Num registro muito diferente do apresentado em Madame Satã, o ator aqui interpreta André, morador da Zona Norte de Porto Alegre, sujeito introspectivo, entediado com a rotina de operador de fotocopiadora e apaixonado pela vizinha vivida por Leandra Leal. É um homem bom, cuja conjuntura financeira e amorosa leva ao crime de reproduzir ilegalmente dinheiro, tudo com a ajuda do amigo Cardoso (Pedro Cardoso), trambiqueiro que topa contravenções por grana, e de Marinês (Luana Piovani), jovem que explora seus dotes físicos para ascender na vida. Nessa trama carregada de ironia, em que o protagonista sofre revezes na mesma medida em que ganha oportunidades insólitas de prosperar, Lázaro Ramos precisa conceber um personagem que deixa para trás a inocência, tomando contato com o lado sórdido de tornar-se verdadeiramente adulto. Neste filme iniciou-se uma parceria fértil entre o ator e o cineasta gaúcho Jorge Furtado, que rendeu, até o momento, outros longas-metragens e séries de televisão. Meu Tio Matou um Cara (2004), logo na sequência, e Saneamento Básico: O Filme (2007), um pouco mais adiante, foram frutos dessa colaboração que deu certo. Mas, embora em ambas a dupla funcione totalmente, é realmente André a grande figura construída nesse processo conjunto, cujo sotaque gaúcho, por exemplo, é tão crível quanto a sua ingenuidade inicial.