandes personagens de Cidade de Deus (2002). A inversão ocorreu por uma série de fatores, mas beneficiou ambos os artistas, que agarram as oportunidades para conceber duas figuras emblemáticas do cinema brasileiro. A partir dali, Lázaro caiu nas graças de outros cineastas, virou artista de destaque em novelas, ganhou programas de televisão, entre outras coisas. Tudo graças a seu trabalho brilhante como João Francisco dos Santos, um sujeito à frente de seu tempo, libertário como poucos de sua época.
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