Ele ganhou notoriedade internacional após interpretar um cinéfilo politicamente engajado, irmão gêmeo da personagem de Eva Green, em Os Sonhadores (2002), do italiano Bernardo Bertolucci. A partir desse longa-metragem, Louis Garrel se destacou em produções diversas, em trabalhos que fizeram dele um dos principais intérpretes franceses da nova geração. A sétima arte está no sangue, afinal de contas ele é filho do cineasta Philippe Garrel e da diretora/atriz Brigitte Sy. Começou cedo em frente às câmeras, atuando aos seis anos de idade em Beijos de Emergência (1989), dirigido pelo pai, de quem se tornaria no futuro um colaborador contumaz. Essa parceria dos Garrel trouxe a Louis, entre outras coisas, o César, a maior láurea do cinema francês, de Melhor Estreante Masculino, devido à sua elogiada atuação em Amantes Constantes (2006), passo importante numa carreira em plena ascensão.
Mas, foi nos filmes de Christophe Honoré que Louis Garrel teve seus papeis mais amplamente celebrados. A inclinação de Honoré por evocar as bases da nouvelle vague encontrou no rosto de Garrel uma ponte ideal entre passado e presente. Guardadas as devidas proporções, o jovem nascido em Paris, em 14 de junho de 1983, tornou-se herdeiro imediato de ícones como Jean-Paul Belmondo. Ele não parece se acanhar diante de tamanha responsabilidade, ao contrário, pois mergulha profunda e diversamente na arte do cinema. Recentemente se aventurou na função herdada dos pais, dirigindo e atuando em Dois Amigos (2015), aspirando a voos maiores, experimentando distintos níveis da criação, aos quais desde o berço parecia fadado. E nós, do Papo de Cinema, celebramos o aniversário do astro com a escolha de suas cinco realizações mais importantes e uma que merece ser (re)descoberta. Confira.
Antes de construir parcerias notáveis com Christophe Honoré e com seu próprio pai, o cineasta Philippe Garrel, foi sob a direção do italiano Bernardo Bertolucci que o ator Louis Garrel ganhou a atenção do público e da crítica pela primeira vez. Neste longa passado no ano de 1968, ele interpreta Theo, um jovem francês apaixonado por cinema que vive com sua irmã gêmea, Isabelle (Eva Green), e com os pais em um apartamento de alta classe em Paris. Numa de suas idas à Cinemateca, Theo e Isabelle conhecem o estudante americano Matthew (Michael Pitt) com quem rapidamente desenvolvem uma intensa amizade e passam a dividir diversas experiências. Bertolucci se aproveita do cenário de efervescência cultural e social da França do final da década de 1960 para realizar uma grande homenagem à cinefilia, canalizada pela paixão de seu trio de protagonistas. Empregando todo o seu ar blasé e sedutor, Louis Garrel constrói uma figura misteriosa e complexa. A relação peculiar e de viés incestuoso entre Theo e Isabelle, que ganha ainda mais nuances com a entrada de Matthew, exige uma entrega sem pudores no aspecto da sexualidade e um equilíbrio entre o cinismo e a inocência que Garrel apresenta com competência. – por Leonardo Ribeiro
Louis Garrel interpreta um jovem poeta vivendo, na Paris de 1969, a ressaca dos movimentos contestatórios do ano anterior, que apontaram para uma revolução comportamental e para o sonho da tomada do poder pela juventude progressista, mas que acabaram culminando em expectativas frustradas. Sob a batuta de seu pai, o cineasta Philippe Garrel, que a partir deste filme o escalaria repetidamente como protagonista de seus filmes (foi assim em A Fronteira da Alvorada, de 2008, Um Verão Escaldante, de 2011, e O Ciúme, de 2013), Louis Garrel volta a encarnar, um ano após o inesquecível Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci, a inquietude da juventude francesa daquele período. Seu ar e postura rebeldes e a beleza enigmática contribuem muito para essa recorrente associação da imagem do ator à transgressão da década de 60. Não à toa, foi recentemente anunciado que Garrel interpretará ninguém menos que Jean-Luc Godard, um dos grandes ícones artísticos do período, em cinebiografia/homenagem dirigida pelo vencedor do Oscar Michel Hazanavicius. – por Wallace Andrioli
Louis Garrel está para Christophe Honoré assim como Jean-Pierre Léaud esteve para François Truffaut e Jean-Paul Belmondo para Jean-Luc Godard. Grandes parcerias entre atores e diretores geralmente (e felizmente) se estendem por vários filmes e a regra é comprovada na relação entre Garrel e Honoré, que compuseram seis filmes juntos – sete, se considerarmos o roteiro do segundo para a estreia na direção do ator em Dois Amigos. Aqui eles se unem ao compositor francês Alex Beaupain, numa santíssima trindade que torna o delicado romance musical um dos maiores acertos no currículo do trio. Garrel reitera seu charme característico aliado à sua aveludada voz nas canções que narram amores e desamores parisienses. Protagonizado por românticos incorrigíveis e afetuosamente perdidos, os personagens vagam incapazes de expressar sentimentos de outra forma que não seja pela música. As histórias que se mesclam falam de perdas e descobertas, mas principalmente da impossibilidade do amor em tempos de relações egoístas e fugazes. Ludivine Sagnier, Chiara Mastroianni, Clotilde Hesme e Grégoire Leprince-Ringuet completam um elenco singular, no qual Louis Garrel brilha em uma performance tão melancólica quanto inesquecível. – por Conrado Heoli
Contado de forma não linear, o longa-metragem de Bertrand Bonello tenta abranger boa parte da carreira de seu personagem-título, um dos mais importantes estilistas modernos, a partir de diversos momentos, partindo de uma entrevista que, já mais velho, o ícone resolveu dar a um jornalista. Num emaranhado de perfeccionismo e criatividade, encontramos Saint Laurent em meio ao lançamento de uma nova coleção, e fica evidente a sua dedicação a cada peça da obra fina – o arranjo das cores, o tipo de tecido, os cortes, etc. Entretanto, lá pelas tantas, somos apresentados a Jacques, personagem interpretado com excelência por Louis Garrel, figura que desempenhou papel fundamental para o estilista. Ambos se relacionaram romanticamente, e Jacques acabou dragando Laurent para uma vida de riscos, profundamente ligada às drogas. O longa foi o indicado oficial da França para disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, em 2015, mas acabou ficando de fora. Ao lado de Garrel, no filme ainda estão Gaspar Ulliel, como protagonista, e o aclamado Jérémie Renier, como o empresário Pierre Berger. – por Yuri Correa
Depois da rápida ascensão a ícone do cinema francês contemporâneo, Louis Garrel estreia como diretor. Não sem sair da frente das câmeras, claro. Este filme conta a história da paixão de Clément (Vincent Macaigne) por Mona (Golshifteh Farahani), que, sem saber como chegar ao coração da moça, resolve pedir conselhos a Abel (Louis Garrel). A ajuda, porém, se mostra improdutiva, uma vez que o amigo acaba igualmente interessado nela. Comédia à la francesa, calcada mais em situações inusitadas do que no humor direto, o longa trata dos limites da amizade e do amor – ou da amizade diante do amor – alternando tons leve e melancólico. Destoando dos filmes que se apropriam do requinte visual da capital francesa para ornamentar a história, o filme usa luz baixa, fraco contraste e paleta escura, transmitindo pela ambientação um pessimismo geral, melhor compreendido se lembrarmos que o longa ocorreu em um período tomado pelo medo, com filmagens realizadas entre os ataques ao jornal Charlie Hebdo e à casa de shows Bataclan. Dotado de uma verve psicológica rasa, o romance do trio evolui muito por conta da atuação intensa da franco-iraniana Farahani, legando para além disso o rascunho de um projeto com potencial. – por Willian Silveira
+ 1
Neste longa indicado à Palma de Ouro em 2013, a diretora Valeria Bruni Tedeschi conta a história de Louise (interpretada por ela mesma), uma atriz que se vê obrigada a lidar com sua família, a necessidade de vender o patrimônio familiar – particularmente o castelo ao qual se refere o título –, a doença do irmão e seus anseios pela maternidade. Também escrito por Tedeschi, o filme é autobiográfico em grande parte. Valeria, assim como sua versão ficcional, é uma atriz ítalo-francesa num relacionamento com um jovem ator francês. O ator é interpretado por Louis Garrel, que na vida real teve um relacionamento de cinco anos com a diretora, com quem adotou uma filha em 2009. Além disso, o personagem é filho de um diretor e aparece pela primeira vez sendo dirigido pelo pai, num claro paralelo com a realidade: Louis também atuou em filmes de seu pai, Philippe Garrel. Apesar de não ser necessário conhecer a carreira de Valeria Bruni Tedeschi para apreciar o filme, ele certamente se torna mais interessante quando se leva em conta o aspecto autobiográfico. É uma chance de ver como a diretora escolheu retratar a si mesma, sua família e seu relacionamento amoroso. – por Marina Paulista