O rosto de modelo pode até enganar aqueles que (ainda) acreditam que o maior talento de uma linda mulher é sua beleza. Natalie Portman é uma grande prova da fragilidade de tal constatação. Israelense radicada nos Estados Unidos desde os três anos idade, a atriz é formada em Psicologia pela Universidade de Harvard, fala quatro línguas e pratica balé há quase trinta anos. Não à toa doou corpo e alma para o papel de Nina Sayers em Cisne Negro (2010), filme pelo qual recebeu o Oscar de Melhor Atriz.
Atuando desde os treze anos de idade, Natalie já soma duas décadas à frente das telas, período em que sempre alternou produções de alto teor comercial como Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999), V de Vingança (2005) e os dois longas de Thor (2011 e 2013) com produções de baixo orçamento calcadas no valor artístico. No caso, exemplos de filmes como Closer: Perto Demais (2004), Free Zone (2005) e Entre Irmãos (2009). Para celebrar seu aniversário no dia 9 de junho, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger os cinco melhores filmes da carreira da atriz e mais aquele que, apesar de pouco visto, merece uma segunda chance. Confira!
Por Conrado Heoli
Natalie Portman tinha apenas 13 anos em sua estreia cinematográfica como a vulnerável Mathilda, jovem nova-iorquina que testemunha o assassinato de sua família – incluindo o irmão de quatro anos de idade – e deseja vingança. Este drama de ação escrito e dirigido por Luc Besson serviria como veículo para a ascensão do cineasta e de Jean Reno nos Estados Unidos, porém sua maior surpresa está no carisma e talento de Portman. Espécie de expansão do universo de Nikita – Criada Para Matar (1990), filme anterior de Besson, O Profissional (1994) apresenta uma história pouco crível e um vilão um tanto quanto caricato – papel que Gary Oldman amplificaria anos mais tarde em O Quinto Elemento (1997). Sua melhor qualidade é a relação de Léon e Mathilda, o assassino e sua protegida, que sublima algumas invencionices do diretor enquanto procura por uma estética e narrativa autorais. A dupla é tão singular em suas diferenças e possuem uma química tão envolvente que valem qualquer outro deslize do filme. Portman, no entanto, se sobressai e justifica a intenção de Besson e dos produtores de O Profissional em realizar uma sequência anos mais tarde centrada unicamente em Mathilda – o que feliz ou infelizmente nunca aconteceu.
Por Matheus Bonez
No mesmo ano em que estrelou Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999), Natalie Portman também esteve nos holofotes ao contracenar no pequeno Em Qualquer Outro Lugar, de igual para igual, com Susan Sarandon – tarefa que não é para qualquer novata. Nesta dramédia do diretor Wayne Wang, elas vivem mãe e filha que se mudam para Beverly Hills em busca de uma vida melhor. No caso, Adele (Susan) é tresloucada, imatura, vivendo num mundo à parte. Ann, personagem de Natalie, é seu contraponto, um lampejo de realidade. Racional ao extremo, ela vive em conflito com a mãe, gerando calorosas discussões que são o melhor que o longa (comum, mas eficiente e interessante) tem a oferecer. Natalie não incorpora a “aborrescente” reclamona ou a nerd metida a inteligente como 99% de suas colegas. Sua Ann é real, cheia de medos e inseguranças, mas com uma maturidade acima da média – assim como a atuação de sua intérprete. Por este trabalho, Natalie recebeu sua primeira indicação ao Globo de Ouro como Atriz Coadjuvante. Feito que ela não demoraria a repetir.
Por Willian Silveira
Hello, stranger é o hino moderno. Lacônico e inesperado, insuflado pela mais vaga chama – a esperança do encontro. Por isso, a abertura de Closer é um momento íntimo. Ainda que rodeados pela multidão, nada atrapalha Natalie Portman e Jude Law. Nada desvia os seus olhares, porque todo olhar é uma confissão e uma convicção. É por preocupar-se com a direção contrária que Alice, a personagem de Portman, dispara a frase que abre esse parágrafo. É por seguirem direções opostas – porque ninguém sabe exatamente para aonde vai – que Closer acontece. Alice, nos conta a própria, é uma stripper americana recém-chegada a Londres. Deixou Nova York para trás na tentativa de fugir de um relacionamento – na tentativa de fugir de si. Na primeira esquina inglesa, é socorrida por Dan (Law), um escritor de obituários. Cada um enterra os seus mortos a sua maneira. Em uma atuação irrepreensível, Natalie Portman dá forma a uma personagem difícil, cheia de nuances, apenas possível pela destreza com que consegue cativar e seduzir, emocionar e corromper.
Por Robledo Milani
Remake do original Brothers (2004), da dinamarquesa Susanne Bier, Entre Irmãos apresenta Natalie Portman no papel que anteriormente fora defendido por Connie Nielsen (Gladiador, 2000). A rejuvenescida de sua personagem não é ocasional, mas talvez seja a maior fragilidade da obra dirigida pelo irlandês Jim Sheridan. Como uma mulher perdida entre o desaparecimento do marido (Tobey Maguire) em plena guerra, o conforto momentâneo oferecido pelo cunhado levemente irresponsável (Jake Gyllenhaal) e o dilema que se instaura a partir do retorno do companheiro, ela é o ponto mais sólido desse triângulo de delicado equilíbrio. Se a interpretação de um é quase catatônica e a do outro é por vezes frívola demais, é Portman quem encontra com sábia precisão o meio termo, não exagerando ao expor sua crise e dividindo-se bem entre um amor que talvez não exista mais e uma paixão passageira que nem deveria ter tido espaço. Os homens dessa história estão no título e podem ofuscar as atenções dos mais desatentos, mas é a presença feminina desta garota que virou mulher em frente às telas que, em última instância, justifica não só a refilmagem, mas também a força dessa história sob uma ótica hollywoodiana.
Por Yuri Correa
Responsável por premiar Natalie Portman com o Oscar de Melhor Atriz, Cisne Negro é, além de um thriller psicológico bastante magnético, um complexo e cuidadoso estudo de personagem sob o ponto de vista da dualidade. Contando a história de Nina, uma bailarina que deverá interpretar os cisnes branco e negro em uma nova leitura do balé de Tchaikovsky, o diretor Darren Aronofsky consegue habilmente construir uma atmosfera delirante. Isto através de uma estudada linguagem cinematográfica que pode ser analisada e compreendida quase que quadro a quadro. Sempre ao centro destes últimos, Natalie Portman é a extensão perfeita do cuidado do cineasta para com a forma final de sua obra. Sua Nina é multifacetada e sua jornada de autodescoberta e obsessão é transmitida na maior parte do tempo através de olhares, posturas ou na simples presença (ou não) de graciosidade em alguns movimentos. É tanto para se analisar e admirar dentro de cada plano, todos envolvendo uma esperta direção de arte – igualmente planejada com preciosidade – que sequências de masturbação e sexo homossexual passam quase ilesas de polêmicas, uma vez que Aronofsky é muitíssimo bem sucedido ao inseri-las com naturalidade, fazendo-as soar nada menos do que parte comum do universo que concebeu.
+1
Por Thomás Boeira
Filme independente que poucas pessoas comentam, Hora de Voltar se concentra em Andrew Largeman (Zach Braff), rapaz que vive à base de remédios devido a traumas do passado e que volta para sua cidade-natal para o funeral de sua mãe. É quando ele volta a sentir emoções que tanto lhe faltavam, algo que também se deve ao relacionamento que ele passa a ter com Samantha (Natalie Portman). É um filme cuja história não chega a ser das mais originais, mas a direção de Zack Braff (em sua estreia na função) faz com que a produção seja surpreendentemente sensível e emocionante sem soar piegas, além de contar com alguns momentos de humor que aliviam um pouco a narrativa. Interpretando Samantha, Natalie Portman contrasta com quase todas as figuras que vemos na tela, já que enquanto elas são um tanto melancólicas, ela se revela alegre e um tanto excêntrica, mas de um jeito absolutamente adorável, sendo quase impossível não se apaixonar por ela. Hora de Voltar é um dos pontos altos da carreira da atriz e, considerando que alguns meses depois do lançamento do filme ela apareceria em Closer, o ano de 2004 foi grandioso para ela.