Não é de hoje que Patricia Arquette é uma grande voz em Hollywood. Ela pode nunca ter sido a mais bela ou ter tido seu nome entre os grandes monstros de sua geração, mas fato é que a atriz é alguém que transita bem entre vários gêneros do cinema e sempre busca papeis femininos relevante. Algo que seu discurso no último Oscar deixou bem claro para todo mundo. Fruto que não cai longe do pé, ela é filha do também ator Lewis Arquette e tem quatro irmãos – todos da mesma profissão.

Vencedora do Oscar, de mais 45 prêmios e indicada a outros 40, Arquette se deu muito bem também na televisão como a protagonista de Medium (ou A Paranormal), papel que, por seis anos, lhe rendeu aplausos do público e da crítica. No dia 8 de abril ela comemora mais um aniversário e, para celebrar, a equipe do Papo de Cinema montou aquela lista de seus cinco melhores trabalhos e mais um que merece uma segunda revisão. Confira!

 

Amor à Queima Roupa (True Romance, 1993)
Por Rodrigo de Oliveira
Em Amor à Queima Roupa, o acomodado Clarence (Christian Slater) conhece e se apaixona pela bela garota de programa Alabama (Patricia Arquette) em meio a três sessões de cinema. Em poucas horas os dois estão totalmente entrelaçados e decidem se casar. Mas existe o problema do cafetão de Alabama. Clarence decide ouvir sua consciência – que tem as feições, roupas e maneirismos de Elvis Presley (Val Kilmer) – e arranja um encontro com o ex-chefe da moça na esperança de livrá-la e buscar seus pertences. E isso é só o começo de uma história cheia de reviravoltas. A trama tem todas as características de um verdadeiro produto da cabeça de Quentin Tarantino: violência, citações a filmes e músicas, personagens desajustados e uma narrativa que surpreende por se desenrolar por caminhos inesperados. O elenco tem ótimos nomes interpretando pequenos papéis e dois protagonistas que eram promessas à época: Christian Slater e Patricia Arquette. Slater faz o papel de sua vida em Amor à Queima Roupa, convencendo totalmente como um rapaz incrivelmente perdido na vida. Mas Patricia Arquette rouba a cena, sendo uma feliz surpresa. A atriz está adorável, verdadeiramente apaixonante como a mocinha e narradora, não tendo problemas em cativar o espectador com seu jeito avoado e alegre. Personagem que utilizava bem os predicados da jovem intérprete, que acabou traçando caminhos inesperados na carreira até chegar ao seu Oscar em Boyhood (2014), mais de vinte anos depois.

 

A Estrada Perdida (Lost Highway, 1997)
Por Matheus Bonez
Renne ou Alice? Quem é a verdadeira persona de Patricia Arquette neste suspense assinado por David Lynch? A temática do duplo, tão cara ao cineasta, ganha contornos mais do que interessantes nesta história. No início ela é Renne, mulher que vive em crise no casamento com Fred e é assassinada, supostamente, pelo marido, que vai parar na prisão e “troca de corpo”. Em sua vida pós-Bill Pullman, ator que o interpreta na parte inicial da trama, o personagem se envolve com Alice, novamente Arquette na tela. Será que ambas são a mesma pessoa? Como num bom filme do cineasta, tudo fica por dizer, nenhuma solução está à vista. As peças do jogo estão todas ali, mas embaralhadas como em um longo e interminável sonho. No fim da contas, importa quem é quem? No caso deste artigo, o mais notável é a interpretação de Arquette, que sabe dosar muito bem as duas personagens, deixando-as totalmente diferentes não só fisicamente como em suas atitudes, mas parecidas em certos pontos da personalidade o suficiente para causar dúvidas no espectador sobre se ela é quem diz ser. Confuso? Talvez, mas não seria uma obra-prima de Lynch se assim não fosse e com um dos melhores papeis da carreira da nossa homenageada.

 

Stigmata (1999)
Por Robledo Milani
A filha do meio da família Arquette nunca foi muito presa a uma mídia ou outra. Desde o início de sua carreira, sempre alternou com frequência produções na televisão e no cinema, em trabalhos que chamaram atenção do público e da crítica. Neste segundo aspecto, podemos citar Unidos pelo Sangue (1991), quando foi dirigida por Sean Penn, ou Muito Além de Rangum (1995), em que trabalhou com John Boorman, entre outros. Já no quesito popularidade, um dos seus maiores sucessos foi justamente essa produção sobrenatural dirigida por Rupert Wainwraight e estrelada ainda por Gabriel Byrne e Jonathan Pryce. Aqui, ela aparece como uma mulher sofrendo de estranhos ferimentos, que podem estar ligados a uma investigação que um padre enviado pelo Vaticano está conduzindo no interior de São Paulo sobre uma estátua da Virgem Maria que estaria chorando sangue. Com alguns bons sustos recheando a trama do início ao fim, Patricia Arquette chegou a ser indicada como Melhor Atriz em Horror no Blockbuster Entertainment Award, enquanto que o filme concorreu a Melhor Longa de Horror na Academia de Cinema Fantástico. Ainda estava longe do Oscar que conquistaria alguns anos depois, mas já demonstrava competência suficiente para carregar sozinha um filme nas costas.

 

Vivendo no Limite (Bringing Out the Dead, 1999)
Por Marcelo Müller
Em Vivendo no Limite, Patricia Arquette interpreta uma mulher prestes a perder o pai. O homem é atendido, após enfartar, pelo paramédico vivido por Nicolas Cage, um cara que perambula cheio de culpa pelas madrugadas, em virtude dos pacientes que não foi capaz de salvar. Ex-viciada em drogas, ela também está em busca de salvamento, mesmo que muitas vezes não consiga admitir o caminho das drogas, trilhado no passado, como sua possível perdição. O socorrista resolve cuidar dela, evitar que seu sofrimento se prolongue ou chegue às vias da tragédia. Triste, abalada, ela ensaia buscar novamente nas substâncias ilícitas um pouco de alívio para suas dores, tanto no que diz respeito ao iminente falecimento do pai, quanto ao que isso acarreta, ou seja, à sensação de completo desamparo. A personagem de Arquette é uma menina no corpo de uma mulher, amedrontada pela possibilidade de ver-se sem aquele que, bem ou mal, sempre lhe serviu de suporte. Difícil dar vida a uma vítima sem recorrer a lamúrias e outras facilidades, algo que Arquette consegue, externando uma vulnerabilidade bastante crível sob a batuta de Martin Scorsese.

 

Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014)
Por Conrado Heoli
Num dos momentos mais tocantes de Boyhood: Da Infância à Juventude, a matriarca da família percebe a melancolia ao ver seu filho mais novo sair de casa para a faculdade. Para ela, trata-se do último grande evento de sua vida antes da morte. As nuances da excepcional caracterização de Patricia Arquette e seu compromisso com uma mesma personagem ao longo de 12 anos são marcantes em toda a projeção de Boyhood, porém é nesta e em outras pequenas passagens, tão emocionais e verdadeiras, que a atriz faz valer seu Oscar e vários outros prêmios recebidos pelo drama de Richard Linklater. Capturado num interessante e incomum processo a partir de encontros anuais da mesma equipe técnica e elenco ao longo de mais de uma década, Boyhood atravessa todos estes anos na vida de Mason e de sua família enquanto acompanha algumas passagens dignas de fotos e molduras, mas com enfoque especial nos detalhes corriqueiros, em pequenas memórias que tornam cada vida singular. Efemeridade e fragilidade raramente são tão retratadas no cinema com a mesma profundidade que o filme de Linklater atinge, e Patricia Arquette tem literalmente o papel de uma vida em sua delicada e envolvente interpretação.

 

+1

Misteriosa Paixão (Goodbye Lover, 1997)
Por Matheus Bonez
Ben (Don Johnson) tem um romance com a cunhada, Sandra (Patricia Arquette), casada com seu irmão Jake (Dermot Mulroney). Envolto na mentira, Ben tem outro caso, desta vez com a assistente, Peggy (Mary-Louise Parker). Um deles morre com um seguro de vida de 4 milhões de dólares. Eis que chega a divertida detetive Rita Pompano (Ellen DeGeneres) para resolver o assunto. Misteriosa Paixão é uma comédia policial inocente, bem contada e atuada, mas que entra nesta lista justamente pela importância da personagem de Arquette, que transita na ambiguidade e nunca sabemos se ela pode ser a culpada ou não. Sandra é marcante ainda pelo fato de ser viciada em A Noviça Rebelde (1965) e sua trilha sonora. Fato que vira piada pela sempre ótima DeGeneres, que afirma: “ninguém que gosta dessa trilha pode ser inocente“. Será que não? Fato é que Arquette está longe de seus papeis mais densos e entrega uma leveza gostosa de acompanhar, garantindo carisma suficiente para um filme que poderia passar batido não fosse a versatilidade de seu talento.

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