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5 + 1 :: Rock Hudson

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Rock Hudson foi um ícone da Era de Ouro de Hollywood, mas quem foi o homem por trás da fama? Roy Harold Scherer Jr., um garoto descendente de alemães e irlandeses, logo chamou a atenção por sua beleza incomum. Isso, no entanto, não lhe garantiu um início privilegiado. Na escola, não conseguia papeis nas produções teatrais por não lembrar das falas. No exército, acabou servindo como mecânico de aviões. Depois da guerra, trabalhou como carteiro e como motorista de caminhões. Foi só depois disso que conseguiu estrear no cinema – e mesmo assim, tendo que suar muito para se destacar. Em seu primeiro filme, o drama Sangue, Suor e Lágrimas (1948), tinha apenas uma fala, e mesmo assim precisou de 38 takes para desempenhá-la à contento do diretor. Menos de dez anos depois, no entanto, já somava uma indicação ao Oscar, além de ter sido apontado como o Astro do Ano pela revista Star. Famoso pelas comédias românticas que estrelou ao lado de algumas das estrelas mais cobiçadas de sua época, era considerado um dos maiores galãs do cinema mundial. Por isso, causou surpresa sua morte, em 1985, aos 59 anos, vítima da AIDS. Homossexual recluso por quase toda a vida, deixou o amante Marc Christian, que teve que processar o Estado para receber a devida herança do marido. Figura controversa e inegavelmente hipnotizante, Rock Hudson nunca se contentou em ser apenas o que exibia na tela grande. Na data do seu aniversário, celebramos o melhor do astro nascido em 17 de novembro de 1925 com uma seleção dos seus desempenhos mais marcantes, além de indicar uma atuação que merece ser (re)descoberta. Confira!

 

Palavras ao Vento (Written on the Wind, 1956)
Por Marcelo Müller
Ninguém melhor para representar o homem virtuoso que se contrapõe, em comportamento, ao alcoólatra autodestrutivo de Robert Stack, neste que é um dos maiores melodramas de todos os tempos, do que Rock Hudson. Com maestria, o cineasta Douglas Sirk o encaixa na trama como uma figura de retidão destoante do entorno instável. Completamente apaixonado pela esposa do melhor amigo, esta vivida por Lauren Bacall, o personagem de Hudson sofre por fazer estritamente o que considera correto, forjando uma espécie de lei praticamente inexorável que guia sua conduta. Rock Hudson, considerado um dos principais galãs da chamada Era de Ouro de Hollywood, se impõe num elenco de desempenhos majoritariamente notáveis, conquistando a plateia constantemente, sobretudo em virtude da maneira excepcional – pelo teor profundamente dramático – com que demonstra as diversas abnegações de seu personagem em prol dos outros. Pode parecer simples, mas apenas um ator com o talento de Hudson conseguiria transparecer camadas insuspeitas de complexidade em meio às atitudes, ações e reações aparentemente simples e banais de Mitch Wayne. Grande trabalho de Hudson, intérprete responsável pela construção sólida e multifacetada de um protagonista em dilema, fragilizado pelas coisas do coração.

 

Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956)
Por Rodrigo de Oliveira
Esta é uma produção que faz jus ao seu título original: Giant. O longa-metragem é gigante em diversos aspectos. Além de bastante extenso, tem épicas paisagens capturadas pelo diretor de fotografia William C. Mellor que ajudam a contar 30 anos na vida da família texana capitaneada por Bick Benedict (Rock Hudson). Na história, dirigida por George Stevens, Bick está em Maryland a negócios e conhece Leslie (Elizabeth Taylor). Os dois logo se casam e partem para a fazenda dos Benedict, no Texas. Lá, Leslie conhece sua cunhada Luz (Mercedes McCambridge), uma mulher forte que tem um carinho especial pelo capataz da casa, Jett Rink (James Dean). Os anos passam e acompanhamos a conturbada trajetória daquela família. Embora seja muito lembrado pela atuação do astro James Dean, o filme é de Rock Hudson. O ator consegue algo que não era lugar comum: interpretar com maestria seu personagem quando jovem e quando mais velho. A maquiagem e os truques de luz funcionam muito bem, mas nada como sua postura para que seja convincente como alguém de mais idade. Hudson está impecável também por transmitir a fibra de caráter necessária para viver tal papel, que lhe valeu sua única indicação ao Oscar.

 

Adeus às Armas (A Farewell to Arms, 1957)
Por Bianca Zasso
Rock Hudson construiu o tenente Frederick Henry, seu personagem, de forma sutil, apresentando aos poucos as várias camadas do americano que vai lutar na Primeira Guerra Mundial e encontra o amor nos braços da enfermeira Catherine, interpretada por Jennifer Jones. A primeira parte, mais focada no campo de batalha, o apresenta com algumas características comuns dos personagens de Ernest Hemingway, sempre questionando o mundo que os cerca e atormentados por lembranças. No caso de Henry, é a saudade da moça de olhar melancólico que conheceu em um hospital. Depois do próprio ser atingido em combate, seus amigos italianos o ajudam a reencontrar seu grande amor e o que se segue são cenas bucólicas, mostrando todo o carisma de Hudson. É como que um preparo para o que virá a seguir, quando a gravidez de Catherine muda os planos do tenente. É o momento para Hudson deixar aflorar o homem sensível por trás do herói de guerra e lembrar que a vida não é só feita de tiros contra o inimigo. As sequências finais, durante o complicado parto de Catherine, deixam claro que, mais que um galã, Rock Hudson era um ator com A maiúsculo.

 

Confidências à Meia-Noite (Pillow Talk, 1959)
Por Renato Cabral
Mais emblemática das parcerias de Rock Hudson, este filme co-estrelado por Doris Day, uma das queridinhas da América dos anos 1950 e uma de suas grandes amigas, trata da relação conflituosa e contrastante entre dois vizinhos solteiros, Jan (Day) e Brad (Hudson). Eles dividem uma linha telefônica no prédio onde moram e enquanto ela é uma decoradora solteirona, ele é um compositor garanhão. Claro, mesmo sem se conhecerem pessoalmente, já se odeiam. Afinal, a linha telefônica acaba sempre ocupada por Brad e seus flertes com várias garotas. Em uma trama de desencontros, o galã logo descobre quem é a vizinha irritada e decide assumir uma outra identidade para seduzi-la em meio a essa guerra dos sexos. Com uma das grandes químicas do cinema, Rock e Doris brilham magistralmente na tela. Se hoje o filme e performances parecem datados, ainda assim é necessário destacar a desenvoltura da versatilidade de Hudson nas telas ao criar um personagem tão seguro de si. Não é por nada que Abaixo o Amor (2006) homenageou a excelência do trabalho do ator e do filme como um todo. Um marco das comédias românticas.

 

O Segundo Rosto (Seconds, 1966)
Por Renato Cabral
Completando 50 anos em 2016, esta produção dirigida por John Frankenheimer traz Hudson como Antiochus Wilson, um bancário de meia-idade que recebe a oportunidade de recomeçar sua vida com uma nova face e identidade. Tudo começa quando o seu personagem recebe a macabra ligação de um falecido amigo de longa data e acaba introduzido à uma empresa focada em forjar mortes e criar novas personas. Antiochus compra a ideia e se submete ao processo de uma nova vida incluindo cirurgias plásticas e treinamento psicológico. Como resultado, ganha a identidade do artista Tony Wilson. Porém, descobre que não se adequa à vida escolhida e se rebela contra o sistema no qual integrou-se. Recebido com frieza no Festival de Cannes, este foi um dos mais importantes papéis da carreira de Hudson por proporcionar ao ator uma performance de variações dramáticas e psicológicas densas dentro do gênero suspense. Uma atuação e filme que logo foram catapultados como cults com o passar das décadas e inspirando títulos como A Outra Face (1997) e Sem Retorno (2015).

 

+1

 

Sublime Obsessão (Magnificent Obsession, 1954)
Por Conrado Heoli
Rock Hudson tinha apenas alguns papeis de pouca expressão em sua filmografia quando recebeu o convite para estrelar este drama de Douglas Sirk ao lado de Jane Wyman, que já era consagrada como uma das maiores atrizes de sua época. Com críticas favoráveis e o título de ator mais popular do ano pela revista Modern Screen, Hudson iniciava uma parceria com Sirk que renderia outros oito filmes e consolidaria sua relação com o cineasta como uma importante figura paterna. Baseado em uma novela de Lloyd C. Douglas, este drama coloca Hudson como um playboy que, após sofrer um acidente, acaba indiretamente responsável pela morte do médico e filantropo de sua cidade e, posteriormente, pela cegueira da mulher deste. Assumindo o papel do finado, ele passa a praticar os mesmos atos cristãos e secretos do médico enquanto tenta conquistar sua viúva. Sirk apresenta um extraordinário filme sobre visão: perspectiva, cegueira literal e metafórica, destino, luz e cores preenchem a história de um amor de cinema, inesquecível e melodramático como apenas o diretor soube fazer. Rock Hudson, com seu charme enigmático e beleza descomunal, pode se apropriar de um papel ambíguo e transformador, assim iniciando uma filmografia repleta de clássicos incontestáveis.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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