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5+1 :: Mia Farrow

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Mia Farrow é um daqueles casos à parte da história do cinema. Casou com Frank Sinastra em 1966 e, dois anos depois, se separou por ele não aguentar seu sucesso por O Bebê de Rosemary (1968). Depois veio a turbulenta relação de doze anos com Woody Allen que rendeu diversos filmes. A intérprete pode nunca ter sido lembrada no Oscar (o que muitos atribuem, primeiro, à sua constante parceria com Allen e, depois, pela polêmica envolvendo a separação dos dois). Nem por isso deixou de ser indicada seis vezes ao Globo de Ouro (sendo vencedora na primeira como atriz revelação) além de três Baftas, num total de sete vitórias e 21 indicações em variadas premiações.

Aliás, desde o término do relacionamento com o cineasta neurótico, Farrow tem aparecido cada vez mais em produções cinematográficas e se dedicando às causas sociais, especialmente de 2000 em diante, quando foi nomeada embaixadora da boa vontade da UNICEF. Para nós, no entanto, o que se destaca é sua importante carreira e, aproveitando seu aniversário neste dia 9 de fevereiro, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger seus cinco melhores filmes – e mais aquele que merece uma atenção especial. Confira!

 

O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby, 1968)
Por Conrado Heoli
Um carrinho preto de bebê sobre uma colina e a frase “reze para o bebê de Rosemary“. Assim, um dos melhores filmes de horror de todos os tempos foi apresentado para sua audiência, que, mesmo conhecendo o livro que lhe deu origem, não fazia ideia do que estava por vir. Para dar vida a personagem título, uma inspirada Mia Farrow, naquele que pode ser o grande papel de sua carreira – sua voz trêmula e corpo esguio apenas amplificaram o alcance de sua excepcional performance. Enquanto vaga assustada por um grande apartamento, temendo influências externas e até mesmo seus vizinhos e o marido (John Cassavetes), ela parece completamente sem consciência de que o mal já está instalado dentro de si própria. A preocupação da atriz em compor uma persona psicologicamente frágil e vulnerável ganha contornos impressionantes com o desenrolar do enredo e a partir das sombrias notas de Roman Polanski, que apresenta aquela que para muitos é sua obra-prima em seu debute no cinema norte-americano. A produção é de William Castle, expert no gênero que com este roteiro esperava realizar um filme de monstros para adultos, e que conseguiu assinar um filme adulto sobre os monstros que vivem junto a nós. Um grande feito para ele, para Polanski e para a irretocável Farrow – que se não conseguiu arrancar arrepios de seus espectadores, ao menos criou moda com seu corte de cabelo extremamente curto. E se no passado deveríamos rezar pelo bebê de Rosemary, hoje a oração é para que a já alardeada notícia de um remake permaneça distante da realidade e longe das salas de cinema.

 

John & Mary (John and Mary, 1969)
Por Matheus Bonez
Muito antes de Richard Linklater estourar com a trilogia estrelada pelos personagens Jesse & Celine ou até mesmo de Meg Ryan e Billy Cristal darem um novo sentido às comédias românticas com Harry e Sally: Feitos um para o Outro (1989), Peter Yates dava um novo ar aos romances no final dos anos 1960. O comportamento sócio-romântico-sexual, assim definamos, estava mudando com a era hippie e a profusão das mulheres lutando por igualdade de gênero. E este filme com a premissa básica de dois desconhecidos que vão para a cama após se encontrarem numa noite em um bar já ganhava pontos por este contexto inusitado para a época. Se hoje ainda se debate como é possível manter um relacionamento que começa baseado em sexo, imagine como era a mentalidade quase 50 anos atrás? Pois John & Mary (aliás, bem sugestivo o título) retrata tudo com naturalidade, desenvolvendo o casal vivido por Dustin Hoffman e Mia Farrow sem tabus. E se o ator já tinha talento de sobra à vista de todos, Farrow demonstra toda sua versatilidade como a graciosa Mary, se despindo da aura assustada de Rosemary no clássico de Roman Polanski. Um belo trabalho que a fez ser indicada ao Globo de Ouro como Melhor Atriz em Comédia ou Musical.

 

O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 1974)
Por Robledo Milani
Muito antes de Carey Mulligan deixar Leonardo DiCaprio encantado na versão histriônica de Baz Luhrmann, era Mia Farrow que dava as cartas como a milionária mimada e cheia de caprichos nessa versão do romance de F. Scott Fitzgerald, cujo roteiro foi escrito por ninguém menos do que Francis Ford Coppola. Ao contrário da persona humilde e um tanto acanhada que tantas vezes deu vida nos filmes dirigido pelo seu então companheiro Woody Allen durante a maior parte dos anos 1980, aqui Farrow se mostra radiante e cheia de vida, brincando com os homens ao seu redor de acordo com o seu bel prazer, em especial com o enigmático Gastby, personagem que caiu como uma luva no belo, porém distante, Robert Redford. Sem ser a primeira, muito menos a última, adaptação para a tela grande dessa história clássica, essa é provavelmente a mais bem sucedida e em muito se deve à escolha dos protagonistas, que revelam uma insuspeita química entre si decisiva, no entanto, para dar credibilidade  à trama. Mia Farrow pode ter construído sua carreira com uma personalidade frágil e, ao mesmo tempo, ameaçadora, e talvez por isso mesmo seja tão bom vê-la num personagem tão exuberante e encantador como esse.

 

A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, 1985)
Por Rodrigo de Oliveira
Todo mundo tem uma produção que já conferiu dezenas de vezes. Muitos, de tanto assistir, já até sabem as falas e as situações de trás para frente. Mas, por mais que você tenha visto e revisto um filme, algum dia um personagem já olhou para você e perguntou o porque da insistência em assisti-lo? Melhor ainda: saiu da tela e interagiu com você? Bom, é isso que aconteceu à Cecília em A Rosa Púrpura do Cairo, clássico dirigido por Woody Allen e, sem sombra de dúvidas, a melhor das parcerias entre o cineasta e sua ex-mulher, Mia Farrow. Na trama, Cecília (Farrow) tem uma vida difícil. Tem um marido (Danny Aiello) que não a ama e a destrata, tem um emprego ruim (quando tem) e a única coisa que a diverte são as recorrentes idas ao cinema. Depois de assistir inúmeras vezes ao filme A Rosa Púrpura do Cairo, um dos personagens do longa, Tom Baxter (Jeff Daniels), nã0 se segura, fala com a moça e abandona a telona. Essa situação fantasiosa é só o ponto de partida para muitas outras confusões – e desilusões. O elenco entrega belas performances e Mia Farrow é, certamente, o destaque, interpretando Cecília de uma maneira doce e insegura, se deixando levar sempre pelo o que ela considera real (mesmo não o sendo). Inesquecível.

 

Simplesmente Alice (Alice, 1990)
Por Marcelo Müller
Mesmo não sendo um dos melhores filmes de Woody Allen, se há algo que se destaca, e muito, em meio aos desacertos deste longa é Mia Farrow. Sua personagem é uma dondoca que, lá pelas tantas, se interessa pelo pai de um colega do filho. Essa atração abala as certezas da mulher sem maiores preocupações, com um casamento estável onde, contudo, falta paixão. Vítima de constantes dores nas costas, ela procura um médico chinês, especialista em acupuntura e ervas medicinais, que a diagnostica como vítima de problemas emocionais e não físicos. As prescrições do Dr. Yang têm efeitos estranhos. Alice perde a inibição – inclusive para chamar seu interesse a um encontro amoroso – torna-se invisível, voa, se comunica com os mortos, etc. Nesse samba do crioulo doido nem sempre afinado, o melhor mesmo é Mia Farrow, ela que alterna com muita habilidade os diferentes registros da protagonista, da ricaça que passa os dias entre compras, salão e beleza e visitas aos amigos igualmente cheios de grana, à mulher que conhecerá melhor a si e aos seus com a ajuda dos poderes orientais. Um grande trabalho de interpretação, sem dúvida, que lhe valeu o prêmio de Melhor Atriz do ano no National Board of Review e indicações ao Globo de Ouro (EUA) e ao David di Donatello (Itália).

 

+1

 

Morte Sobre o Nilo (Death on the Nile, 1978)
Por Matheus Bonez
Seguindo a mesma linha de Assassinato no Expresso Oriente (1974), este longa também é baseado em uma obra de Agatha Christie que conta com um elenco grande e primoroso, além, é claro da presença do detetive Hercule Poirot, desta vez na pele de Peter Ustinov. Pois dentre um elenco que conta com Ustinov, Jane Birkin, Bette Davis, Angela Lansbury e Maggie Smith, poderia ser uma tarefa complicada para Mia Farrow se destacar como Jacqueline De Bellefort. E, realmente, ao longo do filme, sua personagem, a melhor amiga da vítima de um crime que Poirot precisa solucionar, parece perfeita e até chata demais. É claro que, assim como qualquer enredo da escritora policial, nada é o que parece ser, e a atuação de Farrow ajuda a entendermos mais ainda desta complexa personalidade, que parece tão rasa de início. Além de tudo, o longa é um daqueles suspenses deliciosos em que tentamos a todo momento acertar quem é o assassino para nos surpreendermos com o final. Assim como toda boa obra de Agatha Christie sempre faz com seu leitor ou espectador.

 

 

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