Neste longa-metragem de Monique Gardenberg, Lázaro Ramos corporifica o espírito alegre e batalhador do baiano do pelourinho. Ele é Roque, uma espécie de líder informal do grupo que mora num cortiço do centro histórico de Salvador. O tom do filme é essencialmente cômico, com o protagonista atravessando as ruas mais famosas da cidade em meio a deflagração dos contrastes sociais vigentes num entorno de desigualdade flagrante. Ele é um cantor de axé, dado a fazer participações especiais em trios elétricos, que ganha a vida como pode, num cotidiano marcado por adversidades que raras vezes lhe tiram o sorriso do rosto. Lázaro mergulha fundo na identidade cultural de sua terra natal, concebendo um personagem solar, atravessado pelas vicissitudes de um cenário convidativo à alegria, a despeito das agruras. A produção originou uma série de televisão, levando às telinhas essa observação leve, porém longe da alienação, de uma das áreas mais conhecidas do Brasil. Numa cena, que já virou antológica, Roque discute pesadamente com Boca (Wagner Moura) sobre questões raciais, projetando a voz dos negros constantemente acossados pela prevalência do homem branco nas mais diversas esferas sociais. Lázaro consegue mudar o registro de maneira orgânica e absolutamente crível, deixando momentaneamente de lado o jeito boa praça para que o personagem demonstre consciência e coragem, na mesma medida.