Matthew Paige Damon poderia ter se contentado com o Oscar recebido em 1998 pelo roteiro de Gênio Indomável (1997) e terminado a carreira como um rostinho bonito e premiado. Afinal, com apenas 27 anos já tinha em mãos a estatueta mais cobiçada do meio cinematográfico. Porém, o ator queria mais e, a partir disto, conseguiu diversificar seus papéis, do drama à comédia, da ação ao suspense, sempre com alta qualidade. Se por um lado ele soube fazer rir com Ligado em Você (2003), por outro conseguiu emocionar a plateia com O Resgate do Soldado Ryan (1998), assim como em Invictus (2010), pelo qual foi novamente lembrado no Oscar, desta vez como ator coadjuvante.
Grande amigo de Ben Affleck, Damon construiu uma carreira sólida e menos controversa do que o parceiro, atingindo não apenas o sucesso perante a crítica, mas também com o público, especialmente com a Trilogia Bourne (2002, 2004 e 2007). Para comemorar os 43 anos do ator, a serem completados no dia 8 de outubro de 2013, a equipe do Papo de Cinema resolveu escolher seus cinco melhores filmes – e aquele que merece uma menção honrosa. E olha que opções não faltaram!
Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997)
Por Dimas Tadeu
Sem dúvida, o primeiro grande marco na carreira do artista. Ainda com 27 anos, Damon ganhou seu único Oscar pela co-autoria do roteiro de Gênio Indomável (escrito com Ben Affleck), além de acumular uma indicação para Melhor Ator por estrelar o filme. O papel de Will Hunting, jovem zelador do MIT que acaba demonstrando ter talento excepcional para a ciência, embora o recuse, caiu como uma luva, já que o ator parecia bem mais novo e combinava uma beleza angelical com um jeitão “rebelde sem causa”. Além de tornar Damon um dos “rostinhos bonitos” mais famosos do cinema, o filme traz uma de suas melhores atuações (performance que provavelmente só foi igualada em Invictus, 2009) e é um emocionante conto de auto conhecimento e superação pessoal.
O Talentoso Ripley (The Talented Mr. Ripley, EUA, 1999)
Por Robledo Milani
Logo após aparecer pela primeira vez no radar de Hollywood, ao protagonizar e roteirizar o oscarizado Gênio Indomável (1997), Matt Damon mostrou que possuía muito mais a oferecer com uma trama que combinava suas habilidades enquanto intérprete aliadas a um impressionante faro artístico. O resultado foi O Talentoso Ripley, adaptação do romance de Patricia Highsmith. O personagem, aliás, também não era novo em cena – já havia sido levado às telas por Wim Wenders em O Amigo Americano (1977). Ainda assim, Damon foi capaz de ir além do material literário e da encarnação anterior e criar algo novo e independente, com força suficiente para se manter além de suas origens. A história do pobre rapaz que, para crescer na vida, usa os amigos e conhecidos numa ambição desmedida, combinada com um subtexto (homo)sexual de alto teor erótico, cativou espectadores até então desconfiados. Jude Law pode ter conseguido a indicação ao Oscar (uma das cinco recebidas pelo filme), Cate Blanchett e Gwyneth Paltrow disputaram a atenção do protagonista e até Philip Seymor Hoffman teve oportunidade de mostrar, mais uma vez, seu talento camaleônico. Mas a imagem que fica é a do pobre Ripley, que, por tanto querer, (quase) ficou sem nada. Destino contrário ao deste ator, Matt Damon, que aqui mostrou de fato estar dando início a uma jornada tão ambiciosa quanto a do personagem – mas com talento para tanto.
Os Infiltrados (The Departed, 2006)
Por Matheus Bonez
Martin Scorsese conseguiu realizar um feito que poucos cineastas são capazes ao dirigir o remake do sucesso de Hong Kong Conflitos Internos (2002): fazer uma obra superior a um material que já era excelente por natureza. E se a sua marca autoral aparece em cada quadro de Os Infiltrados, o que lhe rendeu um merecido e tardio Oscar de Melhor Direção, seu elenco não deixa por menos. Leonardo DiCaprio, Jack Nicholson, Mark Wahlberg, entre tantos outros, estão acima da média. Porém, quem acaba se destacando é Matt Damon em um papel fora do usual em sua carreira, o de um vilão, por assim dizer. Tudo bem que ele já havia feito algo relativamente do gênero em 1999 com O Talentoso Ripley, mas aqui seu Sullivan, protegido do mafioso irlandês de Nicholson, é a personificação do mau caratismo, da falta de ética e da maldade por natureza. Sua rivalidade com Billy (DiCaprio) é acentuada à medida em que o filme avança, assim como seus dilemas morais – por mais que eles sejam deixados de lado quando o clímax se aproxima. E tudo isto com a naturalidade que só um grande ator consegue passar para o público. Definitivamente, um dos melhores trabalhos de sua carreira.
O Ultimato Bourne (The Bourne Ultimatum, 2007)
Por Rodrigo de Oliveira
Contrariando a máxima hollywoodiana de que o terceiro filme de qualquer trilogia será sempre o mais fraco da série, O Ultimato Bourne surpreende e mostra-se o mais forte episódio estrelado por Matt Damon como o desmemoriado agente Jason Bourne. Novamente dirigido por Paul Greengrass, o filme traz de volta todos os elementos que fizeram os episódios anteriores bem sucedidos: ação na dose certa, inteligência na trama, locações nos mais variados locais do mundo, perseguições de tirar o fôlego, atores excelentes e uma trilha sonora inspirada. Damon é o grande destaque no elenco, conseguindo mostrar muito bem as mudanças pelas quais Bourne sofre no decorrer da história. O personagem se transforma e evolui com o passar do tempo, demonstrando preocupação dos roteiristas em mostrar o agente como um ser humano e não apenas um grande herói infalível. Enquanto que no primeiro filme da série, Bourne derrubava seus oponentes no instinto, neste episódio, ele está muito mais ciente de suas habilidades e consegue armar planos mirabolantes para conseguir seus objetivos. Matt Damon sabe desta constante evolução de seu personagem e consegue, mais uma vez, se destacar como um ator de ação.
O Desinformante! (The Informant!, 2009)
Por Danilo Fantinel
A história do alto executivo da indústria de alimentos envolvido em um cartel global e que passa a colaborar em uma investigação do FBI mostra que o papel de informante não serve para qualquer pessoa – muito menos para bipolares com fortes tendências à mentira e à omissão. No filme de Steven Soderbergh, baseado em fatos reais e marcado por tons âmbar que caracterizam o amarelo do milho produzido pela ADM e o ouro da fortuna que a empresa acumula, Matt Damon interpreta um empresário dividido entre a esperteza e a ingenuidade. Mark Whitacre sabe tudo sobre os esquemas corporativos, mas não os revela por inteiro às autoridades. Por outro lado, solta a língua entre colegas, amigos e imprensa. Seu perfil escorregadio tem raiz em seu caráter dúbio e contraditório, que o leva a delatar o escândalo financeiro criado por ele mesmo. Sua percepção confusa o coloca em uma rede de espionagem com ares de comédia de erros, marcada pelos seus comentários prosaicos em off e pela trilha sonora composta por jazzies, easy listenings, bossas e countries cômicos. Matt Damon, gordinho, dá peso e concretude à personalidade aérea e sem noção de Mark.
+1
Minha Vida com Liberace (Behind The Candelabra, 2013)
Por Renato Cabral
Ovacionado no Festival de Cannes e lançado comercialmente somente nos cinemas da França, Minha Vida com Liberace traz uma parte da história de Liberace, pianista e figura carismática da cultura americana. Apesar da facilidade de lançamento com os franceses, em terreno americano não foi bem assim. Produtores não quiseram investir no filme, pois não sabiam como lançá-lo. Segundo eles, era um filme muito gay. Coitados. Um verdadeiro tiro no pé, já que o resultado final é uma produção digna de Oscar, elogiada por público e crítica. Lançado diretamente na televisão pela HBO, o filme rapou o Emmy desse ano. Michael Douglas é Liberace e Matt Damon interpreta seu amante, Scott Thorson. Apresentando também uma das melhores interpretações de toda a carreira de Douglas, seria fácil ser ofuscado. Porém, Damon entrega uma performance dedicada e sem afetações. Mais que isso, como uma dupla de protagonistas, Damon e Douglas encontram uma química perfeita, mesmo com a grande diferença de idade, e se despem de qualquer pudor.
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