Embora não seja dado a construir seus personagens de maneira maniqueísta, Lázaro Ramos, especialmente no que diz respeito à carreira cinematográfica, é frequentemente recrutado para interpretar o protagonista, o herói da trama. Neste longa-metragem de Marcos Jorge – o mesmo do excepcional Estômago (2007) –, porém, o ator baiano foi obrigado a se reinventar, por assim dizer. Seu personagem opõe-se brutalmente ao de Babu Santana, um pai de família da periferia de São Paulo, funcionário do departamento de controle de zoonoses. Cumprindo o procedimento de praxe, este sacrifica um pitbull encontrado sem eira nem beira, após três dias de espera pelo dono do animal. É somente depois dessa morte que o delinquente proprietário do cachorro exterminado surge, colocando em sério risco a vida do servidor que apenas levou a cabo a sua função. O trabalho de Lázaro se encarrega da apreensão constante e dominante, fruto da imprevisibilidade do comportamento de um sujeito sanguinário e irascível. Por esse papel, ele foi indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2017 de Melhor Ator – este vencido por Juliano Cazarré, protagonista de Boi Neon (2015). A vilania incomum do intérprete não foi suficiente para cativar os votantes da Academia Brasileira de Cinema, mas certamente garantiu sua entrada no rol das figuras completamente temíveis do cinema nacional.
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