Quem diria há mais de dez anos que Rodrigo Santoro seria não apenas um galã de novelas, mas também um dos melhores atores brasileiros de sua geração e que, ainda por cima, estrelaria produções hollywoodianas? Tudo começou com o arrebatador Bicho de Sete Cabeças (2001), num desempenho premiado nos festivais de Brasília e de Cartagena, no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e no Prêmio Guarani. Na carreira internacional, tem como destaque sua atuação para o rei Xerxes em 300 (2007) e 300: A Ascensão do Império (2013), além de participações em filmes como O que esperar quando você está esperando (2012), com Jennifer Lopez, O Último Desafio (2013), com Arnold Schwarzenegger, e a nova versão de Ben-Hur (2016), com Jack Huston.
É claro que no cinema brasileiro Santoro não fica nem um pouco atrás, já tendo ganho vários prêmios por filmes nacionais, inclusive em alguns dos listados aqui. Por sinal, que melhor maneira de comemorar o aniversário do ator no dia 22 de agosto do que escolhendo seus cinco melhores filmes e aquele “mais um”, o que pode não ser muito lembrado, mas nem por isso merece menos atenção? Confira!
Por Robledo Milani
O trabalho da diretora Laís Bodanzky impressiona pela crueza, pela forma direta e quase documental com que expõe as verdades contidas em sua história. A total ausência de comunicação entre Neto (Rodrigo Santoro) e seu pai (Othon Bastos) resulta numa tentativa desesperada daquele de quem se espera autoridade em internar o filho numa instituição de apoio ao descobrir um cigarro de maconha na mochila do garoto. O filme é um alerta para a situação de descaso com que são tratados aqueles internados em manicômios e instituições de recuperação públicas, destinados a qualquer um que não se encaixe nos padrões normais de comportamento ditados pela sociedade. E no meio desta realidade transportada para a tela, Santoro está muito à vontade como o protagonista, num processo de entrega sem volta. Este foi o definitivo salto em sua carreira, mostrando ao mundo ser um ator completo e de respeito, distante da imagem de galã de novela das oito. Ele domina o filme do início ao fim, praticamente sozinho, e o faz muitíssimo bem.
Por Yuri Correa
“Quando o sangue amarelar”. Forte filme concebido por Walter Salles, este deve ser, ao lado de Terra Estrangeira (1996), um dos projetos mais provocativos do cineasta. Mergulha sem receios no mundo habitado por seus personagens e, já no início, se demora a explorar o “engenho” açucareiro onde vivem nossos protagonistas. Enfocando uma antiga rivalidade entre duas famílias do sertão, o longa se concentra em Tonho (Rodrigo Santoro), que gradualmente passa a perceber o absurdo que representa toda a violência e tragédia desprendida em torno desta disputa de egos e honras infundadas. Vivido com a simplicidade necessária pelo ator, Tonho é um reflexo direto do filme de quem é tema; apesar de simples e bruto, criado na dureza da terra infértil onde nasceu, ele também exibe delicadeza ao encontrar sorriso no povo que o rodeia. Essa temática de apreciação das pessoas simples de vida difícil, aliás, é um tema recorrente da filmografia de Salles, e, aqui, podendo mostrar principalmente as figuras daquele cenário impraticável para indivíduos que se dizem civilizadas, acaba conquistando por humanizá-las. Isso justamente ao contar sobre conflitos desumanos. Bom, então, que na ponta de seu elenco traga Santoro, um dos mais humanos dentre nossos intérpretes.
Por Matheus Bonez
O massacre do Carandiru foi um dos episódios mais tristes e trágicos da história do Brasil atual. Em 1992, 111 presos foram mortos por policiais durante uma rebelião no presídio. Ao transportar o livro de Dráuzio Varella e os casos de alguns personagens que participaram desta história, Hector Babenco realizou uma obra impressionante, brutal, que não esconde seu intento de humanizar os detentos e mostrar todos os lados da história. Ainda que não seja um grande filme em sua conclusão, especialmente por ter tanta história para contar em pouco tempo, o longa é um dos momentos mais importantes da carreira de Rodrigo Santoro. Despido de qualquer traço de galã de novelas, o ator incorpora a travesti Lady Di sem afetações, compreendendo a personagem para além da caricatura. Ao lado de Gero Camilo como seu companheiro Sem Chance, os dois ganham destaque como os personagens mais carismáticos enfocados por Babenco. Santoro, mais uma vez, comprova sua versatilidade e o porquê de ser um dos astros mais talentosos e requisitados das telas.
Por Marcelo Müller
Não Por Acaso, primeiro longa de Philippe Barcinski, é um daqueles filmes que enfocam o aleatório da vida, sobretudo eventos em princípio banais que acabam tomando proporções muitas vezes definidoras. Dois personagens obsessivos por controle, ou seja, alheios ao imprevisto, são os protagonistas. Ênio (Leonardo Medeiros) é engenheiro de trânsito, comanda o fluxo de veículos na caótica São Paulo. Já Pedro (Rodrigo Santoro) é dono de uma marcenaria especializada em mesas de sinuca. O personagem de Santoro exerce no jogo a necessidade de esquematizar o cotidiano conforme suas expectativas, calculando exatamente a trajetória das bolas, em jogadas estudadas milimetricamente, como que blindando-se contra ruídos, assim como faz na sua vida sentimental. Pedro precisará lidar com a dor de ver sua concepção de vida ruir, ao perceber que o controle é uma farsa auto imposta. Este é um dos trabalhos de Santoro menos lembrados pelo público, mas talvez um de seus mais sóbrios e eficientes na seara cinematográfica.
Por Rodrigo de Oliveira
O diretor José Henrique Fonseca conta a história de Heleno de Freitas em um belo preto e branco, não fazendo de forma alguma um filme sobre futebol. Heleno é sobre o homem, a pessoa que teve todas as chances para brilhar e que acabou sucumbindo aos vícios e à paranoia. Para Heleno, o mundo sempre esteve contra ele. E, como vemos na história, isso não poderia ser menos verdadeiro. Rodrigo Santoro vive o craque do título, um protagonista difícil de defender ou até de gostar. Arrogante, irresponsável, brigão e cafajeste, o jogador do Botafogo foi o primeiro grande astro do futebol nacional, sempre estampando as capas de jornais e sendo assunto nas mesas de bar. Santoro escolhe não tirar o pé e encarna todo o egocentrismo de Heleno, não se preocupando caso o espectador goste ou não das atitudes do personagem. Se o ator está brilhante na fase gloriosa do jogador, mais ainda quando este definha. A entrega de Santoro é impressionante. Emagrecendo o bastante para crermos no estado de saúde debilitado do jogador e mantendo o olhar vago e perdido em muitas das cenas no sanatório, o ator consegue talvez sua melhor performance no cinema.
+1
Por Thomás Boeira
O filme pode se concentrar em Steven Russell (Jim Carrey), policial que resolve assumir sua homossexualidade e passa a viver como um verdadeiro vigarista, sendo que não demora muito para que seja preso. Na cadeia, conhece e se apaixona por Phillip Morris (Ewan McGregor), iniciando um curioso romance no qual ele faz de tudo para poder viver ao lado de seu grande amor, mesmo que para isso precise infringir a lei várias vezes. Já faz um bom tempo que Rodrigo Santoro vem tentando fazer seu nome em Hollywood, e há momentos interessantes em sua carreira lá fora, apesar de nem sempre conseguir bons papeis. Aqui, Carrey e McGregor são os grandes destaques, mas Santoro como Jimmy, primeiro namorado do protagonista, usa seu talento para aproveitar bem os poucos minutos que o personagem tem em cena, sendo que ele de certa forma dá um apoio essencial para Steven quando este começa sua nova vida, e nesse sentido acaba se revelando importante para a narrativa.