Nascido Robert Selden Duvall em 1931, na cidade californiana de San Diego, este multipremiado ator surgiu no teatro nos anos 50 e migrou logo depois à televisão e ao cinema. Foi na década de 1970, porém, que ele interpretou seus principais papeis, não por acaso nas telonas, pelos quais é seguidamente lembrado. Basta começar por Tom Hagen, consigliere dos Corleone, peça importante por estar completamente inserida nos negócios da família ítalo-americana mais famosa do cinema, mesmo que não carregue o sangue de Don nas veias. Ainda atuando sob a batuta de Francis Ford Coppola, ele viveu o tenente-coronel Bill Kilgore, comandante do famigerado pelotão de helicópteros que ataca em meio ao som imponente da Cavalgada das Valquírias. Aliás, por ambos os personagens Duvall foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Ao todo, ele coleciona sete nominações ao prêmio máximo de Hollywood, tendo vencido em 1984 a cobiçada estatueta de Melhor Ator por A Força do Carinho (1983).
Robert Duvall colaborou com grandes cineastas, entre eles Robert Altman, Dennis Hopper e Sidney Lumet. Seu semblante austero serviu frequentemente à ambiguidade, à aparente invulnerabilidade de homens que vivem no limite, principalmente no que tange ao âmbito emocional. Ator de múltiplos recursos, figura no rol dos grandes nomes do cinema norte-americano, assumindo, certamente, posição de destaque no cinemanovismo que mudou a cara da produção estadunidense nos anos 60 e 70. Em virtude de seu aniversário, resolvemos homenageá-lo, escolhendo cinco de seus trabalhos mais relevantes e um que merece (re)descoberta. Confira e não deixe de comentar.
O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972)
Muito se escreveu sobre esta produção comandada por Francis Ford Coppola. Teceram loas para o cineasta, que concebeu uma obra praticamente perfeita em cima do texto de Mario Puzzo. Elevaram Marlon Brando ao panteão dos atores inesquecíveis, com Al Pacino seguindo logo atrás. Nem sempre, no entanto, dão o devido valor à interpretação certeira de Robert Duvall como o braço direito de Don Corleone, Tom Hagen. Ele é praticamente da família, uma figura de total confiança e que executa tarefas para seu Don com a eficácia e a expertise que lhe deram sua colocação. A frase “farei uma proposta irrecusável” é sua carta na manga, aprendida após anos de convívio com aquele Poderoso Chefão. Pela performance, foi indicado ao Oscar como Ator Coadjuvante – concorrendo com seu colega de elenco, Al Pacino – e ao BAFTA, mas só saiu vencedor aos olhos dos críticos de Nova York, que lhe deram o prêmio. Ele repetiria o papel na continuação, O Poderoso Chefão: Parte 2 (1974), mas não no epílogo, lançado em 1990. Seu personagem era um dos protagonistas, mas o dinheiro oferecido a ele era pequeno em comparação ao tamanho do papel. Com isso, Duvall foi cortado, uma falta bastante sentida. – por Rodrigo de Oliveira
Rede de Intrigas (Network, 1976)
Um dos clássicos dirigidos por Sidney Lumet, atemporal por sua ácida crítica ao jornalismo sensacionalista e tendencioso. A história gira em torno do âncora Howard Bale (Peter Finch), que recebe a notícia da sua demissão por conta da baixa audiência. Pois, ao vivo, ele diz que vai se matar em uma semana, o que faz o programa atingir altos picos no “ibope”. É claro que a emissora resolve explorar todo esse drama e um dos responsáveis pela tarefa nada ética é um de seus executivos, Frank Hackett (Robert Duvall). Ainda que não tenha tanto tempo de tela quanto os protagonistas, o nosso homenageado deixa sua marca ao humanizar um personagem cheio de defeitos morais, que não entende aquilo tudo como uma simples exploração da miséria humana. É de sua natureza ser assim, o que intriga ainda mais o espectador, mesmo que também cause ódio no mesmo. Não é um vilão, mas um ser tão real e sem escrúpulos quanto os que vemos no lado de cá da tela. Um personagem que o ator agarrou com unhas e dentes. Uma dos mais memoráveis trabalhos de sua carreira. – por Matheus Bonez
Apocalypse Now (1979)
Após três colaborações com Francis Ford Coppola – Caminhos Mal Traçados (1969), O Poderoso Chefão (1972) e O Poderoso Chefão: Parte 2 (1974) –, Robert Duvall voltou a ficar sob a batuta do diretor ítalo-americano neste que foi seu projeto mais ambicioso até então: uma adaptação gigantesca do clássico livro Coração das Trevas, de Joseph Conrad, transportando a história para a recém-encerrada Guerra do Vietnã. Em meio às muitas controvérsias sobre a produção do filme e mesmo a respeito do resultado (houve quem torcesse o nariz, por exemplo, para a presença meio estranha de um cada vez mais megalomaníaco Marlon Brando na parte final da narrativa), Duvall foi, provavelmente, quem conseguiu se manter no nível da unanimidade crítica. Único membro do elenco indicado ao Oscar em 1980, o ator talvez seja quem represente melhor e mais eficientemente simbolize a insanidade do olhar de Coppola para o Vietnã, por meio de seu personagem, o tenente-coronel Bill Kilgore. É ele o protagonista, por exemplo, das cenas mais emblemáticas do filme: o bombardeio ao som da Cavalgada das Valquírias, de Wagner, e o momento em que força seus comandados a surfarem em plena guerra. – por Wallace Andrioli
As Cores da Violência (Colors, 1988)
Uma das mais sólidas atuações da carreira de Robert Duvall, ainda que talvez não tão devidamente reconhecida, pode ser encontrada neste drama policial dirigido por seu colega de elenco em Bravura Indômita (1969) e Apocalypse Now (1979), Dennis Hopper. Vindo na esteira da crescente onda de conflitos entre gangues de Los Angeles na década de 1980, o filme acompanha o oficial Bob Hodges (Duvall), veterano do departamento especializado nesse tipo caso que, prestes a se aposentar, é obrigado a lidar não só com uma guerra entre duas facções rivais, mas também com seu intempestivo novo parceiro, Danny (Sean Penn). Cercado de controvérsias à época de seu lançamento, o trabalho de Hopper ganhou status cult com o passar dos anos devido ao seu mergulho profundo no universo das gangues e ao tratamento cru na representação da violência, bem como pelo desempenho de seu elenco. Partindo da dinâmica clássica do “policial experiente X policial novato”, Duvall se vale de sua presença imponente para a construção de Bob como um homem da lei que carrega toda a bagagem das ruas, demonstrando certa desilusão e cansaço, porém, sem nunca perder o equilíbrio. Algo visível especialmente nos intensos e realistas embates ideológicos com o personagem de Penn. – por Leonardo Ribeiro
O Juiz (The Judge, 2014)
Apesar dos esforços artísticos de Robert Downey Jr., ator que interpreta Hank Palmer, um advogado importante que se vê obrigado a voltar à sua pacata cidade natal após receber a notícia do falecimento da mãe, durante um julgamento, é Robert Duvall, como o juiz Palmer, que aqui rouba cena de maneira leve e natural. O personagem do veterano ator de Hollywood é um importante e respeitado homem da lei acusado de assassinato, fato que põe toda a sua imponência em xeque. O acontecimento fatídico une pai e filho. O mais jovem tem dificuldade de encarar os fantasmas do passado e de se reconectar com um lado importante da sua vida. Representando, por sua vez, o pilar excêntrico e conceitual da trama, Duvall dá o tom dramático e autoritário, semelhante ao que já fizera em O Grande Santini (1979). Além disso, faz questão de sustentar até mesmo alguns clichês, como pequenas demostrações de afeto com crianças, e, principalmente, as cenas fortes, como uma intensa briga que descamba à reconciliação em meio a um forte temporal interiorano. Como resultado, Duvall foi indicado pela sétima vez ao Oscar, a quarta como ator coadjuvante. – por Victor Hugo Furtado
+1
Segredos de Um Funeral (Get Low, 2009)
Com uma trajetória que mais parece uma coleção de personagens dos sonhos para qualquer ator, Robert Duvall consegue surpreender o público no papel do ermitão Felix Bush que, em plena década de 30, no Tennessee, resolve usar suas economias a fim de realizar uma festa para comemorar a sua despedida desse mundo. Um funeral antecipado, com direito a comida farta, copos sempre cheios, muita música e diversão, indo na contramão da vida pacata que Felix leva no meio da floresta. Dividindo a cena com Duvall está Bill Murray que, apesar da boa atuação, cumpre melhor sua função de escada para o colega de elenco. Ele dá vida ao dono da funerária que precisa dar conta dos desejos insólitos de Felix e ainda lidar com os fantasmas do passado do cliente, que podem colocar o momento festivo em risco. A direção precisa e a fotografia em tons terrosos, que ressaltam a beleza do interior americano, colaboram para tornar o longa uma produção interessante e com ares de western bem mais inovadores que outros filmes lançados no mesmo período. Num misto de solitário rabugento com eterno esperançoso, Duvall constrói um dos personagens mais interessantes de sua trajetória nos anos 2000. – por Bianca Zasso
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