A carreira de sucesso deste ator irlandês não veio da noite para o dia. Ex-operador de grua e pugilista amador, as chances de Liam Neeson em Hollywood só começaram a aparecer após a descoberta de seu talento por Steven Spielberg quando foi escalado para o papel principal em A Lista de Schindler (1993). Nem vamos considerar Darkman: Vingança Sem Rosto (1990), filme que naufragou nas bilheterias, ou Maridos e Esposas (1992), de Woody Allen, no qual faz uma pequena participação. Com o filme de Spielberg, veio uma indicação ao Oscar e a escolha de papeis interessantes desde então.
Nos últimos tempos, Liam Neeson tem se dedicado à carreira de filmes de ação em títulos como Sem Escalas (2014), a trilogia Busca Implacável e Fúria de Titãs 2 (2012), o que comprova a versatilidade do ator: mesmo que alguns destes filmes não sejam dos mais recomendáveis sobre o ponto de vista da crítica, a maioria tem retorno positivo de bilheteria. E, é claro, o talento do astro invariavelmente termina por salvar qualquer produção. Por essas e outras, para comemorar seu aniversário no dia 7 de junho, a equipe do Papo de Cinema elegeu aqui seus cinco melhores filmes – e aquele que merece um destaque especial.
A Lista de Schindler (The Schindler’s List, 1993)
Por Yuri Correa
Memorável obra dirigida por Steven Spielberg, A Lista de Schindler conta a história do empresário Oskar Schindler (Liam Neeson) que, durante a Segunda Guerra Mundial passa a tentar proteger o maior número de judeus que consegue empregando-os em suas instalações. Uma espécie de visionário da salvação, o protagonista é enérgico, astuto, dissimulado e, sim, humano. Apesar da monocromia visual concebida por Spielberg e seu diretor de fotografia, Janusz Kaminsk, Oskar é um personagem que foge da bidimensionalidade. Liam Neeson o concebe como um homem capaz de se apiedar de toda uma população oprimida e que, ao mesmo tempo, pode sentir-se extremamente constrangido de estar na presença de um indivíduo com um braço amputado. Desta forma, fazendo-o complexo e crível, afinal, por mais que suas intenções tornem-se boas de forma gradual, Schindler é factualmente fruto da Alemanha Nazista. Um contraste curioso que o renomado diretor do projeto parece esquecer-se por alguns instantes ao tentar fazê-lo um herói incontestável em seu monólogo final, antes de partir da fábrica, onde o personagem se arrepende copiosamente de não ter usado o seu anel do partido para salvar mais um judeu. Um melodrama dispensável, tendo em vista o bom trabalho de seu principal intérprete.
Michael Collins: O Preço da Liberdade (Michael Collins, 1996)
Por Matheus Bonez
O diretor Neil Jordan é conhecido por desenvolver e humanizar seus personagens, seja através de romances complicados (Traídos pelo Desejo, 1992, e Fim de Caso, 1999) ou de longas fantásticos (Entrevista com o Vampiro, 1994). Aqui, ele disseca a figura de Michael Collins, revolucionário taxado de calculista e guerrilheiro terrorista que montou o Exército Republicano Irlandês para lutar contra a opressão inglesa em seu país. Porém, de nada adiantaria mostrar as várias faces de tal personagem se não houvesse um protagonista à altura da responsabilidade. Na pele de Collins, Liam Neeson é energético, odioso, lutador, revolucionário. É sob a ótica do ator e seu alterego que acompanhamos todos os passos desta importante figura central na história da Irlanda. Uma interpretação marcante e que, infelizmente, não é tão lembrada na carreira do astro. Porém, o resultado na época já foi louvável o bastante: o filme recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1996, onde Neeson também ganhou (merecidamente) o prêmio de Melhor Ator.
Kinsey: Vamos Falar de Sexo (Kinsey, 2004)
Por Conrado Heoli
O sexo era o principal objeto de estudo sob as lentes microscópicas de Alfred Kinsey, sexólogo norte-americano biografado no drama Kinsey: Vamos Falar de Sexo (2004), porém o foco do cineasta Bill Condon está em dissecar a vida de um cientista preocupado com os segredos e intimidades da humanidade. Como o professor obcecado por suas pesquisas, Liam Neeson aparece numa caracterização sólida e corajosa, por vezes vulnerável, que ganha ainda mais destaque a cada momento compartilhado com a excelente Laura Linney. O ator se despe de alguns maneirismos que já afetaram outras de suas caracterizações e compõe com maestria a complexa personalidade de um homem otimista, apaixonado pelo trabalho e à frente de seu tempo, ainda que frustrado por incompreensão. Enquanto as investigações e resultados de Kinsey ficam em segundo plano, Condon retrata seus personagens a partir de perspectivas tragicômicas e por vezes cruéis numa cinebiografia que vai além da mera representação e reconstrução histórica. Kinsey: Vamos Falar de Sexo é um bem humorado retrato biográfico que transcende a obsessão de um homem numa obra espirituosa, instigante e surpreendentemente profunda.
Batman Begins (2005)
Por Eduardo Dorneles
Talvez seja a aparência. Ou talvez a postura. Ou melhor, o tom de voz. A verdade é que não sabemos. Às vezes é impossível – outras, facílimo – definir assertivamente os porquês que um ator repete tantas vezes o mesmo perfil de personagens em sua carreira. Liam Neeson, por exemplo, ilustra perfeitamente essa característica. E não é por limitações técnicas. Ele simplesmente exala o perfil de mestre e instrutor, quer seja direta ou indiretamente, que repetiu em alguns momentos de sua carreira. É o caso de Henry Ducard, mais tarde revelado como Ra’s Al Ghul, mentor de Bruce Wayne (Christian Bale) em Batman Begins. Apesar da inevitável comparação que surja com o perfil de outros papéis que tenha feito, esse em particular guarda características únicas. Ele não é apenas um mestre que conduz o herói em sua tradicional jornada de amadurecimento; ele também é o vilão da história. Seu grande mérito foi conseguir traduzir as motivações nefastas do personagem em algo palatável e, até, compreensível. No final, o que vemos não é um embate de mocinho contra bandido, mas sim um confronto de métodos: conservadorismo contra progressismo. Ponto para Neeson que navega com maestria entre seus dois perfis.
A Perseguição (The Grey, 2011)
Por Thomás Boeira
Retomando a parceria com o diretor Joe Carnahan (com quem havia trabalhado em Esquadrão Classe A, 2010), Liam Neeson aparece em A Perseguição interpretando John Ottway, homem que passa a liderar um grupo de petroleiros que fica perdido no Alasca após um acidente de avião, ficando a mercê de lobos famintos. Apesar de ser uma história um tanto formulaica de sobrevivência, o filme surpreende o espectador com uma tensão que permeia a narrativa do início ao fim, algo que também não deixa de ser fruto das locações congelantes, muito bem aproveitadas por Carnahan para a construção de um ambiente inóspito. E à medida que avançamos na trama, esta se revela cada vez mais angustiante e desgastante não só para os personagens, mas também para o público que os acompanha. No centro disso, Liam Neeson encarna Ottway com grande segurança, fazendo dele um protagonista forte, mas também bastante vulnerável, tendo um arco dramático interessante e muito bem desenvolvido. Desta forma, A Perseguição acaba se estabelecendo como o melhor filme que Neeson estrelou nos últimos anos.
+1
Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (Star Wars: Episode I – The Phantom Menace, 1999)
Por Marcelo Müller
Eu sei, tem muito fã de Star Wars que vira a cara à nova trilogia, na qual são mostrados eventos anteriores aos vistos na clássica trinca dos anos 1970/1980. Fato é que os filmes são oficiais – não tão ruins assim – e fazem parte da criação de George Lucas. No primeiro deles, Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma, Liam Neeson interpreta Qui-Gon Jinn, um Mestre Jedi que, ao contrário da maioria, privilegia a força do instinto em detrimento daquela oriunda da meditação. Ele é, nada mais nada menos, do que mentor de Obi-Wan Kenobi que, por sua vez, será o responsável tanto pela educação de Anakin Skywalker (vulgo Darth Vader) quanto por ensinar posteriormente o filho do antigo padawan, Luke Skylwalker. Ou seja, o personagem de Neeson é de extrema importância dentro da cronologia Star Wars. Ele lidera junto com seu aprendiz Kenobi uma missão que liberta a Rainha Amidala e sua comitiva da opressão da Federação do Comércio e, quem sabe numa das sequências mais memoráveis do longa (SPOILERS), passa dessa para uma melhor nas mãos de Darth Maul, o vilão que utiliza um incomum sabre de luz duplo.
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