Dono de um charme irresistível,Ricardo Darín é considerado hoje o maior astro do cinema argentino atual. Dois longas estrelados pelo galã portenho já foram indicados ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, e um deles acabou premiado com a cobiçada estatueta dourada, o intenso e provocador O Segredo dos seus Olhos (2009), no qual foi dirigido pelo amigo Juan José Campanella. No entanto, Darín permanece fiel às suas origens e distante do cinema hollywoodiano.
Favorito também do público tanto na Argentina quanto no Brasil, é protagonista de campeões de bilheteria como Um Conto Chinês (2011), parceiro fiel de cineastas como Campanella (quatro trabalhos em conjunto), Pablo Trapero (duas parcerias) e do falecido Fabián Bielinsky (também duas parcerias). Já se aventurou como diretor (O Sinal, de 2007) e fez novelas (Chiquititas, em 1998). Dono de 5 Condor de Prata (o Oscar do cinema argentino), foi também premiado em festivais como Valladolid (Espanha), Biarritz (França) e Havana (Cuba). E agora, para celebrarmos juntos seu aniversário, a Equipe Papo de Cinema elege aqui os cinco trabalhos inesquecíveis do ator – além de apontar aquele especial que merece ser descoberto! Confira!
O Mesmo Amor, A Mesma Chuva (El mismo amor, la misma lluvia, 1999)
Em mais uma de suas parcerias com Juan José Campanella, Ricardo Darín entrega uma grande performance neste belo conto sobre uma relação amorosa desgastada em duas décadas. Como pano de fundo, a história da Argentina entre 1978 e 1998. Quando Jorge (personagem de Darín), um escritor de contos românticos, conhece a garçonete Laura, a atração é imediata. O interessante é que a relação se fortalece ao mesmo tempo em que os acontecimentos históricos vão tomando forma (da Guerra das Malvinas ao fim da ditadura) e começa a se desgastar justamente após o fim do período mais pesado da sociedade argentina. Quando o governo Alfonsín começa, o namoro vai por água abaixo, como se houvesse uma conexão direta entre os acontecimentos daquela época com o microcosmo da relação. Sem faltar, é claro, uma belíssima cena sob a chuva, como o próprio título sugere. Um trabalho fascinante. – por Matheus Bonez
O Filho da Noiva (El hijo de la novia, 2001)
Ainda que O Segredo dos seus Olhos seja o filme mais conhecido da parceria entre o ator Ricardo Darín e o cineasta Juan José Campanella, é importante lembrar que os dois já trabalharam juntos anteriormente, entregando trabalhos que se não deram o segundo Oscar para a Argentina como no citado acima são cheios de qualidades que os deixam imperdíveis. É o caso de O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, de 1999, mas, principalmente, de O Filho da Noiva, uma comédia dramática deliciosamente divertida, lançada em 2001. No filme, Darín interpreta um dono de restaurante que, em meio à correria de seu trabalho, está às voltas com problemas com sua ex-mulher, dá pouco tempo para sua filha, tem receio em assumir compromissos com a namorada e, pior, visita muito pouco sua adoentada mãe, que vive em um asilo. Quando esse homem sofre um ataque do coração, as coisas ao seu redor começam a mudar. Com diálogos e ritmo muito ágeis, O Filho da Noiva é um exemplo de como o cinema argentino consegue fazer histórias pessoais divertidas, comédias com conteúdo muito além do popularesco e, sem parecer apelativo, acrescentar toques de emoção que deixam o programa ainda mais completo. – por Rodrigo de Oliveira
O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de sus Ojos, 2009)
Em O Segredo dos Seus Olhos, Benjamin Espósito, ex-funcionário do tribunal penal de Buenos Aires, decide escrever um livro sobre determinado caso que lhe marcou nos anos de labuta: o estupro e o posterior assassinato da jovem Liliana Colotto. Para reproduzir sua experiência em prosa, ele precisa rememorar quem era em 1974, tirando a poeira do próprio passado. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010, o longa de Juan José Campanella se distingue pela engenhosidade na mescla das tramas policial e dramática. Mas, além das óbvias qualidades narrativas, um dos maiores trunfos do filme é o protagonismo de Ricardo Darín, seguro e pungente, aliás, como de hábito. Benjamin Espósito figura entre as mais fortes interpretações desse ator que mesmo sem grandes alterações físicas confere singularidade aos personagens. O veterano Darín é, sem dúvida e por méritos, símbolo mor do novo cinema argentino. – por Marcelo Müller
Abutres (Carancho, 2010)
Já disseram que Ricardo Darín não se adapta aos papéis que representa, mas sim que os personagens são adequados para o desempenho do ator. Aqueles que duvidam da capacidade dramática do onipresente argentino devem rever seus conceitos, já que cada vez mais Darín têm se desafiado em papeis complexos e multifacetados. O Sosa de Abutres (2010) é um desses tipos, uma espécie de anti-herói que questiona a ética e a legislação vigente na prática enquanto aproveita para arrecadar dinheiro. No filme de Pablo Trapero, Sosa é um advogado sem licença que integra a equipe de uma empresa decadente, especializada em forjar acidentes para ganhar grandes porcentagens sobre os seguros. O encontro do ator com Martina Gusman, esposa e habitual colaboradora de Trapero, é ótimo e contrapõe a pesada atmosfera do filme com um pouco de romance. Abutres ainda apresenta uma faceta pouco conhecido de Darín, que é engajado também nas causas políticas. Com Pablo Trapero, o ator, que se envolveu numa recente polêmica ao questionar o patrimônio da presidente argentina Cristina Kirchner, conseguiu atrair a atenção do governo para esquemas fraudulentos de seguradoras. Abutres foi exibido em competição no Festival de Cannes e representou a Argentina na busca por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – prêmio então já conquistado com outro filme protagonizado por ele, O Segredo dos Seus Olhos (2009). O alcance e relevância do filme foram tamanhos que ainda existem rumores de um remake norte-americano e propostas para que Darín ingresse no cinema estadunidense. – por Conrado Heoli
Elefante Branco (Elefante Blanco, 2012)
Todo peso de um personagem (e mais ainda, de uma história) cabe muito bem na expressividade exata de Ricardo Darín: ele é mesmo assim, um pouco como um dante, um escultor que constrói sua obra mesmo que servindo seu corpo a um estranho. Em Elefante Branco, interpretando o padre Julián, Darín notadamente envolve seu personagem com toda a potência do seu olho (o olho é o olhar) – o olho maligno, o olho vibrante, assustado e irremediavelmente corajoso. Seguro no espaço fílmico, treinado no que toca a sutileza das palavras. Ele fala bem, com destreza, mas também com raiva quando necessário. Qualquer ângulo é o desejável para que as lentes o observem com acuidade, pois ele cresce para a câmera e torna o filme um pouco melhor. Logo se entende porque ele está neste recente trabalho de Pablo Trapero, que também não é bobo: em Darín, cabe um bom pedaço do mundo. – por Pedro Henrique Gomes
+ 1
XXY (XXY, 2007)
Este é um dos filmes menores dentro da extensa e prolífica filmografia de Ricardo Darín, mas não um dos menos importantes. Ele aparece como coadjuvante, no papel do pai de Alex (Inés Efron), uma garota que possui uma condição muito especial – ela nasceu hermafrodita, o que significa que possui a possibilidade de desenvolvimento de ambos os órgãos sexuais. Darín é Kraken, uma biológo que se refugia com a família uma cidade litorânea do Uruguai para não ter que responder perguntas e evitar situações constrangedoras, mas elas vão até ele – e sua família – provocando uma inevitável discussão sobre esse polêmico e necessário assunto. Sincero e corajoso, é um filme que merece ser discutido e apreciado. E a interpretação dele, sempre presente e impositiva, é uma das mais intensas e, ao mesmo tempo, mínimas, de todo o seu currículo. Premiado no Festival de Cannes e em países como o México, Brasil, Grécia, Tailândia, Colômbia, Espanha, Escócia, Canadá e Estados Unidos, é uma obra pequena que só existe, em grande parte, pela coragem do astro de assumi-la, mesmo que numa participação menor do que a que está habituado. Às vezes, menos é mais, e aqui temos um ótimo exemplo. – por Robledo Milani
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