20180619 9318 nicole kidman

Por muitos anos, Nicole Kidman viveu à sombra do então marido Tom Cruise. Poucos apostavam no talento da atriz até ela começar a mostrar a que veio. Com Um Sonho Sem Limites (1995), esta talentosa americana nascida no Havaí ganhou seu primeiro Globo de Ouro como Melhor Atriz em Comédia ou Musical. Anos mais tarde, trabalhou ao lado de Cruise no derradeiro trabalho de Stanley Kubrick, De Olhos Bem Fechados (1999), onde também foi aclamada pela crítica. Porém, Nicole começou a brilhar mesmo após a separação quando, no início da década de 2000, começou a estrelar vários  filmes sucessos de público e crítica, como Os Outros (2001), As Horas (2002) e, é claro, o musical Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001), que transformou a personagem Satine em figura pop e a atriz em diva.

Apesar deste sucesso estrondoso nos primeiros anos desta década, Nicole teve uma fase irregular oscilando filmes como os bobinhos Mulheres Perfeitas (2004) e A Feiticeira (2005) – apesar de imitar à perfeição a “mexidinha” do nariz da clássica personagem da televisão – e obras mais densas como Margot e o Casamento (2007) e Reencontrando a Felicidade (2010), pela qual foi indicada novamente ao prêmio da Academia. Um dos seus últimos trabalhos de destaque foi a cinebiografia Grace de Mônaco (2014), longa sobre a vida da atriz Grace Kelly que teve recepção morna no Festival de Cannes, mas lhe rendeu uma indicação como Melhor Atriz em Telefilme no Screen Actors Guild Award. No dia 20 de junho, Nicole Kidman faz mais um aniversário e nós da equipe do Papo de Cinema resolvemos eleger seus cinco melhores trabalhos e aquele que, apesar de dividir opiniões, merece seu reconhecimento. Confira!

 

51 nicole kidman papo de cinema 3Moulin Rouge: Amor em Vermelho (Moulin Rouge,2001)
Por Yuri Correa

Ágil, cômico e tocante, Moulin Rouge: Amor em Vermelho exala energia pelos poros, sendo um dos grandes responsáveis pelo retorno da popularidade dos musicais. Ambientado na Paris da virada do século XIX, conta a história do aspirante a escritor Christian (Ewan McGregor), que se apaixona perdidamente por Satine (Nicole Kidman), cortesã e estrela do bordel que dá título ao longa, mas que, para a infelicidade do casal, já está prometida a um duque ciumento e cruel. As revisões de músicas de todos os gêneros e épocas tornam atemporal o conto de amor shakespeariano enquanto embalam um desfile produzido por um impecável design de produção, que entra com ritmo sob a batuta da direção inspirada de Baz Luhrmann. Em meio a isto tudo, o elenco – todo ele – encontra espaço para se destacar. Como protagonista, Kidman não faz diferente. De dançarina vivaz ela passa à sonhadora melancólica, daí até a contemplativa paixão, terminando com a alma destruída e, ainda assim, forte, que a atriz exibe nos minutos finais de filme. E, mesmo cantando, modula dezenas de modos diferentes seu trabalho vocal, transformando Satine carismática e marcante. Com certeza um dos – se não o – melhor desempenho da nossa homenageada.

 

51 nicole kidman papo de cinema 4Os Outros (The Others, 2001)
Por Thomás Boeira

No filme que marcou a estreia do diretor Alejandro Amenábar em produções hollywoodianas, Nicole Kidman interpreta Grace, mulher que vive com seus três filhos em uma grande mansão enquanto espera seu marido voltar da Segunda Guerra Mundial. Como as crianças tem uma doença que as deixam fotossensíveis, o lugar fica às escuras o tempo todo para que elas não entrem em contato com a luz do sol. Mas quando ela contrata três criados para ajudarem na casa, a rotina da família fica assustadora. Os Outros mostra ser um filme tenso, angustiante e claustrofóbico, envolvendo o espectador em sua história do início ao fim, o que se deve em boa parte ao fato de Amenábar conseguir tornar a mansão um lugar arrepiante. Mas o realizador também tem a vantagem de contar com uma das melhores atuações da carreira de Kidman, que se revela uma protagonista perfeita para a história, fazendo de Grace uma mulher forte e caridosa com os filhos, ainda que seu jeito de agir pareça um tanto paranoico à primeira vista. Com tudo isso, Os Outros acaba sendo um suspense exemplar, que não sai da cabeça do espectador tão cedo.

 

51 nicole kidman papo de cinema 6As Horas (The Hours, 2002)
Por Matheus Bonez

Nos anos 1920 Virginia Woolf (Nicole Kidman) está escrevendo Mrs. Dalloway, talvez sua obra mais difundida no mundo. Trinta anos depois, é Laura Brown (Julianne Moore) quem a lê quando passa por momentos de catarse como dona do lar e mãe de uma criança. Ironicamente, nos anos 2000, Clarissa Vaughn (Meryl Streep) vive os mesmos momentos que a protagonista da história da escritora. As Horas é como a obra da própria Virginia Woolf: um fluxo de pensamento que deve ser refletido com cuidado, pois é recheado de arestas e camadas, sentimentos e emoções que vão além do óbvio. Não importa quem é a protagonista da trama, ainda que Nicole Kidman tenha ganho o Oscar de Melhor Atriz por este excepcional trabalho. Sua performance vai além da maquiagem irretocável e a intérprete mergulha na psique da escritora, dando vida àquela mulher sobre quem se lê tanto, mas se sabe tão pouco sobre sua vida íntima, seus sentimentos, sua solidão. Viver uma personagem real com tanta fidelidade e força é tarefa para poucas atrizes de calibre. Algo que Nicole entrega com perfeição.

 

51 nicole kidman papo de cinema 5Dogville (2003)
Por Conrado Heoli

Nicole Kidman tem uma impressionante filmografia repleta de excelentes personagens e performances, porém, em Dogville (2003), ela apresenta uma de suas interpretações mais sólidas e complexas, digna de figurar entre as inesquecíveis figuras femininas da obra de Lars von Trier. Ambientado em uma pequena cidade norte-americana durante os anos 1930, não muito distante daqui, como seu cartaz revela, Dogville é um dos projetos mais ambiciosos de von Trier, filmado integralmente em um estúdio com pequenos sets e a narração dramática de John Hurt. Kidman vive Grace, fugitiva de um grupo de mafiosos refugiada numa pequena vila, que decide ajuda-la em troca de favores cada vez mais abusivos e desumanos. A vulnerável e delicada Grace e suas erráticas desventuras figuram neste exigente trabalho de Kidman, excepcionalmente compreendido por ela, que brilha ao lado de outros grandes atores – entre eles Paul Bettany, James Caan, Philip Baker Hall, Chloë Sevigny e Lauren Bacall. Mas Dogville é tanto de Kidman quanto de Trier e é uma pena que o projeto do realizador, que seria uma trilogia, esteja até então encerrado com o pouco criativo Manderlay (2005) e a insossa Grace de Bryce Dallas Howard.

 

51 nicole kidman papo de cinema 7Reencontrando a Felicidade (Rabbit Hole, 2010)
Por Rodrigo de Oliveira

O bizarro título brasileiro para Rabbit HoleReencontrando a Felicidade – não poderia estar mais longe do que é mostrado no filme. Se existe algum reencontro na produção assinada por John Cameron Mitchell (do polêmico Shortbus, 2006) é o de Nicole Kidman com um bom personagem. Vivendo uma mãe perdida pela morte do filho, a atriz emociona com sua atuação de tal forma que recebeu uma merecida indicação ao Oscar. Não existe tristeza maior que a perda de um filho. Se essa frase é senso comum, existe motivo. John Cameron Mitchell é hábil em conseguir mostrar ao espectador a dor pela qual seus personagens passam. E não de forma óbvia. O roteiro da trama vai desvelando os acontecimentos aos poucos, nunca parecendo que estamos vendo diálogos meramente expositivos. Nicole Kidman faz uma dobradinha ótima com Aaron Eckhart. Mas emociona mesmo nas cenas divididas com o jovem e talentoso Miles Teller. Para não revelar muito da trama, digamos apenas que eles dividem uma história traumática e o encontro entre os dois poderá trazer algum conforto (e certo conflito) em suas vidas. Os diálogos são corriqueiros, mas cheios de pesar e de lembranças tristes. Para os mais sensíveis será difícil segurar as lágrimas.

 

+1

51 nicole kidman papo de cinema 8Reencarnação (Birth, 2004)
Por Renato Cabral

Nicole Kidman não é a mais feliz quando se trata do cinema de grandes orçamentos, os blockbusters. Em quase todas as produções desse porte, a atriz acabou com o título de “veneno de bilheteria”. Em compensação ao manter, ao mesmo tempo, uma carreira no cinema dito “alternativo”, a atriz conseguiu se firmar como uma das mais talentosas de Hollywood. Caso de Reencarnação (vendido erroneamente no Brasil como um terror), drama sobre Anna, mulher que depois de muito tempo consegue deixar de lado o luto pela perda do seu marido e partir para um novo relacionamento. Tudo é virado do avesso quando um menino (Cameron Bright) bate à sua porta afirmando ser o falecido. Lento e focado no psicológico dos personagens, Reencarnação é um filme introspectivo e estranho. Realizado por Jonathan Glazer, do recente Sob a Pele (2014) e Sexy Beast (2000), a produção tem uma das mais tocantes e fortes cenas da filmografia de Kidman: Anna assiste uma ópera enquanto digere a notícia dada pelo garoto. Assistimos um close no rosto de Kidman, que começa a lacrimejar. Através de suas expressões, sem narrações e flashbacks, vamos notando a força daquela “revelação”. Um trabalho primoroso de Kidman e Glazer, com absoluta certeza.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar

avatar

Últimos artigos de (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *