Filha de uma psicanalista e de um inventor, a londrina Rachel Weisz poderia ter se dedicado à carreira de modelo, que iniciou aos 14 anos. Porém, ela foi além do esperado e decidiu se tornar atriz, começando a chamar a atenção aos poucos em séries televisivas ainda no início dos ano 1990. Seu primeiro papel de destaque veio no fim da década com A Múmia e Sunshine: O Despertar de um Século, ambos de 1999. Com um blockbuster de sucesso e um drama elogiado no currículo, as portas do grande mercado começaram a se abrir para ela.
Desde então, Weisz coleciona 16 prêmios (um Oscar entre eles) e outras 24 indicações em filmes que variam de dramas independentes, comédias de bom gosto e filmes de ação que respeitam a inteligência do espectador. Difícil dizer que a bela atriz não sabe escolher seus trabalhos. No dia 7 de março, a intérprete celebra mais um aniversário. E é claro que a equipe do Papo de Cinema resolveu comemorar escolhendo seus cinco melhores trabalhos e aquele que merece uma atenção especial. Confira!
A Múmia (The Mummy, 1999)
Por Yuri Correa
Espécie de reinvenção de Indiana Jones, em que o herói, apesar da bravura e pró-atividade do Rick O’Connell de Brendan Fraser, não é o arqueólogo, e sim a bela Evelyn de Rachel Weisz. Juntos depois de a moça tê-lo salvado da pena de morte, a dupla embarca rumo a uma aventura em que acabam ressuscitando um antigo príncipe egípcio chamado Imhotep (Arnold Vosloo). Este desperta com sede vingança e desesperado por recurar sua amada, Anck Su Namun. Weisz é não mais do que o par romântico de O’Connell, presa entre o protagonismo de Fraser e o carisma do vilão de Vosloo. Com isso, poderia até não sobrar muito para sua personagem, que ainda assim se destaca o suficiente para voltar com ainda mais importância na continuação de 2001, O Retorno da Múmia. A dupla principal tem um boa química e gera momentos cômicos funcionais, inclusive interagindo com o antagonista, formando um trio irresistível demais para ser desfeito na sequência, que até mesmo inventou um modo de ressuscitar outra vez Imhotep. De qualquer forma, ambos os filmes são aventuras empolgantes e divertidas em que Rachel Weisz é parte importante da eficiência.
O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener, 2005)
Por Conrado Heoli
Eva Green já declarou que um de seus maiores arrependimentos profissionais foi não ter interpretado Tessa em O Jardineiro Fiel por conta de conflitos de agenda e um contrato fechado anteriormente com Cruzada (2005). Azar o dela e de Kate Winslet, Sienna Miller, Naomi Watts e Nicole Kidman, que chegaram a fazer testes para o papel, mas perderam o posto – e um subsequente Oscar – para Rachel Weisz. A direção de Fernando Meirelles é assertiva e impressionante, assim como a belíssima fotografia de César Charlone e a entrega visceral e impressionante de Ralph Fiennes como Justin Quayle, marido de Tessa, mas Weisz é o coração de O Jardineiro Fiel. Sua personagem possui contornos encantadores e externa um espírito quase palpável, qualidades possíveis apenas pela dedicação da atriz em compor uma mulher real, pragmática, apaixonada pelas causas sociais e irrepreensivelmente idealista. Inspirada pela ativista social Yvette Pierpaoli, para a qual o livro de John le Carré que deu origem ao filme foi dedicado, Tessa Quayle hoje parece indissociável da imagem graciosa de Rachel Weisz e inadequada para quaisquer outras atrizes. O Oscar, Globo de Ouro e tantos outros prêmios que consagraram sua performance estão aí para provar.
Alexandria (Agora, 2009)
Por Matheus Bonez
O espanhol Alejandro Amenábar pode ter ficado conhecido por instantes no mundo todo por Os Outros (2001), mas o cineasta desenvolve muito bem sua carreira em seus país de origem com longas como Abra os Olhos (1997), Mar Adentro (2004) e este Alexandria. O longa contou com um elenco internacional e venceu sete das treze categorias aos quais foi indicado no Goya da época. Rachel Weisz foi lembrada com uma indicação mais do que especial por ser uma estrela fora de sua terra de origem. E ela é a alma deste longa na pele de Hypatia, jovem filósofa que, no ano de 391 D.C., era uma das poucas mulheres privilegiadas do Império Romano com estudos e o direito de não se casar. Filha de família privilegiada, ela pode não entender na pele como o escravos sofrem, mas defende o direito deles se defenderem. Ainda mais em uma época que o império estava decadente o cristianismo começava a tomar conta com guerra do ambos dos lados, inclusive ameaçando a biblioteca de Alexandria. E o objetivo de Hypatia é justamente defendê-la. Se o longa de Amenábar ataca de forma subjetiva a religião como método de conflito e dominação, Weisz evoca o espírito de uma pessoa caridosa e que luta pelos direitos dos outros, algo que se repete em sua filmografia, mas toda vez de uma forma singular. Uma grande interpretação em um filme que merece ser visto por todos. Religiosos ou não.
A Informante (The Whistleblower, 2010)
Por Robledo Milani
Praticamente ignorado no Brasil, este envolvente drama escrito e dirigido por Larysa Kondracki é um dos melhores trabalhos de Rachel Weisz como protagonista. A atriz interpreta a personagem real Kathryn Bolkovac, uma policial que, após a separação do marido, decide se voluntariar como agente de paz na Bósnia e acaba descobrindo um terrível esquema de contrabando sexual de adolescentes. A investigação que passa a conduzir a leva a terríveis revelações, e somente a competência da atriz, aliada à condução segura da realizadora, é que torna esse chocante material acessível aos espectadores mais dedicados. Premiado nos festivais de Seattle, Palm Springs e Bruxelas, além de ter rendido para Weisz uma indicação ao Genie Awards – o ‘Oscar’ do cinema canadense – este é um filme que pode ser facilmente ignorado, seja pelo tema controverso, por sua abordagem polêmica ou pela nossa dificuldade em lidar com assuntos aparentemente distantes da nossa realidade. No entanto, o que temos aqui é justamente o oposto, com uma atriz no melhor do seu jogo defendendo uma denúncia relevante ao mundo de hoje, mas acima de tudo desenvolvida com absoluta competência. Um verdadeiro achado.
Amor Profundo (The Deep Blue Sea, 2011)
Por Marcelo Müller
Amor Profundo entrou no circuito sem fazer muito barulho e foi relativamente pouco visto, no que se configura uma baita injustiça. Alusivo à fase de ouro do melodrama hollywoodiano, o filme mostra as desilusões do pós-guerra na Europa, em meio ao triângulo amoroso cujo vértice é Hester (Rachel Weisz), mulher insatisfeita no casamento com um homem mais velho, que logo se vê apaixonada pela energia do militar interpretado por Tom Hiddleston. A sensibilidade da atriz ressalta um paradoxo essencial para definir Hester, pois ela (a personagem) encara seus relacionamentos com paixão, mas tem dificuldades para fruir eles de maneira plena. Essa protagonista tem suas dinâmicas afetivas travadas desde muito cedo, boa parte em virtude da conturbada relação com o pai pastor. Amor Profundo é aquilo que se vê, mas, sobretudo, o que retiramos dos personagens e de suas quebradiças vicissitudes afetivas. Destacam-se a direção segura, as atuações, mas, sobretudo, Rachel Weisz, intérprete que transcende a beleza física (atributo nem sempre aliado), para emprestar verdade a uma mulher que involuntariamente dissocia o amor do ato de amar, que padece por não conseguir ser feliz, talvez porque, no fundo, busque demasiadamente a felicidade.
+1
Arte, Amor e Ilusão (The Shape of Things, 2003)
Por Renato Cabral
Baseado na peça A Forma das Coisas, de Neil LaBute, Arte, Amor e Ilusão ganhou este título pobrinho no país e um lançamento modesto direto em DVD. Uma pena, pois é um filme excepcional de LaBute e traz Rachel Weisz em plena forma em uma produção menor, com grande foco nas interpretações. Paul Rudd interpreta Adam, um guarda do museu da universidade, que é surpreendido certo dia com a presença de uma estudante de artes, Evelyn (Weisz), decidida a pichar uma estátua no local. A partir deste encontro, os dois acabam namorando, só que os amigos de Adam começam a achar estranho como ele começa a mudar de comportamento e estilo tão rapidamente. Trazendo uma ótima discussão a respeito do que é considerado belo e ainda do que é arte, Weisz captura o espectador com sua personagem calculista e dominadora. É sem dúvida um filme menor em sua filmografia, mas não devido a qualidade, e sim pelo fraco destaque dado quando lançado. Um exemplar dos bons tempos das comédias dramáticas de LaBute e da versatilidade de papéis que Weisz é capaz de interpretar.
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