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5+1 :: Murilo Benício

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Quando ele era pequeno, viu Charles Chaplin e se apaixonou. Quis atuar logo cedo, mas morria de medo de subir no palco. Hoje em dia continua tímido, mas se liberta em frente às câmeras. Murilo Benício fez o caminho “normal”, assim digamos, da sua geração: estreou nas telenovelas da Rede Globo, mas logo conquistou diretores consagrados para estrelar filmes que conquistaram seu lugar na história da filmografia brasileira. Não importa se o papel é pequeno ou principal. O intérprete se joga nos personagens. Afinal, como o próprio uma vez afirmou, se o ator “está interpretando uma pessoa, não vai fazê-la menor porque aparece menos. Acho que isso é o que faz as pessoas notarem o esforço, a disposição, a vontade.” Não à toa já recebeu 20 indicações e ganhou 12 prêmios entre seus trabalhos para o cinema e a televisão. Além de tudo, é considerado sex symbol, mesmo não sendo o estereótipo de bonitão das telas por ser mais cheinho, barbudo e menos preocupado com a aparência de galã. Talvez seja justamente o jeito simples e marrento que conquista. No dia 13 de julho o ator completa mais um aniversário e a equipe do Papo de Cinema homenageia o ator com a escolha de seus cinco melhores trabalhos, além, é claro, de um que merece ser revisto. Confira!

 

Os Matadores (1997)
Estreia do cineasta Beto Brant, premiada em diversos festivais e que figura entre os filmes marcantes da Retomada do Cinema Brasileiro dos anos 90. Um longa que se arrisca com competência pelo cinema de gênero, o policial, pouco explorado pelas produções nacionais, ao contar a história de dois matadores de aluguel que passam a noite em um bar na fronteira Brasil-Paraguai a espera de seu próximo alvo. Enquanto aguardam a vítima, os assassinos relembram casos passados, entre eles a morte de outro conhecido pistoleiro. Iniciando aqui sua parceria com o escritor Marçal Aquino, Brant conduz uma trama bem amarrada de idas e vindas temporais, já demonstrando seu domínio cênico e técnico, e construindo uma atmosfera de suspense onde a preparação importa tanto, ou mais, do que a ação em si. Outro ponto alto é o elenco, que conta com Chico Diaz, Wolney de Assis, Maria Padilha, Stênio Garcia e Murilo Benício, que em seu segundo papel cinematográfico ainda carrega alguns tiques de seus trabalhos na TV, como o sotaque carioca pesado e a dicção peculiar, mas que acabam funcionando na composição do personagem Toninho, um ladrão de carros ambicioso que “debuta” como matador e guarda seus segredos. – por Leonardo Ribeiro

 

Orfeu (1999)
Quando Carlos Diegues decidiu resgatar a obra Orfeu da Conceição, a partir da peça de Vinícius de Moraes, as expectativas foram altas. Afinal, estávamos falando de um texto assumidamente brasileiro, mas que já havia sido adaptado no clássico Orfeu Negro (1959), premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – estatueta que acabou na França, país do diretor Marcel Camus, e não no Brasil. Cacá, no entanto, seguiu ousando ao apostar nos inexperientes Toni Garrido (vocalista da banda Cidade Negra) e Patricia França (que tinha aparecido como a jovem Tieta no trabalho anterior do cineasta). O porto seguro dos cinéfilos mais temerosos estava na presença de Murilo Benício, o antagonista e principal opositor do personagem-título pelo coração de Eurídice. Ele liderava uma turma de coadjuvantes de respeito, que incluía nomes como Zezé Motta e Milton Gonçalves. Seu Lucinho é o líder do morro, o selvagem de bom coração, a força bruta que irá se opor ao caminho do herói e obrigá-lo aos feitos que o tornam memorável. Um de nada seria sem o outro, e Benício assume com valentia e entrega essa condição. Como resultado, foi indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, reconhecimento à altura do talento evidenciado na tela grande. – por

 

Até que a Vida nos Separe (2000)
Já estabelecido no cinema nacional após ser protagonista dos aclamados Os Matadores (1997) e Orfeu (1999), Murilo Benício decidiu relaxar um pouco ao integrar o elenco deste longa coral, uma comédia dramática que marcou a estreia – e até hoje única experiência – do publicitário José Zaragoza como realizador cinematográfico. Aparecendo ao lado de nomes como Alexandre Borges, Betty Gofman, Julia Lemmertz, Marco Ricca e Norton Nascimento no papel de mais um membro desse grupo paulistano de amigos, Benício responde pelo lado cômico da trama, o sexto personagem que serve para unir – e aliviar – os problemas e conflitos que envolvem os demais. No papel de Tonho, um dos seus grandes momentos é quando aceita servir de “presente sexual” no aniversário de Lulu (Gofman), visando uma promoção no trabalho junto ao chefe interpretado por Borges. E ainda que os protagonistas sejam o foco do enredo, são nas aparições de Murilo Benício que o filme parece encontrar seu verdadeiro rumo. Não por acaso, foi indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e ganhou o Prêmio Guarani como Melhor Ator Coadjuvante do ano. – por

 

Amores Possíveis (2001)
Murilo Benício teve desafio triplo neste longa-metragem comandado pela diretora Sandra Werneck. Em cada uma das três histórias que o filme apresenta, ele encarna um homem diferente, um outro Carlos. Em comum, apenas a mulher dos seus sonhos, interpretada por uma radiante Carolina Ferraz. Carlos marcou com Luiza um encontro no cinema enquanto os dois cursavam a faculdade. Ela nunca apareceu. Quinze anos depois, somos apresentados a três possíveis continuações para aquele evento. Na primeira trama, Carlos está aprisionado em um casamento monótono e reencontra sua grande paixão. Na segunda, Carlos casou com Luiza, teve um filho, mas descobriu estar apaixonado por outro homem. Na terceira, vivendo na barra da saia da mãe, Carlos nunca encontrou seu caminho. Ao reencontrar Luiza, uma artista plástica bem sucedida, as coisas podem mudar. Cada uma das histórias tem seus predicados. A primeira tem um tom mais sério, dramático, pesado. A segunda é mais poderosa, tocando num tema tabu até então. E a terceira é a mais engraçada. Benício consegue dar nuances diferentes para cada um dos seus personagens, o que ajuda o espectador a comprar cada uma daquelas realidades. Exibido no Festival de Sundance, o filme saiu laureado com o prêmio latino-americano. – por Rodrigo de Oliveira

 

O Homem do Ano (2002)
Esta adaptação do livro O Matador, de Patrícia Melo, não goza do prestígio que merece. Murilo Benício interpreta Máiquel, um zé-ninguém que muda de vida depois de uma aposta despretensiosa com os amigos. De uma hora para outra, ele vira herói da Baixada Fluminense por ter matado, ganhando, assim, o respeito dos bandidos, da polícia, além de virar alvo do amor de duas belas mulheres. Festejado pelos mais diversos setores daquela sociedade altamente corrupta e corruptível, o personagem de Benício sente as transformações que o meio invariavelmente opera nele. Nesse aspecto, o trabalho do ator é preciso, porque possui as nuances necessárias para cada uma das alterações estruturais soar crível na tela. Máiquel tem um porco de estimação, fato além da pura curiosidade. A interação dele com o animal mostra a fragilidade que, pouco a pouco, vêm à tona na contramão da aparente firmeza transmitida aos contratantes. Parte de um ambiente cultor do olho por olho, dente por dente, Máiquel é a verdadeira face da tragédia, pois um joguete a serviço de poderes maiores. Murilo Benício faz um grande trabalho na pele desse homem que constata, a duras penas, ser pouco dono do próprio destino.  – por Marcelo Müller

 

+1

Sabor da Paixão (Woman on Top, 2000)
Apesar de ter sido exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, esta comédia romântica foi um fracasso de público e crítica por onde passou. A co-produção entre Brasil, Espanha e EUA foi uma forma de lançar a beleza hispânica de Penélope Cruz em tramas mastigadinhas para o mundo todo. No filme ela é a baiana (oi?) Isabella, uma cozinheira de mão cheia que está sempre por baixo do marido (apesar de “on top” na cama) no restaurante dele e ainda acaba pegando o cafajeste com outra. A solução é fugir e buscar refúgio nos States com a amiga travesti Mônica (Harold Perrineau). O ex, desconsolado, é claro que vai atrás. E Toninho, o canalha de bom coração, é interpretado pelo nosso homenageado, que se diverte à beça como todos nesta produção. Sem medo de encarar um personagem criado nos maiores clichês do malandro brasileiro, Murilo Benício é puro charme calcado no pedreiro bonachão, no macho man sem escrúpulos, mas que quando cai de amores por um rabo de saia, não há feitiço que tire a mulher da cabeça. Sabor da Paixão é uma grande bobagem? É, sim. Recheado de clichês tropicais sobre o Brasil,  todo mundo falando inglês com sotaque estranho e, nem por isso, menos gostoso de assistir. Uma bela sessão a dois, especialmente. E com o talento de Benício aflorando na comédia. – por Matheus Bonez

 

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