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Richard Gere já foi indicado a quatro Globos de Ouro (ganhou um deles), venceu outros 18 prêmios e foi lembrado em mais 14. Pode não parecer um grande número para um ator com mais de 40 anos de carreira. A verdade é que o intérprete sempre foi eclipsado por sua beleza e charme. Poucos levam a sério (até hoje, inclusive), seu talento. Uma grande injustiça, pois o galã já provou diversas vezes, do início da carreira até hoje, que ele pode desfilar em qualquer gênero, do mais dramático ao mais engraçado, dos blockbusters às produções independentes. No dia 31 de agosto, Gere completa mais um aniversário. Nós do Papo de Cinema comemoramos a data com a escolha de cinco dos seus melhores trabalhos – e mais um, que há muito foi esquecido, mas deve ser lembrado. Confira!

 

51-richard-gere-papo-de-cinema-3Gigolô Americano (American Gigolo, 1980)
Mesmo já tendo conseguido papéis importantes anteriormente, foi com este longa, terceiro do roteirista Paul Schrader como diretor, que Richard Gere alcançou o status de um dos grandes galãs de sua geração. Na história, Gere interpreta Julian, personagem que leva uma vida luxuosa em Los Angeles, trabalhando como acompanhante de mulheres ricas e geralmente mais velhas. Sua rotina é abalada por dois acontecimentos: o relacionamento afetivo que começa a desenvolver com Michelle (Lauren Hutton), esposa de um senador, e a acusação do assassinato de uma de suas clientes. Influenciado por Robert Bresson, Schrader filma essa mistura de drama e suspense com uma frieza extremamente refinada, que ditaria muito da estética dos anos 80 – marcada aqui pelos ternos Armani impecáveis de Julian e a trilha sonora de Giorgio Moroder, incluindo a parceria com Debbie Harry do Blondie, em “Call Me” – para retratar um universo de jogos de aparências, onde sexo e política dividem o papel de ferramenta de manipulação. Dentro deste cenário, Schrader encontra na figura de Gere a representação perfeita do homem desta época, que por trás do charme aparentemente irresistível para as mulheres, carrega doses de fragilidade, tristeza e solidão, que o ator consegue transparecer com competência. – por Leonardo Ribeiro

 

51-richard-gere-papo-de-cinema-4Uma Linda Mulher (Pretty Woman, 1990)
A história não poderia ser mais simples: um ricaço bonitão (Richard Gere) encontra uma bela prostituta (Julia Roberts) no Hollywood Boulevard e a leva para um hotel. Ele se encanta pela moça, não faz sexo com ela na primeira noite e acaba contratando-a como companhia pelos próximos dias. O filme pode ser de Julia Roberts com sua mais que carismática Vivian Ward, mas a personagem não seria tão interessante sem um contraponto como Edward Lewis, personagem do nosso homenageado. Claramente confuso em suas emoções antes ainda de encontrar a garota nas ruas, Gere se esforça para ir além do estereotipo de galã, algo que poderia se encaixar perfeitamente no papel sem nada demais. Porém, é graças à sensibilidade colocada no personagem, suas dúvidas, seu jeito tímido (mas não menos sensual) e, é claro, a química com sua parceira, que o filme nos conquista. Graças a seu esforço, recebeu uma indicação ao Globo de Ouro pelo filme, além de elevar o status de galã a outros patamares, que muitos tentariam reprisar (mas poucos com sucesso) em outras comédias românticas que viriam a seguir. – por

 

51-richard-gere-papo-de-cinema-5As Duas Faces de Um Crime (Primal Fear, 1996)
Esta produção é mais lembrada como o filme que revelou o grande talento de Edward Norton, que logo em sua estreia rouba todas as cenas em que aparece. Mas é inegável que Richard Gere tem uma atuação muito segura no papel do protagonista. No filme, o ator interpreta o arrogante advogado Martin Vail, que adora aparecer e parece trabalhar mais pela fama que seus casos podem lhe trazer. É então que ele decide defender o coroinha Aaron Stampler (Norton), acusado de assassinar um adorado arcebispo. A partir disso, vemos o desenrolar intrigante de um thriller inteligente e com boas surpresas, onde Richard Gere encarna convincentemente o ego do protagonista, que aos poucos passa a realmente se preocupar com o caso que tem em mãos ao invés de apenas com sua imagem, sendo que Martin não deixa de ficar na mesma posição do público com relação a Aaron. Edward Norton é o ponto de puro brilhantismo do filme, tendo recebido sua primeira indicação ao Oscar, mas os créditos também vão para o galã homenageado, que nos guia ao longo da história. – por Thomás Boeira

 

51-richard-gere-papo-de-cinema-6Chicago (2002)
Richard Gere sempre foi bonito demais para ser levado a sério. Desde os primeiros filmes que estrelou, sob o comando de cineastas como Terrence Malick e Francis Ford Coppola, a percepção geral era de que conseguia tais papéis mais por uma necessidade estética dos realizadores do que por talento próprio. Porém seguiu alternando sucessos de bilheteria com obras independentes. E neste caminho, se há um trabalho que se destaca é este musical dirigido por Rob Marshall, vencedor de 6 Oscars – inclusive de Melhor Filme. Se todos os olhos pareciam estar no duelo entre Renée Zellweger e Catherine Zeta-Jones, é preciso reconhecer a importância do Billy Flynn de Gere. O advogado porta de cadeia charmoso e cheio de segundas – ou até terceiras – intenções é um marco em sua carreira, um personagem multifacetado que nunca revela de imediato seus interesses, mas canta e dança conforme a música que ele próprio escolhe – números como All I Care About is Love e Razzle Dazzle são bons exemplos. No final, é ele o grande maestro, e o Globo de Ouro que ganhou só deixa mais evidente o quão cegos foram os votantes do Oscar, que nem sequer lhe concederam uma mais do que merecida indicação. – por Robledo Milani

 

51-richard-gere-papo-de-cinema-7A Negociação (Arbitrage, 2012)
No período de uma semana, a vida do empresário Robert Miller vai da calmaria ao desespero. Após manipular livros contábeis e apostar em negociações arriscadas, ele decide vender sua empresa para um banco antes que suas fraudes sejam descobertas. Tentando manter as aparências, Robert se vê ainda mais encurralado pela pressão exercida por sua esposa, pela filha contadora e também por sua amante – esta que, após um acidente, o coloca numa situação ainda mais complicada. Richard Gere é a personificação da ambiguidade moral na pele de Miller, personagem que mantêm ocultas suas imprudências fiscais a fim de preservar o alto estilo da vida que leva. Numa de suas mais impressionantes performances, quiçá a melhor de todas elas, Gere evidencia as lacunas éticas no caráter de Robert Miller sem se tornar excessivo ou pouco crível, aproveitando sua maturidade para se esquivar de possíveis maneirismos. Até mesmo Susan Sarandon e Tim Roth, que obviamente possuem menos tempo de tela, são eclipsados pelo trabalho de Gere. Não fosse um bom filme, A Negociação poderia ser salvo pelo seu protagonista – o que felizmente não é o caso.  – por Conrado Heoli

 

+1

51-richard-gere-papo-de-cinema-8Cinzas no Paraíso (Days of Heaven, 1978)
O personagem de Richard Gere neste filme de Terrence Malick testemunha o alvorecer do século XX. Sem dinheiro ou mesmo morada fixa, ele e a namorada, Abby (Brooke Adams), partem de Chicago ao Texas para trabalhar numa fazenda. O patrão, portador de uma doença terminal, cai de amores pela jovem, algo que o casal vê como oportunidade. Fingindo-se irmãos, eles levam a mentira às últimas consequências e têm de arcar com o peso dos efeitos colaterais. Além da beleza plástica da imagem, algo comum nas realizações do cineasta, o que chama atenção aqui é o choque violento de emoções e expectativas, tudo emoldurado pela situação social dos Estados Unidos num momento histórico bastante singular. Gere, por sua vez, se sobressai pela irascibilidade de seu protagonista, a insatisfação dele com o provável destino servil. A insubordinação própria da juventude, algo que ainda estava muito em voga quando o filme foi lançado, encontra na interpretação de Gere um veículo de propagação eficiente. Restringir o ator a seu amplamente aplaudido papel em Uma Linda Mulher é esquecer que, entre outros trabalhos anteriores, também dignos de elogios, ele viveu uma das figuras que ainda mantinha acessa a chama iconoclasta da Nova Hollywood. – por Marcelo Müller

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