Sucesso nos palcos, a peça de João Falcão foi adaptada para a tela grande por Daniel Filho, que aqui entrega, curiosamente, um dos seus filmes mais sensíveis e menos ‘televisivos’, se assim podemos dizer. A história se passa em dois momentos – no hoje e no passado – e tem como motivação as indagações que uma mulher de 50 anos começa a ter a respeito da própria vida, sobre suas escolhas, erros e acertos. Marieta surge ao lado de Antônio Fagundes, formando um casal de impressionante química – os dois já haviam atuado juntos em O Corpo (1991), pelo qual ela foi premiada no Festival de Brasília – mas causa espanto mesmo a delicada sintonia que os dois estabelecem com suas versões mais jovens, encarnadas pelos talentosos Débora Falabella e Rodrigo Santoro. O quarteto demonstra com eficiência e sem exageros o quanto cada casal estava ligado ao outro, refletindo com perfeição os atos de uns nas consequências percebidas nos outros. Porém, que não se duvide: aqui os homens são coadjuvantes, e Falabella é o contraponto que serve, basicamente, para reforçar a figura que encontramos no presente. Severo consegue abranger toda essa miríade de sentimentos, anseios e frustrações sem exageros, nem desperdícios, indo ao ponto certo de uma história absolutamente feminina, na qual abre espaço para as mesmas indagações vivenciadas por milhares de mulheres também no lado de cá da realidade.