Categorias: 5+1Artigos

5+1 :: Oscar

Publicado por

85 Years of Oscar Poster Detail

Nas vésperas da entrega do 85° prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood – o popular Oscar – quais dos filmes vencedores do prêmio máximo realmente se destacaram perante a História como alguns dos mais importantes de todos os tempos? Entre muitos títulos que, mesmo premiados, logo se revelaram esquecíveis, outros tantos marcaram época e até hoje são referências entre cinéfilos, admiradores e curiosos. E esta foi a missão da Equipe Papo de Cinema no 5+1 dessa semana: apontar os cinco principais vencedores do Oscar, além de escolher um não tão celebrado, mas ainda assim dono de inegáveis méritos. A tarefa, como se poderia imaginar, foi árdua – afinal, separar apenas seis títulos dentro de um universo de 84 longas, ainda mais quando são os melhores dos melhores, não seria simples. Com certeza injustiças foram feitas, esquecimentos inevitáveis aconteceram e, com um espaço tão limitado, muita coisa boa acabou ficando de fora. De qualquer forma, estes são os nossos melhores. Aproveitem!

 

Casablanca (Casablanca, 1942), por Pedro Henrique Gomes

Uma história de amor. É fácil começar assim, logo determinando um espaço habitável para um filme, criando um ambiente de registro facilmente localizável. É claro que Casablanca gira em torno da relação entre os personagens de Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, mas junto disso vem todo um contexto geopolítico inserido como pano de fundo, fazendo do filme um tanto mais estruturado, cheio de corredores esperando a invasão do nosso olhar atento. Mas precisamos dizer: por trás do clima romântico que permeia a história, os personagens carregam uma série de desejos em ebulição, querendo validá-los não só no corpo, no envolvimento carnal, mas antes na possibilidade de emancipação do Ser, na afirmação do poder ser. Trata-se, de fato, de uma narrativa repleta de sutilezas, no amor e na guerra, contra a corrupção da alma. Rick Blaine (Bogart) e Ilsa (Bergman) são estrelas mesmo, no sentido de que existem como pequenos componentes do cosmos social no qual estão inseridos, resistindo a toda essa frieza do universo que os engole. No fim, o importante não é a frase de efeito ou a cena feita para virar bordão de todo o cinema de romance que o sucedeu até pelo menos o fim do século passado. Em Casablanca, o melhor é amor impronunciável.

 

Sindicato de Ladrões(On The Waterfront, 1954), por Conrado Heoli

“Sem dúvidas, o melhor diretor que temos na América, capaz de proporcionar milagres com os atores que usa”, disse Stanley Kubrick, ele próprio considerado um dos maiores cineastas norte-americanos, sobre Elia Kazan. Realizador já premiado com um Oscar por A Luz é Para Todos (1948), Kazan recebeu ainda mais láureas com Sindicato de Ladrões (1954), vencedor de oito prêmios da academia. O filme, considerado uma das mais significantes obras de sua singular cinematografia, apresenta Marlon Brando como o ex-boxeador Terry Malloy, que colabora com o assassinato de um jovem trabalhador do porto, morto por desafiar seu chefe de sindicato. Sua já miserável realidade se torna ainda mais delicada quando ele se apaixona pela irmã do rapaz, interpretada pela até então desconhecida Eva Marie Saint. Intitulado apropriadamente de Há Lodo no Cais em Portugal, Sindicato de Ladrões possui um elenco em performances inesquecíveis, roteiro irretocável e impressiona pela coragem de Kazan ao narrar uma história com temática tão próxima ao que havia experimentado em seu passado, quando revelou nomes de comunistas na indústria cinematográfica durante a Caça às Bruxas, do governo de Joseph McCarthy. Uma retratação que resultou num dos melhores filmes de todos os tempos.

 

O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), por Marcelo Müller

Francis Ford Coppola é um dos próceres da chamada Nova Hollywood, movimento de jovens diretores que resgatou da penúria a indústria cinematográfica americana em idos tempos. No ano de 1972, ao adaptar para as telas o romance de Mário Puzzo sobre a família Corleone, fez, quem sabe, o maior filme de todos. O Poderoso Chefão, primeira parte de uma trinca coesa na qual os longas realmente contribuem para painel maior, é verdadeiro tratado sobre família, vingança, poder, moral, entre outros temas e pertinências. O espetáculo narrativo orquestrado pelo diretor ítalo-americano conta com as luzes e sombras de Gordon Willis, a música de Nino Rota, Al Pacino defendendo com brilhantismo o personagem mais importante, trágico e complexo da trama, e ainda Marlon Brando em interpretação icônica, cujo maior feito talvez seja contrapor a força do líder e a fragilidade do homem. O Poderoso Chefão é dos raros filmes em que a proporção (de produção, divulgação e abrangência) não acarreta impessoalidade, muito porque nele vemos a já conhecida predileção de Coppola por sublinhar tudo a partir da família, utilizando amores e dores encontrados entre os que se ligam pelo sangue para melhor entender os rumos do mundo.  Obra sem igual.

 

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), por Rodrigo de Oliveira

A comédia nunca foi um gênero muito apreciado no Oscar. Basta ver a lista dos vencedores de Melhor Filme para contar nos dedos de uma mão os longas-metragens agraciados pelo prêmio máximo da Academia neste filão. Queridos pelo público, mas nem sempre pela crítica, as comédias são raras em premiações e, até por isso, quando alguma consegue alcançar o topo, vira referência instantânea. É o caso de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, produção assinada por Woody Allen que levou diversas estatuetas no Oscar de 1977, incluindo Filme, Diretor, Roteiro e Atriz, para Diane Keaton (Allen foi indicado como Ator, mas perdeu para Richard Dreyfuss, por A Garota do Adeus, 1977). Para quem ainda não conhece, esta é uma das comédias mais interessantes já assinadas pelo cineasta. Nela, Allen coloca um relacionamento sob o microscópio, mostrando o início e a ruína (não necessariamente nesta ordem) de um namoro entre duas figuras difíceis, porém apaixonantes. Subvertendo as regras do gênero e criando situações hilariantes, Woody Allen criou o modelo perfeito para a comédia romântica moderna, servindo de referência até hoje.

 

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, 2003), por Robledo Milani

Apesar do cinema hollywoodiano ter se construído – e, principalmente, popularizado – como uma forma, acima de tudo, de entretenimento – e, dentro deste formato, serem os filmes de fantasia e ficção sua expressão máxima – a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não é muito afeita a premiar títulos desse gênero em sua maior premiação. Ainda que algumas produções deste estilo tenham sido indicadas como Melhor Filme nestes 85 anos, como As Minas do Rei Salomão (1949), Mary Poppins (1964), Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977), Os Caçadores da Arca Perdida (1981), E.T. – O Extraterrestre (1982), Distrito 9 (2009) e Avatar (2009), a ÚNICA a ser premiada com a estatueta dourada mais cobiçada do cinema mundial foi a conclusão do épico de Peter Jackson baseado na obra original de J. R. R. Tolkien! Este filme, na verdade, consagrou toda a trilogia – os três longas foram indicados ao prêmio principal, mas somente este último ganhou – e mostrou que cinema pode – e deve – sim, ser sério, épico, relevante e, principalmente, fantástico!

 

+1

 

Rebecca – A Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940), por Matheus Bonez

Muitos podem estar se perguntando “afinal, de onde tiraram que um filme de Alfred Hitchcock poderia ser apenas uma lembrança especial“? A questão é que Rebecca – A Mulher Inesquecível (1940), por melhor que seja, não é uma das obras mais populares do mestre do suspense, mesmo tendo ganho o Oscar de Melhor Filme na época. Foi o primeiro longa do cineasta feito nos EUA, com produção de David O. Selznick, o mesmo do mega oscarizado …E O Vento Levou (1939), e que acabou interferindo muito no resultado do filme. Os mais desavisados poderão assisti-lo e não perceber de cara que se trata de um filme de Hitchcock, afinal, a história propriamente dita não foi uma escolha direta do cineasta (uma mulher que, supostamente, assombra uma casa, definitivamente não se encaixa em seu perfil), assim como os rumos que a produção teve, da escolha dos atores aos cortes feitos no final. Há relatos de muitas brigas nos bastidores e uma quase desistência do diretor no projeto. O detalhe é que neste mesmo ano a produção sobressaiu e derrubou outros filmes melhores da disputa como O Grande Ditador (1940), Vinhas da Ira (1940), Núpcias de Escândalo (1940) e até mesmo Correspondente Estrangeiro (1940), que também é de Hitchcock e tem sua marca sem interferências. Em um trecho da clássica entrevista feita por Truffaut com seu ídolo, o cineasta revela, com outras palavras, que este é um de seus filmes menos queridos. Ainda assim, mesmo com todos estes supostos “defeitos”, Rebecca é um filme sombrio, com personagens espetaculares, que vão desde os protagonistas interpretados por Laurence Olivier e Joan Fontaine até a terrível governanta magistralmente personificada por Judith Anderson. Não à toa o trio foi indicado nas categorias de atuação no mesmo ano.  Sem contar que a personagem-título nunca aparece fisicamente, mas se torna uma pessoa assustadora por conta de todas as referências que são feitas a ela. Rebecca pode não ser inesquecível, mas é um trabalho acima da média e que serviu para consagrar o nome de Alfred Hitchcock em Hollywood.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

Últimos artigos de (Ver Tudo)