Já faz um bom tempo que Mel Gibson anda afastado dos holofotes. Antes de assumir que tem problemas com alcoolismo e ofender a comunidade judaica com algumas ideias não muito amigáveis, o astro de comédias e filmes de ação já foi cogitado até para ser James Bond nos cinemas. Maior requisito não poderia haver: Sean Connery, a encarnação original de 007 nas telonas. E este foi apenas um dos casos em que o galã quase assumiu personagens importantes da história do cinema como Batman e algum dos X-Men, ainda mais seu físico que é lembrado como uma mistura de Clark Gable e Humphrey Bogart.
Vencedor de dois Oscar (Melhor Filme e Direção) por Coração Valente, Mel Gibson se arriscou mais vezes atrás das câmeras e causou polêmica ao filmar com mais veracidade a história de Jesus em A Paixão de Cristo (2004). Enquanto aguarda o astro voltar a ter mais destaque nas telas, a equipe do Papo de Cinema resolveu comemorar seu aniversário no dia 3 de janeiro. É claro, com seus cinco melhores trabalhos e aquele que não deve ficar de fora. Confira!
Se hoje Mel Gibson está numa espécie de limbo por conta de declarações e comportamentos polêmicos, há não tanto tempo ele era amplamente celebrado em Hollywood. E um dos papeis que lhe proporcionou esse status foi Max Rockatansky, do hoje cultuado Mad Max, seu terceiro longa-metragem, que depois se desdobrou em franquia (próxima de ser reativada, sem Gibson). Dirigido pelo australiano George Miller, o filme, mistura de western e ficção científica ambientado numa realidade pós-apocalíptica, coloca o policial rodoviário interpretado por Mel Gibson na luta contra a marginalidade personificada em gangues de motocicleta. Não tarda, e a cruzada de Max contra os que cortam o deserto espalhando o terror se torna pessoal. Portanto, de agente da lei passa a vingador. Mel Gibson faz em Mad Max seu primeiro protagonista icônico, um personagem que não demorou muito a grudar no imaginário cinéfilo, boa parte em virtude de seu talento, mas também como consequência da inventividade de Miller na construção sui generis de um mundo em que a desolação e a miséria humana parecem igualmente fracionadas entre passado e futuro, aludindo a ambos. – por Marcelo Müller
A década de 1980 teve vários de filmes de ação memoráveis, e um deles certamente é Máquina Mortífera. Aqui, Danny Glover interpreta Roger Murtaugh, policial veterano que sente estar ficando velho demais para seu trabalho. É então que ele é obrigado a trabalhar com o Martin Riggs de Mel Gibson, policial que perdeu a esposa recentemente e parece estar prestes a cometer suicídio a qualquer momento. Juntos, os parceiros tem que lidar com suas diferenças para prender um grupo de traficantes de drogas. Sendo um típico filme de buddy cop, não tem sua principal força nas cenas de ação (que ainda assim são empolgantes e muito bem conduzidas por Richard Donner), mas sim em seus personagens carismáticos. E nesse sentido o filme encontra uma dupla brilhante em Glover e Gibson, que tem uma dinâmica impecável em cena como Murtaugh e Riggs. Nosso homenageado, em especial, faz de Martin Riggs uma verdadeira bomba relógio, se saindo muito bem no modo como trata o drama vivido pelo personagem. O ator retornaria ao personagem nos três exemplares seguintes, que podem não ter ficado tão populares quanto seu original, mas fazem de Máquina Mortífera uma franquia bem divertida. – por Thomás Boeira
Foram várias as parcerias entre o diretor Richard Donner e o ator Mel Gibson. A mais lembrada, certamente, é a quadrilogia Máquina Mortífera, clássico do cinema de ação. Mas existe outra produção que merece destaque principalmente pela forma divertida e envolvente que trama sua história. Maverick foi um remake de uma série popular de televisão que colocava Mel Gibson como o personagem título, um jogador inveterado que tem como objetivo jogar nas grandes mesas de pôquer – e a principal delas é o campeonato All Rivers, realizado em um barco de luxo. Para conseguir o intento, precisará passar pelo perigoso pistoleiro Angel (Alfred Molina), pela interesseira trambiqueira Annabelle (Jodie Foster), pelo homem da lei Zane Cooper (James Garner) e por um sem número de outras aventuras até poder sentar nas mesas de jogo do inescrupuloso Comodoro Duvall (James Coburn). Maverick é uma montanha-russa, cheio de momentos engraçados, aventurescos e com personagens cativantes. Mel Gibson está no seu melhor, convencendo como um charmoso jogador sempre preparado para o próximo golpe – mesmo que seja enganado por quase todos os seus “amigos” durante a história. – por Rodrigo de Oliveira
Até 1995, Mel Gibson era apenas o cara das sagas Mad Max e Máquina Mortífera – e com um ou outro filme razoavelmente diferenciado, como a versão de Hamlet (1990) de Franco Zeffirelli que ninguém fez questão de assistir. Mas daí que o ano começou e surgiu essa surpresa – lançada em maio nos Estados Unidos e em julho no Brasil – um épico não só estrelado, mas também dirigido pelo astro. O choque foi tão grande que sua imagem à cavalo como o revolucionário William Wallace, homem responsável por ter lutado pela independência da Escócia no século XIV, foi tão forte que persistiu na memória dos votantes do Oscar até a temporada seguinte de premiações. Gibson, que à princípio não queria interpretar o protagonista por se achar muito velho para o papel, estreou como realizador com um longa direcionado aos mais diversos tipos de públicos: muita ação, romance, momentos íntimos alternados com outros grandiosos, equilibrados com uma segurança rara de se encontrar em novatos como ele. Por isso, o Oscar que conquistou por este desempenho não foi nenhuma surpresa, assim como as outras quatro estatuetas ganhas: Melhor Filme, Fotografia, Efeitos Sonoros e Maquiagem, um total de cinco prêmios dentre dez indicações. Bom demais para quem estava só começando, não? – por Robledo Milani
Antes de se entregar a uma triste indulgência que transformou suas boas ideias em obras falhas e cada vez mais desinteressantes, M. Night Shyamalan conseguiu realizar alguns bons filmes que prometiam um diretor muito melhor do que este que ele veio a se tornar. Um desses foi Sinais, um suspense construído com cuidado, que dá seus paços pacientemente em um ritmo cada vez mais tenso rumo a um clímax inebriante. Mel Gibson vive aqui um reverendo que desistiu de suas crenças após a morte da esposa em um acidente de carro. Em conflito com sua fé, pai de duas crianças incomuns e vivendo com o irmão traumatizado por sua carreira esportiva, Graham é posto a teste quando estranhos símbolos aparecem em sua plantação de milho, evento que é seguido de outros estranhos sinais ao redor do mundo que indicam a vinda de extraterrestres. À sombra deste suspense, o longa arranca bons e bem arquitetados sustos ao passo em que cria com maestria um drama tátil para que nos importemos com a família encabeçada por Gibson. – por Yuri Correa
Se Mel Gibson não é tão conhecido por sua veia dramática talvez o problema seja do próprio ator, que já teve muito cacife para escolher seus papéis. Uma das grandes chances que ele aproveitou foi justamente após levar o Oscar para casa pelo já citado aqui Coração Valente. Em O Preço de um Resgate, Gibson é Tom Mullen, um rico empresário do ramo da aviação. Um dia no parque, seu filho é sequestrando, gerando uma série de transtornos e desespero para o protagonista e sua esposa, Kate (Rene Russo). O diretor Ron Howard extrai uma grande atuação de Gibson, que tem suas melhores cenas quando discute (calorosa ou amorosamente) com sua esposa defendida por Russo. A interpretação foi tão marcante que o galã foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator em Drama. Uma pena que o filme pareça ter sido esquecido ao longo dos anos, pois é um belo trabalho sobre não apenas sequestros e resgates, mas sobre dramas internos de uma família. – por Matheus Bonez