Ele dispensa apresentações. Com um currículo invejável para uma carreira de quase 50 anos, Robert De Niro coleciona papeis emblemáticos que vão desde os primeiros anos de sua carreira entre os anos 1970 e 1980 (onde, já adiantamos, se concentram a maior parte dos filmes desta lista), como seus personagens clássicos da máfia, que vão do drama de Era Uma Vez na América (1984), Os Intocáveis (1987) e Os Bons Companheiros (1990) até às comédias como o divertido Máfia no Divã (1999).
Por sinal, De Niro tem se acostumado com papeis mais cômicos desde então, o que não é nenhum demérito, mesmo que algumas produções sejam de qualidade duvidosa. Os dois Oscar, outros 45 prêmios e suas 63 indicações já atestam a qualidade de seus trabalhos. E, para comemorar seu aniversário no dia 17 de agosto, a equipe do Papo de Cinema não teria outro escolhido para homenagear. Elegemos seus cinco melhores filmes e mais um que merece destaque. Confira!
Por Thomás Boeira
Na segunda parte de uma das melhores e mais importantes obras da história do cinema, vemos a saga dos Corleone na década de 1950, com Michael (Al Pacino) buscando expandir os negócios da família mesmo depois de sofrer um atentado em sua própria casa. Paralelamente a isso, acompanhamos a história do jovem Vito Corleone desde sua infância até o momento em que ele se torna um respeitado Don. São duas tramas que se complementam perfeitamente, sendo que com Michael vemos o apogeu da família enquanto que Vito representa a ascensão desta, em um filme cuja escala é maior em todos os sentidos quando comparada aquela vista em seu antecessor, além de ser repleto de momentos inesquecíveis. No trabalho que rendeu seu primeiro Oscar, Robert De Niro encarna a versão mais jovem de Vito Corleone com uma segurança admirável, retratando a evolução do personagem maravilhosamente. Como se não bastasse, ele naturalmente insere em sua caracterização alguns dos maneirismos que tornaram a atuação de Marlon Brando no primeiro filme tão memorável, o que acaba sendo um toque de gênio daquele que viria a se confirmar como um dos melhores atores de sua geração.
Por Marcelo Müller
Não à toa, Taxi Driver é um dos emblemas da chamada Nova Hollywood, o movimento que salvou os estúdios americanos entre os anos 1960 e 1980. E Robert De Niro, na pele do protagonista, um veterano da Guerra do Vietnã que vaga insone em seu taxi por uma Nova Iorque corrompida até a última alameda repleta de miséria humana, tem grande parcela de responsabilidade para que o filme tenha virado esse clássico quase inquestionável. Feito grande não apenas pela gênese do roteiro de Paul Schrader e a direção de Martin Scorsese, mas muito pela atuação assombrosa do ator, Travis busca maneiras de normatizar sua rotina, mas falha e então resolve salvar para ser minimamente salvo. Um cowboy urbano que, de alguma maneira, remete a Ethan Edwards, clássico personagem de John Wayne em Rastros de Ódio (1956), e que vira herói por fazer justiça com as próprias mãos. A câmera de Scorsese deforma a paisagem para justamente extrair o que ela tem de verdadeiro, e o trabalho de Robert De Niro (ele que, por vezes, parece quase em transe, tamanha sua entrega) faz do protagonista de Taxi Driver uma das maiores figuras do cinema.
Por Matheus Bonez
Três amigos. Uma roleta russa. Uma cena tensa e cruel, talvez uma das mais emblemáticas dos últimos 40 anos no cinema e, especialmente, de filmes sobre a Guerra do Vietnã. Afinal, é neste contexto que o longa de Michael Cimino se passa. Michael (Robert De Niro), Nick (Christopher Walken) e Steve (John Savage), operários de uma siderúrgica, terminam convocados para o conflito em que são feitos prisioneiros. Apesar do diretor tentar investir ao máximo em diluir o protagonismo entre seus três homens na primeira parte do filme, é a figura de Michael que pesa. E seu intérprete, um De Niro ainda jovem e com o talento borbulhando em várias direções, toma o longa para si, especialmente no que tange humanizar o que poderia se transformar num caricato Rambo. Seu personagem não é apenas o melhor atirador/caçador do grupo ou o mais violento. É também o que mais esconde seus sentimentos, por mais nobres que sejam. Algo que, mais ao final do filme, torna-se ainda mais evidente nos efeitos pós-guerra. O resultado: mais uma das indicações de De Niro ao Oscar. Merecia ter levado a estatueta para casa.
Por Robledo Milani
Numa época e que Martin Scorsese se consolidava como um dos grandes cineastas da Nova Hollywood e Robert De Niro desfrutava os louros após se firmar como um dos maiores nomes do cinema norte-americano do momento, os dois renovaram uma importante parceria pela quarta vez nesta cinebiografia que praticamente redefiniu esse subgênero. Ao dar vida ao boxeador Jake LaMotta da sua aparente obscuridade até o estrelato, a fama, a glória e também durante sua decadência, o astro mostrou uma versatilidade absurda como protagonista, justificando o merecido Oscar de Melhor Ator que recebeu – um dos dois ganhos pelo filme, ao lado da eficiente edição, dentre as oito indicações conquistadas naquele ano, entre elas as de Melhor Filme, Direção e Fotografia (um estonteante trabalho em preto e branco de Michael Chapman). Mas se alguém ainda hoje lembra deste trabalho, é mesmo por causa de De Niro, que emagreceu e engordou de acordo com as necessidades do personagem, se transformou como pessoa e mostrou que, para dar vida a um papel é preciso muito mais do que se parecer com o que está escrito no roteiro: é preciso entende-lo e, acima de tudo, assumi-lo como parte de si mesmo. Depois deste longa, ninguém duvidou mais que Robert De Niro é, de fato, um touro indomável!
Por Yuri Correa
Maníaco, psicótico e assustador. É como surge o nosso homenageado em Cabo do Medo, thriller magnético dirigido por Martin Scorsese, um remake de Círculo do Medo, de 1962. Recém saído da prisão, onde dedicou-se a aprender as artimanhas legais para poder realizar sua vingança, Max Cady (Robert De Niro), inicia uma dura perseguição física, psicológica e moral ao advogado Sam (Nick Nolte), que foi incapaz de absolvê-lo dos crimes de que era acusado. Paciente em sua direção, Scorsese deixa que o ator exale a sensualidade perigosa de seu personagem, principalmente em uma cena que se dá num teatro escolar, onde De Niro divide com Juliette Lewis um diálogo intenso e angustiante. Aliás, ambos foram indicados ao Oscar por seus desempenhos aqui, merecidamente. A vivacidade que Max passa apenas através de olhares e meios sorrisos é amedrontadora e poupa o trabalho do diretor de ter de perder muito tempo estabelecendo-o como uma ameaça real. Os acordes opressivos da trilha sonora também ajudam neste quesito, sempre precedendo ou acompanhando a entrada de Cady em cena. Ao final já alucinado, Robert De Niro termina sua construção de Max com irregularidade temperamental correta, fazendo de todo o clímax uma sequência ainda mais eletrizante.
+1
Por Rodrigo de Oliveira
Depois de ter feito sucesso com o ótimo Máfia no Divã (1999), Robert De Niro achou por bem investir mais em papéis cômicos, que brincavam com sua persona turrona. É verdade que Entrando numa Fria (2000) funciona bem – o que não se repete em suas sequências. Mas era basicamente isso. De resto, os demais papéis ditos engraçados que De Niro defendeu passavam longe da qualidade que se esperava do ator. Isso até O Lado Bom da Vida. No filme dirigido por David O. Russell, o ator vive o pai de Bradley Cooper (o problemático protagonista), que é um verdadeiro viciado em apostas. Cheio de mandingas e rituais para tentar se dar bem com seu vício, o personagem de Robert De Niro rouba o filme cada vez que aparece. O fato de ter ao seu lado a fantástica Jackie Weaver, em pequeno, mas efetivo papel, só ajuda o ator. A qualidade do resultado final foi tamanha que acabou colocando De Niro novamente na lista dos indicados ao Oscar, depois de uma ausência de mais vinte anos. A estatueta acabou não aparecendo, mas demonstrou que, escolhendo bons personagens, De Niro pode mostrar sua faceta cômica quando bem entender.