Robert Downey Jr. já foi do céu ao inferno em Hollywood. Promessa do cinema após sua primeira indicação ao Oscar no início dos anos 1990 por Chaplin (1992), começou a ter problemas por vício em drogas, o que o afastou de bons papeis por um longo período. Uma década depois, começou a reconstruir sua carreira graças ao seu carisma em produções de reconhecimento crítico até chegar sua grande chance em 2008 assumindo a armadura de Tony Stark, alterego de um dos grandes heróis da Marvel que, coincidência ou não, também sofria de problemas, no caso, o álcool.
Desde então, muito se tem falado sobre a arte imitar a vida ou vice-versa na carreira do ator, visto que seus últimos papeis tem sido variações do mesmo tema. O que não impede seu talento, que é bem maior do que isso, como ele já comprovou várias vezes, assim como seus 35 prêmios e outras 73 indicações já ajudaram a comprovar. No dia 4 de abril, o intérprete completa mais um aniversário e a equipe do Papo de Cinema comemora lembrando seus cinco melhores papeis no cinema. Confira!
Por Marcelo Müller
Pouca gente lembra, mas antes do ostracismo que colocou em risco sua carreira, Robert Downey Jr. interpretou, entre outros, um papel dos mais desafiadores, daqueles que muito veterano tremeria na base para assumir. Afinal de contas, Chaplin é uma das figuras mais importantes da história do cinema. Para retratá-lo com fidelidade, era necessário equilibrar a genialidade do artista e os muitos episódios controversos de sua vida pessoal, os casamentos conturbados, a irascibilidade comportamental, sobretudo no que diz respeito ao trabalho, no qual investia boa parte de seu perfeccionismo extremado. O jovem Downey Jr. bravamente deu conta do recado, pois soube emular na tela essa dualidade do inglês, ora Chaplin, ora apenas Charles. O filme de Richard Attenborough é uma cinebiografia correta, sem muita inventividade, mais preocupada com os eventos de formação e de notoriedade. Vemos o ícone da infância à morte, passando pelo sucesso que eternizou o personagem maltrapilho de chapéu-coco e bengala, na tela muitas vezes expondo as facetas trágicas e cômicas de viver. Robert Downey Jr. , hoje uma estrela das mais valorizadas do firmamento hollywoodiano, pode se orgulhar de ter feito jus à tarefa tão árdua quanto recompensadora, que soa como homenagem digna a um gênio.
Por Conrado Heoli
Anos antes de ganhar milhões como o Homem de Ferro (2008) e se tornar o ator mais boa-praça de Hollywood, Robert Downey Jr. costumava apostar em papeis mais ousados, como seu retrato excêntrico para o jornalista Paul Avery em Zodíaco. O ator coadjuva para Jake Gyllenhaal e Mark Ruffalo, porém rouba as sequências em que aparece e se posiciona como protagonista, replicando, com exatidão, muito ego e algum exagero as principais características do personagem que interpreta. Indicado à Palma de Ouro em Cannes, o thriller quebrou paradigmas do gênero e ainda hoje é apontado como um dos grandes suspenses contemporâneos. Situado em São Francisco entre os anos de 1969 e 1991, a obra é baseada numa série de assassinatos nunca foi solucionada. Baseado no livro de Robert Graysmith, David Fincher reconstitui o período com frieza e maestria, enfatizando personagens realistas numa era pré-tecnológica e ainda extremamente machista. A narrativa proposta por Fincher e o roteirista James Vanderbilt descarta quaisquer habituais e inconvenientes reviravoltas que facilitariam a sessão do espectador. Zodíaco é uma obra madura, com timing perfeito e irretocável em técnica e estética. Talvez o magnum opus de seu criador e uma das mais pontuais performances de Downey Jr. .
Por Thomás Boeira
Em uma época em que Robert Downey Jr. ainda estava recuperando sua carreira depois de todos os problemas que teve com drogas e prisões, Homem de Ferro apareceu e representou uma virada brilhante para o talentoso ator. Na primeira produção feita sob a batuta da Marvel Studios (e que iniciou o bem sucedido universo cinematográfico dos heróis da editora), Downey Jr. mostra carisma e bom humor contagiantes como Tony Stark, o gênio, bilionário, playboy e filantropo que se torna o super-herói Homem de Ferro após sofrer um atentado no Afeganistão. O ator faz com que o personagem seja alguém que conseguimos gostar com facilidade, mesmo ele sendo bastante narcisista e arrogante, detalhes que na verdade viram mais motivos para nós nos divertirmos com Stark. Com o enorme sucesso do filme, Downey Jr. não só ganhou um dos papeis pelos quais será sempre lembrado, mas também foi alçado ao estrelato absoluto que sempre mereceu, posição da qual ele não aparenta que irá sair tão cedo.
Por Yuri Correa
Com o papel do ator Kirk Lazarus aqui em Trovão Tropical, o nosso homenageado da semana conseguiu uma divertida indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, que antes de merecida – e foi – parecia uma boa piada com a própria natureza do personagem. Branco, Robert Downey Jr. interpreta aqui um negro que por sua vez está interpretando… enfim, também alguém absurdamente diferente. Além do próprio conceito hilário, Kirk tem uma das melhores falas do longa-metragem, o já famoso discurso “don’t go full retardad“. Isso tudo, claro, embalado pela já habitual persona do intérprete de Sherlock Holmes e do Homem de Ferro. Inserido ainda em um filme empolgante e divertido, repleto de sequências absurdas protagonizadas por outros destaques como Tom Cruise, Ben Stiller e Jack Black, Downey Jr. se mostra essencial para o funcionamento eficiente desta já icônica comédia de ação.
Por Roberto Cunha
Eis aí mais um filme que espelha o que poderia ser chamado de “Fase III” da vida do astro, que fez sucesso cedo, mergulhou numa crise intensa e, reabilitado, abraçou a fama como ninguém. Sherlock Holmes, vale o aviso, pode ser uma experiência bem distinta. Para fãs radicais da obra original ou que possuem restrições quanto ao estilo Guy Ritchie de filmar, será um sofrimento. Mas para aqueles que não estão nem aí para isso ou, melhor, não têm preconceito, a diversão é garantida. Isso porque o cineasta visita o universo de Sir Arthur Conan Doyle e volta de lá sem medo de misturar tradição e modernidade, usando e abusando de seu estilo frenético. O ator está ótimo na pele do investigador da ficção, famoso pela perspicácia e inteligência, que ganhou aqui doses generosas de agilidade, humor e uma certa predileção pela adrenalina. Tendo como pano de fundo assassinatos que envolvem a magia negra, o longa prende a atenção do início ao fim, com bom ritmo, edição, efeitos especiais, além de diálogos rápidos e cheios de deboche. Como bônus adicional, vale lembrar a ótima química em cena com Jude Law, vivendo o inseparável parceiro Watson. Diversão nada elementar, caro leitor.
+1
Por Rodrigo de Oliveira
Pouco antes da grande volta por cima de Robert Downey Jr. como o Homem de Ferro do Universo Cinematográfico da Marvel, o ator já vinha emplacando alguns trabalhos interessantes no cinema. E um dos mais bacanas – e, infelizmente, pouco conhecidos – é o divertidíssimo ladrão convertido a ator transformado em detetive do neo noir Beijos e Tiros. Na trama, escrita e dirigida por Shane Black, Downey Jr. vive o trambiqueiro Harry Lockhart, que depois de diversas trapalhadas por estar no encalço da polícia, se vê ajudando um detetive gay (Val Kilmer, absolutamente hilário e cínico como nunca) em uma trama intrincada e, por vezes, totalmente sem sentido. Como narrador da história, Downey Jr. pode usar todo o seu humor irônico e entrega uma de suas melhores performances. O filme, por si só, já vale uma olhada de perto por ser uma grande homenagem às produções noir do passado, subvertendo diversas regras do gênero e brincando com a história da mulher fatal e do detetive machão. Kilmer e Downey Jr. fazem uma dobradinha inusitada e é uma lástima não existir qualquer chance de uma continuação para aquela história, visto que a bilheteria não respondeu positivamente. Fosse realizado hoje, com a reencontrada fama do astro, teríamos uma nova franquia cômica policial nas mãos.