Nascido na Guatemala no dia 09 de março de 1979, Oscar Isaac Hernandez – ou apenas Oscar Isaac, para não passar uma impressão muito ‘hispânica’ – é um caso raro de ator latino que conseguiu fazer sucesso em Hollywood sem ter que carregar a cada novo trabalho sua herança genética. Ele é o tipo de astro coringa, que serve bem para qualquer tipo de papel, desde o ex-presidiário até o herói intergaláctico. Vencedor de um Globo de Ouro, indicado ao Independent Spirit Award e premiado nos prestigiosos National Board of Review e pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, falta-lhe apenas um Oscar no currículo para coroar uma trajetória de sucesso tanto de público – é um dos nomes da produção de maior bilheteria de todos os tempos nos Estados Unidos – quanto de crítica (segundo especialistas, já sofreu ao menos duas esnobadas do prêmio da Academia, e não será possível seguir ignorando seus esforços por muito tempo). Diante desse panorama, nada mais justo que homenageá-lo na semana do seu aniversário com uma visão dos seus cinco melhores trabalhos até o momento, além de destacar um filme cuja participação sua é discreta, mas fundamental. Confira!
No caminho para o sucesso trilhado por Oscar Isaac, é importante reconhecer o papel de Madonna nessa trajetória. Afinal, foi a cantora pop, em seu segundo esforço como realizadora, que o escolheu para ser um dos protagonistas deste filme indicado ao Oscar e premiado no Globo de Ouro. Ao narrar a polêmica história de amor entre o rei Eduardo VIII (James D’Arcy) da Inglaterra e a divorciada norte-americana Wallis Simpson (Andrea Riseborough), a diretora mostrou segurança ao espelhar essa trama também em um romance contemporâneo, entre uma mulher casada (Abbie Cornish) e um segurança russo (Isaac). Seu personagem é um tipo calmo que vai aos poucos revelando suas intenções, mostrando que por trás de sua bela estampa se esconde mais camadas de leituras do que se poderia imaginar após um primeiro contato. Se no fato histórico é a mulher que leva o homem a cometer um ato por muitos considerado insano – o abandono do trono – no outro lado dessa moeda será ele que levará sua contraparte feminina a cometer atitudes insensatas, porém merecedoras de uma recompensa altamente erótica. Oscar Isaac brinca com a sedução que facilmente exerce, mostrando que está no jogo não apenas para compor cenário, mas para fazer diferença. – por Robledo Milani
Neste filme, o mais subestimado dos irmãos Joel e Ethan Coen dos últimos tempos, Oscar Isaac interpreta o músico folk Llewyn Davis, personagem que perambula pela Nova Iorque dos anos 1960. A melancolia desse homem sem planos futuros, cuja música é um esforço destituído de maiores objetivos financeiros, se traduz nas baladas desoladas, reflexos de um artista cansado frente à necessidade de “ser alguém”. Llewyn Davis carrega o gato Ulisses, dorme muitas vezes de favor e resiste ao máximo às ofertas de tornar sua arte um produto de consumo fácil e rápido pelas massas (embora nem sempre seja possível resistir integralmente). O guatemalteco Oscar Isaac realmente canta no filme, dispensando, assim, dublês de voz. Sob a égide dos Coen, ele mescla recursos dramáticos e vocais para construir uma figura ensimesmada, destoante do entorno essencialmente feito de lugares-comuns e afeito a fórmulas prontas de felicidade. As letras tristes e o olhar perdido no horizonte fazem desse andarilho um símbolo de determinação, alguém que possui vocação inequívoca ao fracasso, isso num mundo em que vencedores são assim considerados por conta do dinheiro arrecadado, custe o que custar. Grande trabalho de Isaac, aliás, dos seus melhores. – por Marcelo Müller
O thriller de J.C. Chandor é muitíssimo elogiado pelo seu conjunto de sutilezas, ao retratar uma Nova Iorque tomada pelo terror e pela onda de assassinatos que acomete os seus habitantes. Os dois fatores que propiciam essa aura de paranoia certamente são a fotografia, que premia tons acinzentados e determinam a decadência daquela época, e as atuação de Oscar Isaac, que compõe o imigrante Abel Morales como um sujeito que tenta prosperar por seus próprios esforços, mas esbarra no sistema corrupto que governa o meio em que se insere. A derrocada moral é tão grande que o faz envolver até sua esposa, a voluptuosa Anna (Jessica Chastain), fazendo dela a perfeita dama fatal típica dos filmes noir. A química com Chastain é absurda, mostrando um par de pessoas interessantes em essência, como um casal de anti-heróis modernos, que tem no equilíbrio sexual a base para não entrar em colapso. Isaac consegue harmonizar sentimentos dissonantes, e variá-los mesmo em poucos momentos de tela, mostrando uma montanha russa emocional que só funciona graças ao seu talento em ainda assim parecer contido, exibindo nuances compartilhadas apenas entre atores de grande gabarito. – por Filipe Pereira
Surpresa do Oscar, abocanhando a estatueta de Melhores Efeitos Visuais de candidatos com muito dinheiro investido, esta produção assinada por Alex Garland é um belo exemplar de ficção científica. Na trama, Caleb (Domhnall Gleeson) é convidado pelo seu chefe, o multimilionário excêntrico Nathan (Oscar Isaac), para realizar uma rodada de entrevistas com Ava (Alicia Vikander). Isso não seria nada estranho, fora o fato de ela ser um androide. A experiência parece fácil até que Ava avisa ao seu interlocutor: não confie nas mentiras de Nathan. Alex Garland realiza muito com pouco em cena. O elenco é diminuto, o cenário é basicamente uma casa, a ação é baseada nos diálogos. O melhor são as discussões filosóficas dos personagens, que se embrenham em temas espinhosos como o livre arbítrio, as emoções e o complexo de vira-latas contra o complexo de Deus. Embora Alicia Vikander tenha levado muito dos louros por sua performance, Oscar Isaac constrói um personagem verossímil naquele mundo futurista, um homem que brinca de Deus não só com suas criações, mas com seus funcionários e potenciais amigos. Uma atuação que vai desde o temível silêncio desconfortável até uma dança extrovertida. Um leque grande vindo de um ator em franca ascensão. – por Rodrigo de Oliveira
Entre tanto pra se falar sobre o novo Star Wars e seu retumbante sucesso, um dos tópicos mais necessários é Poe Dameron, um dos personagens apresentados por J.J. Abrams e turma. Formando uma trinca com Finn e Rey, o piloto revela também uma importância maior no todo: é interpretado pelo latino Oscar Isaac, em um filme que já conta com um protagonista negro e uma mulher. Dameron surge no começo e retorna depois, mais para o fim da trama, e sua participação é vital para o andamento da mesma, com uma força tão marcante que se faz presente por toda a duração. Isaac, distante do multibilionário cientista vivido em Ex-Machina e do empresário de O Ano Mais Violento, entrega um indivíduo descontraído, mas tático, alerta e prontamente competente. Sua figura é carismática e já essencial para a continuação. Não deve ser surpresa, portanto, se ganhar o peso de novo Han Solo, apesar de estar mais para Luke Skywalker. – por Yuri Correa
+1
Este é um filme de ação atípico em sua calma para contar a história que tem em mãos. Acompanhando o Motorista interpretado por Ryan Gosling, o longa de Nicolas Winding Refn nos apresenta um homem que é o melhor em seu trabalho como piloto de fugas, de forma que as eventuais perseguições que isso rende são encaradas por ele com uma quietude impressionante, detalhe que se reflete na própria narrativa construída pelo diretor. O Motorista encontra um pouco de luz em sua vida quase vazia ao conhecer a vizinha Irene (Carey Mulligan), e o filho dela, Benicio (Kaden Leos). E é exatamente quando ele se vê tendo que protegê-los que o filme revela uma faceta fria e sombria do protagonista, algo que ocorre principalmente depois que o marido de Irene, Standard (Oscar Isaac), sai da prisão e se vê tendo que pagar uma dívida. Na época, nosso homenageado não era um ator tão reconhecido como é hoje, e sua participação aqui não é das maiores. No entanto, Isaac é hábil ao conceber um personagem que passa certa desconfiança logo quando aparece, e considerando que ele ainda estava subindo rumo ao estrelato, ter um filme como esse no currículo não é nada mal. – por Thomas Boeira