Estrela do seriado Dawson’s Creek (1998-2003), Michelle Williams é uma das atrizes que melhor conseguiu fazer a transição da carreira da televisão para o cinema. Quando ainda estava focada no público adolescente e jovem adulto, apareceu em filmes como Halloween H20: Vinte Anos Depois (1998), Nunca Fui Santa (1999) e na divertidíssima comédia Todas as Garotas do Presidente (1999), onde mostrou sua versatilidade do drama para o timing cômico. Não demorou muito após o término da série de TV para que Williams ganhasse destaque como “atriz séria”, trabalhando em produções como Geração Prozac (2001), O Agente da Estação (2003) e O Mundo de Leland (2003). Dois anos depois, seria uma das estrelas de O Segredo de Brokeback Mountain (2005), pelo qual teve sua primeira indicação ao Oscar.
A beleza mais simples da atriz sempre chamou a atenção dos estúdios, ainda mais por ela não se encaixar no padrão diva, tornando mais fácil para que ela encarasse todos os tipos de papéis. Não à toa foi novamente lembrada pela Academia como a amargurada amante que não sabe o que fazer com seu relacionamento em Namorados para Sempre (2010). Além disso, conseguiu fazer um retrato fiel da complexa Marilyn Monroe, ficando tão bela quanto a”original” e sendo novamente indicada ao Oscar pelo papel por sua atuação em Sete Dias com Marilyn (2011). Ao trabalhar com diretores como Martin Scorsese e Ang Lee, Williams mostra que tem muito ainda a mostrar para os espectadores. No dia 9 de setembro ela completa mais um aniversário e a equipe do Papo de Cinema resolveu homenagear a estrela lembrando seus cinco melhores filmes e mais um que, apesar de não muito visto, merece ser lembrado. Confira!
O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005)
Por Robledo Milani
Atriz adolescente que primeiro chamou atenção na televisão, Michelle Williams sempre foi marcada por suas escolhas cinematográficas, indicando desde cedo que não iria se contentar em apenas ser mais uma estrela descartável dos tabloides de fofocas juvenis. E dentre todos os títulos que participou no início de sua carreira, talvez o mais marcante, aquele que hoje pode ser encarado como um “divisor de águas”, foi esse drama dirigido por Ang Lee em que fazia par com o seu então marido na época, o saudoso Heath Ledger. No papel de Alma, a jovem dona de casa que logo assume sozinha as responsabilidades do lar, sem entender ao certo o que se passa no universo tão fechado do marido, ela oferece ao espectador um contraponto delicado e eficiente ao drama romântico homossexual vivido por Ennis (Ledger) e o caubói Jack Twist, vivido por Jake Gyllenhaal. Ser traída já é difícil, agora por um outro homem foi um desafio ainda mais complicado de lidar, mas do qual ela se sai com respeito e muita sensibilidade. Tal desempenho lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao Bafta, além de ter sido premiada no Critics Choice Awards. Reconhecimento à altura de uma performance arrebatadora.
Wendy e Lucy (Wendy and Lucy, 2008)
Por Marcelo Müller
Wendy e Lucy é um filme de dramaturgia minimalista. A trama vai se desenrolando aos poucos, ao sabor dos minutos que parecem transcorrer em meio à ocorrência aparente de nada. Wendy (Michelle Williams) passeia com sua cadela por trilhos de trem, dorme junto dela num carro, e ficamos nos perguntando: o que fazem as duas ali, perdidas, sem eira nem beira? Lucy, a companheira canina, some lá pelas tantas, para logo depois ser encontrada junto de moradores de rua. O desespero de Wendy ao perder sua amiga denota que ela, a parceira de quatro patas, é como que seu único sustentáculo emocional, uma ligação afetiva com o mundo que parece ter lhe impingido tristezas, decepções e afins. Wendy entra numa espiral de decisões erradas, quase infantis. E se sentimos um misto de raiva e pena, isso não é somente por conta do talento da encenação da diretora Kelly Reichardt, mas, e sobretudo, em virtude do trabalho preciso de Michelle Williams, atriz que aqui investe na expressão de um crescendo emocional muito crível, de difícil concepção cênica. O cinema e a vida são diferentes, possuem, espaços e tempos distintos, mas Williams consegue fazer-se parecer real, sem com isso descolar-se da ficção, o que, convenhamos, é muito difícil.
Namorados para Sempre (Blue Valentine, 2010)
Por Rodrigo de Oliveira
Namorados para Sempre ousa contar a história de um casal pelas duas pontas: a do início do relacionamento e a do final. O diretor Derek Cianfrance conta com uma dupla inspirada de atores para dar vida aos personagens da trama, escorando-se totalmente na performance excepcional de Michelle Williams e Ryan Gosling. Para chegar ao resultado final, ambos passaram um mês juntos, conhecendo um ao outro para dar maior liga na tela. E é interessante notar que, ao vermos os dois em cena, temos a impressão de estarmos testemunhando um relacionamento verdadeiro ruindo. A forma como os dois interagem – falando ao mesmo tempo, tentando gritar mais alto que o outro ou apenas deixando o outro ganhar o argumento momentaneamente – é incrivelmente verossímil e Cianfrance utiliza deste pseudo-realismo para contar melhor sua história. Williams consegue pontuar muito bem os dois momentos do personagem – chamando atenção pela amargura do presente. E Gosling está incrível como o inconsequente marido, que não consegue enxergar o quanto tem deixado sua mulher triste com suas atitudes. Ambos mereciam indicações ao Oscar por suas performances, mas apenas a atriz foi lembrada pela Academia, recebendo sua segunda indicação na época.
Sete Dias com Marilyn (My Week With Marilyn, 2011)
Por Conrado Heoli
Numa personificação que calou qualquer acusação pregressa sobre sua escolha para interpretar a mítica Marilyn Monroe, Michelle Williams entrega aquele que poderia ser o papel de sua carreira – não fosse a jovem atriz constantemente tão versátil e magnifíca. Despida de qualquer traço característico ou maneirismo que a revele através das curvas da protagonista de Sete Dias com Marilyn, Williams flutua durante todo o longa e apresenta perfeitamente as menores particularidades de Miss Monroe, como aquele suspiro rítmico enquanto canta, seu olhar, ora levemente assustado ora sedutor e penetrante, e a imensa vulnerabilidade e ambiguidade daquela que permanece como a mais icônica atriz norte-americana. Compreendendo Marilyn e Norma Jean como duas personagens completamente distintas, Williams eclipsa todo o grande elenco do filme – como tão bem fazia a própria Marilyn – que inclui as aparições de Judi Dench, Emma Watson e até mesmo Kenneth Branagh como Sir Laurence Olivier. Numa composição que ouso apontar como ainda mais tridimensional do que a própria Marilyn Monroe jamais pode ser, Michelle Williams merecia o Oscar ao qual foi indicada, principalmente por criar uma lúgubre e tocante imitação da atriz que representa e também por ser maior que o próprio filme de Simon Curtis.
Entre o Amor e a Paixão (Take This Waltz, 2011)
Por Willian Silveira
Entre o Amor e a Paixão estreou no Brasil no final de 2012. A estratégia foi tentar vendê-lo junto a enxurrada dispensável de comédias românticas natalinas-renovação-de-esperança que entopem os cinemas no período. O fracasso foi retumbante. Take This Waltz (no original, como a música de Leonard Cohen) decepcionou os sedentos por histórias convencionais de amor, ao mesmo tempo em que viu o público em potencial afastado pelo péssimo título nacional. Segundo longa da atriz e diretora canadense Sarah Polley, Entre o Amor e a Paixão é um filme peculiar, construído no alternar de momentos estranhos, instáveis e delicados. Michelle Williams é a jovem Margot, cujo confortável casamento com o chefe de cozinha Lou (Seth Rogen) é questionado após conhecer Daniel (Luke Kirby). O amor e a paixão se livram, aqui, da trivialidade e superficialidade do gênero para encararem com maturidade uma situação legítima: a dúvida.
+1
O Atalho (Meek’s Cutoff, 2010)
Por Thomás Boeira
Lançado em 2010, praticamente passou batido pelos cinemas, o que não deixa de ser uma surpresa considerando que seu elenco é cheio de bons nomes, como Will Patton, Paul Dano, Bruce Greenwood e, claro, Michelle Williams. Ambientado em 1845, o filme é um western atípico, que acompanha um grupo de pessoas no meio de um deserto no Oregon, retratando a luta delas para sobreviver com seus recursos limitados depois que o atalho conhecido por seu guia, Stephen Meek (Greenwood), acaba fazendo todos se perderem e alongarem desnecessariamente a jornada. E a dinâmica entre todos piora depois que um índio surge no caminho, sendo que o conhecimento que ele tem sobre a região pode se mostrar mais confiável do que o de Meek. Calmo no desenvolvimento da história, o filme consegue prender a atenção pela tensão envolvida nas relações entre os personagens, algo que se estica por toda a viagem que eles têm que fazer. Como Emily Tetherow, esposa de Solomon Tetherow (interpretado por Patton), Michelle Williams cria uma personagem determinada, que consegue encarar a força dos homens ao seu redor, ao contrário das outras figuras femininas do filme. É uma bela atuação em uma obra que merece ser mais vista.
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