Nascido em Nova York, no dia 15 de setembro de 1946, Oliver Stone é um cineasta norte-americano por excelência. Não apenas por ter nascido na terra do Tio Sam, mas por ser um contumaz investigador da história do seu país em seus filmes. Não existe assunto espinhoso que o diretor não tenha metido o nariz ou personagens de atitudes duvidosas que ele não tenha dado luz. Ganhador de dois Oscars como diretor – por Platoon (1986) e Nascido em 4 de Julho (1989) – e um como roteirista de O Expresso da Meia-Noite (1978), Stone é um dos mais respeitados (e rebeldes) diretores a trabalharem em Hollywood atualmente. Sua trilogia de filmes sobre o Vietnã (conflito que participou entre 1967 e 1968) é uma marca de sua carreira, assim como as cinebiografias de figuras controversas – como dos presidentes americanos Richard Nixon (Nixon, 1995) e George W. Bush (W., 2008), do astro de rock Jim Morrison (The Doors, 1991), do imperador da Macedônia Alexandre, o Grande (Alexandre, 2004) e do ex-funcionário da CIA Edward Snowden (Snowden, 2016). No dia do aniversário do cineasta, buscamos na rica filmografia de Oliver Stone os seus cinco melhores trabalhos e mais um, que merece uma revisão por parte dos espectadores. Confira!
É muito nítido o impacto da Guerra do Vietnã na cultura norte-americana e, consequentemente, no seu cinema. Talvez por ter sido um conflito razoavelmente recente, com feridas que ainda não cicatrizaram, ou por representar uma mancha no orgulho americano – tanto pela derrota quanto pela noção de que esta foi uma guerra desnecessária -, o acontecimento é frequentemente retratado nas telonas não como algo glorioso, mas como uma força de pura destruição física e emocional de todos os envolvidos. Baseado na experiência do próprio diretor e roteirista (Oliver Stone serviu no Vietnã, retornando aos Estados Unidos em 1968), Platoon oferece um retrato cru e vívido dos horrores da guerra através dos olhos do jovem Chris Taylor (Charlie Sheen). Ao mesmo tempo que o rapaz observa seus companheiros de pelotão sendo gradativamente transformados pelo combate, ele próprio vai sendo endurecido pela brutalidade daquele ambiente. Só quem já esteve numa situação como aquela tem como compreender o que tanta violência e tantas vidas desperdiçadas podem fazer com a mente de alguém: Stone, infelizmente, é um deles. É por isso que em cada minuto da projeção fica evidente o esforço do diretor para que seu público consiga, no mínimo, imaginar tamanho horror. – por Marina Paulista
“Ganância é boa”. Com esta frase, Michael Douglas entrou para a história do cinema como o personagem Gordon Gekko, uma figura traiçoeira, sedutora e incrivelmente inteligente, que conseguia basicamente tudo o que precisava apenas usando as pessoas a sua volta. Nesta produção capitaneada por Oliver Stone, com participações de Martin Sheen e Daryl Hannah, vemos a derrocada do jovem Bud Fox (Charlie Sheen), um ambicioso corretor que, ao se envolver com Gekko e suas jogadas sujas, acabava ficando na pior. Stone sempre foi um cineasta engajado e, em Wall Street, o diretor faz um pertinente raio X da ganância dos yuppies no calor daquele momento – um retrato acurado de uma realidade que se mostrou perniciosa para todo o mundo algum tempo depois. A magnífica interpretação de Michael Douglas lhe rendeu o Oscar e, 23 anos mais tarde, o ator retornou para reviver seu personagem mais marcante em Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme (2010), uma continuação não tão memorável quanto o original, mas não totalmente destituída de predicados. – por Rodrigo de Oliveira
É perceptível o quanto Oliver Stone é fã declarado de Jim Morrison e The Doors na adaptação da história da banda para as telonas. Tudo é uma mistura de fantasia doce e ácida que só alguém que entende e conhece sua música pode transmitir com o realismo das situações verdadeiramente vividas pelo conjunto, assim como a atmosfera dos anos 60 respingando por todos os cenários, inclusive o político. Temos Val Kilmer como uma cópia perfeita do mito Morrison, não só no físico, mas também em sua personalidade. Uma fotografia mesclada à direção de arte que sempre remete ao calor e à ilusão, sempre em tons quentes que fazem a tela pegar fogo. E aquela pegada genial de utilizar a trilha sonora a favor do filme, e não o contrário. É um imenso videoclipe que não apenas espelha o verdadeiro significado das cinebiografias musicais como também não perde em nada como grande produção cinematográfica. Engraçado que foi execrado na época de seu lançamento como uma grande viagem alucinógena de seu diretor. Olha, se é mesmo, o fez muito bem, pois o longa é atemporal mesmo 25 anos após seu lançamento. Realmente, Stone entendeu bem o que significa break on through to the other side. – por Matheus Bonez
Ao longo de sua carreira, Oliver Stone passou a ser associado a um cinema da paranoia, adepto de teorias conspiratórias para explicar a história política recente dos Estados Unidos. Nenhum outro filme seu encarna tão perfeitamente essa imagem do cineasta paranoico quanto este título. No auge após vencer seu segundo Oscar de direção, por Nascido em 4 de Julho (1989), Stone experimenta com a linguagem cinematográfica e desfila um elenco inacreditável (com Kevin Costner, Sissy Spacek e Tommy Lee Jones, com participações de Jack Lemmon, Donald Sutherland, Joe Pesci, Gary Oldman, Walter Matthau e Kevin Bacon) para contar uma versão alternativa do assassinato do presidente John Kennedy. Quem conhece a fundo as investigações sobre o caso costuma apontar vários furos na interpretação de Stone, mas isso pouco importa diante do poder de convencimento da narrativa de JFK. As pouco mais de três horas de filme passam voando e cada pequeno detalhe incluído na trama ajuda a compor um todo absurdamente tenso e que deixa no espectador a certeza de haver uma ampla conspiração por trás do assassinato de Kennedy. Nunca o cinema de Oliver Stone foi tão eficaz. – por Wallace Andrioli
O estilo intenso de Oliver Stone teve seu ápice neste longa cercado de polêmicas à época de seu lançamento. Baseado num roteiro originalmente escrito por Quentin Tarantino, que condenou o resultado final completamente modificado, o filme narra a jornada do casal Mickey (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis). Unidos por um passado de abusos sofridos e pelo instinto violento, eles viajam pelas estradas norte-americanas deixando um rastro de assassinatos e acabam se tornando celebridades midiáticas. Nesta espécie de Bonnie & Clyde (1967) em chave alucinada, o cineasta realiza uma crítica mordaz à obsessão e ao fascínio da mídia pelas figuras dos assassinos seriais, algo que foi confundido por muitos como uma celebração à violência. O radicalismo da proposta talvez tenha sido incompreendido, já que Stone aposta no excesso caricatural e na total experimentação de linguagem – como registrar o passado de Mallory com o pai abusivo (Rodney Dangerfield) em formato de sitcom – filmando em diversos formatos (35 mm, Super 8, videotape, P&B) e se valendo de uma edição frenética. O ótimo elenco – que conta ainda com Tommy Lee Jones, Tom Sizemore e Robert Downey Jr. – abraça o espírito anárquico do filme que, mesmo com suas falhas, exala uma força inegável. – por Leonardo Ribeiro
Selvagens (Savages, 2012)
Talvez por ter se envolvido em diversas controvérsias e por não ter se mantido calado em mais de uma ocasião, Oliver Stone é considerado, atualmente, um dos maiores rebeldes de Hollywood. E isso que possui três Oscars na estante! Mas se seu último trabalho a ter recebido algum tipo de atenção positiva foi Um Domingo Qualquer (1999) – selecionado para o Festival de Berlim – desde então ele tem realizado várias pérolas que merecem ser observadas com maior cuidado. Uma delas é este thriller sobre o tráfico de drogas nos Estados Unidos. Pois, se esse filme é culpado de algo, é de ser exageradamente sexy. Aaron Taylor-Johnson e Taylor Kitsch exibem seus corpos esculturais como dois surfistas envolvidos quase que ao acaso em um negócio de milhões, ao mesmo tempo em que Blake Lively transpira sexo a cada instante. Por outro lado, Salma Hayek compõe uma das mais sedutoras e violentas rainhas do crime, enquanto que John Travolta, Benicio Del Toro, Demián Bichir e Emile Hirsch completam o elenco estrelado. Ação intensa, reviravoltas de última hora, astros em plena forma e um cineasta que sabe o que dizer e como dar o seu recado. Pode ser mero entretenimento, mas com uma qualidade e competência de dar inveja aos novatos. – por Robledo Milani