Ele já foi par romântico de Julia Roberts. Já foi soldado em um conflito militar do diretor Terrence Malick. Já foi um vagabundo em alta roda e também responsável pelo crime que o mundo esqueceu. Já foi o Príncipe das Marés, já esteve sob fogo cerrado e esteve disposto a tudo para conseguir o óleo de Lorenzo. Já viveu Thomas Jefferson e Bernie, o Gorila, sem falar no pai do incrível Hulk. Dramas e comédias, thrillers e animações, tudo parece ser apenas mais um dia de trabalho para este grande ator: Nick Nolte! Indicado três vezes ao Oscar, é dono de um Globo de Ouro e de diversos prêmios da crítica norte-americana. Dono de uma incrível versatilidade, tem alternado, nos últimos tempos, trabalhos na tela grande com produções para a televisão, sempre mantendo a mesma excelência que o consagrou como um dos nomes fortes de Hollywood desde o início dos anos 1980. É por isso que, ao completar mais um aniversário neste dia 08 de fevereiro, a equipe do Papo de Cinema se reuniu para destacar seus cinco momentos mais marcantes na tela grande, além de lembrar de mais um trabalho especial. Confira!
Um dos subgêneros mais famosos das tramas policiais é o chamado buddy cop, um misto de comédia e ação, no qual temos uma dupla (ou trio) que trabalha junto para resolver o caso da vez. Invariavelmente, o filme começa com o time se formando, rusgas entre seus membros, até que percebem que colaboram muito bem juntos e terminam por ficar inseparáveis. Um dos primeiros títulos dessa vertente é esta produção de 1982, estrelada por Nick Nolte e Eddie Murphy (em sua estreia no cinema, com performance indicada ao Globo de Ouro). Na trama, com direção de Walter Hill, Nolte é um inspetor de polícia que investiga assassinatos de policiais e precisa da ajuda de um condenado, ex-parceiro dos criminosos fugitivos, para tentar capturá-los. Clint Eastwood foi sondado para o papel principal, mas um astro emergente acabou ganhando o personagem: Nick Nolte. O ator dá credibilidade à trama, vivendo um homem focado no trabalho e que faria qualquer coisa para resolver o caso, mesmo uma parceria com um criminoso. Nolte faz uma dobradinha histórica com Murphy – é bom lembrar que duplas inter-raciais eram raridade à época. O filme foi um dos maiores sucessos de 1982, garantindo uma sequência (não tão bem-sucedida) em 1990. – por Rodrigo de Oliveira
Trabalhando em seu terreno temático favorito, o da corrupção policial, o diretor Sidney Lumet realizou este subestimado thriller que traz uma das atuações mais vigorosas da carreira de Nick Nolte. Na trama, o ator interpreta o capitão Michael Brennan, considerado um oficial exemplar dentro da corporação, apesar de sua conduta nada ortodoxa exemplificada logo na sequência inicial, quando mata um traficante a sangue frio, alegando legítima defesa. Para cuidar da investigação interna é convocado o novato defensor público Al Reilly (Timothy Hutton), filho de um condecorado ex-policial, porém, o que deveria ser um caso corriqueiro acaba revelando uma teia criminosa envolvendo a máfia italiana, a porto-riquenha e o passado pessoal e familiar de Reilly. Conduzindo a narrativa num registro urgente, que se aprofunda também na questão do racismo na sociedade – entre negros, latinos, judeus, irlandeses – Lumet realiza um retrato forte e pessimista das entranhas da justiça americana. Em meio ao vasto e diversificado elenco (um ótimo Armand Assante, Luis Guzmán, Charles S. Dutton), Nolte se impõe com uma composição física notável – tendo ganhado mais de 20 quilos para o papel – fazendo de Brennan uma figura que gradativamente se revela mais brutal e desprezível, terminando por dominar o filme com sua presença ameaçadora. – por Leonardo Ribeiro
Conhecido por interpretar homens brutos e viris, Nick Nolte surpreende nesse intenso e aflitivo thriller de Martin Scorsese, refilmagem de O Círculo do Medo (1962), de J. Lee Thompson. No papel de Sam Bowden, advogado empedernido acossado por um ex-cliente psicopata (Max Cady, vivido por Robert De Niro), Nolte demonstra imensa fragilidade, diante de um homem muito mais forte, movido a ódio e que não tem nada a perder. Bowden foi interpretado, no filme original, por Gregory Peck, ator associado a um certo heroísmo da velha Hollywood. Nolte é o oposto disso: além de não se encaixar nos padrões de beleza esperados de um personagem heroico, ele transmite, mesmo no papel de um homem socialmente estabelecido, certa grosseria, ao mesmo tempo em que frequentemente é flagrado em situações patéticas pela câmera de Scorsese – como ao se esconder, desesperado, num beco para se proteger de Cady, após ver frustrada sua tentativa de intimidar o criminoso. O grande mérito de Nolte está em conseguir construir um personagem marcante mesmo tendo que contracenar com um espantoso De Niro, em uma das grandes atuações de sua carreira. – por Wallace Andrioli
Aflição. O título original do filme de Paul Schrader não poderia ser mais perfeito para se encaixar na sensação que causa no espectador durante suas duas horas. Muito se deve à atuação de Nick Nolte como o obcecado xerife Wade Whitehouse. Na pequena cidade onde trabalha, ele vive sua cota de conflitos pessoais, seja com a ex-esposa, a falta de perspectivas na vida e também o pouco que construiu. Além de tudo, vive numa eterna briga com o pai alcoólatra (James Coburn). Para tentar fugir dos próprios problemas, arranja um que talvez seja maior ainda: resolver o caso de um homem que morreu, aparentemente, de forma acidental, durante uma caça à cervos. Nolte vive este homem à beira de um colapso com total perfeição, mostrando da forma mais contida possível o quanto está prestes a explodir. Contido, é claro, até a página dois, já que seu personagem é um poço efervescente de emoções. Mais uma performance muito acima da média de um intérprete que sabe roubar a cena, ainda mais quando tem merecido papel de protagonista. Resultado: mais uma indicação ao Oscar e um sem número de elogios de quem pode acompanhar esta atuação inesquecível. – por Matheus Bonez
A história de dois irmãos que seguiram caminhos distintos, mas tem em comum a paixão pela luta profissional, poderia render apenas mais um filme do gênero. Porém, o talento de grandes e jovens atores como Tom Hardy e Joel Edgerton como esta dupla traumatizada pelo drama familiar ganha ainda mais pontos pela presença daquele que aparece como o pai, ninguém menos do que o nosso homenageado. No papel de Paddy, acompanhamos um Nick Nolte destruído física e psicologicamente pelo tempo e pelas amarguras da vida. De pai que abandonou a família à própria sorte a um homem arrependido e que tenta de todas as formas se livrar do alcoolismo para poder se reconectar aos filhos, o ator demonstra a fraqueza do ser humano num misto de raiva, culpa e um amor que só consegue ser explanado por uma figura tão bruta da melhor forma que lhe é possível: ensinando socos e pontapés. Uma performance digna de aplausos. Algo que realmente aconteceu, especialmente por suas várias indicações, inclusive a de Melhor Ator Coadjuvante no Oscar. – por Matheus Bonez
+1
A expressão de angústia de Nick Nolte, predominante na primeira parte deste longa-metragem feito de histórias curtas passadas na Big Apple, é uma mistura de tristeza, por conta da perda iminente do amor, e das inquietações que a tela de pintura lhe provoca. Embalado pela melancólica canção A Whiter Shade of Pale, do Procol Harum, esse artista se debate diante do comportamento de Paulette (Rosanna Arquette), assistente e amada que decide abandoná-lo. Poucas vezes um ator conseguiu com tanta força dramática expressar o torvelinho de sensações conflitantes que sobrevém à interrupção de um relacionamento. Martin Scorsese, diretor do segmento – o melhor do conjunto, seguido de perto pelo de Woody Allen e de longe pelo fraco de Francis Ford Coppola – coloca a serviço desse enredo centrado na dor de um homem que se sente abandonado, não somente sua capacidade técnica, vista na maneira como a câmera se movimenta elegantemente entre os frangalhos, mas também sua intensidade artística para extrair genuinidade daquilo tudo. Sem tornar o protagonista uma vítima, senão das vicissitudes naturais, e tampouco desenhar a mulher que se vai como uma espécie de vilã, Scorsese mergulha no que o sofrimento tem de mais humano. Mas nada disso seria atingido sem a interpretação assombrosa de Nick Nolte. – por Marcelo Müller