Talvez nem o próprio Ryan Gosling pensasse que seria o ator da estima que é hoje se olhasse para o passado. Sem querer desmerecer qualquer um que tenha começado neste programa, mas o galã indie já foi do Clube do Mickey, tendo participado de duas temporadas na adolescência ao lado de figuras como Christina Aguilera, Britney Spears e Justin Timberlake. Seu lado musical ainda permanece, mas é como intérprete que seu talento é reconhecido pelo público e pela crítica. Protagonista de cults como Drive (2011) e O Lugar Onde Tudo Termina (2013) e de suspenses de apelo maior como Um Crime de Mestre (2007), Gosling já mostrou que sabe fazer rir – e muito – em produções como Amor à Toda Prova (2011). Por tudo isso, a equipe do Papo de Cinema resolveu celebrar o aniversário de Gosling, neste dia 12 de novembro, com seus cinco melhores filmes – e aquele que, hoje em dia, pode até parecer destoar de sua carreira, mas contribuiu e muito para que seu nome fosse alçado ao estrelato.
Half Nelson: Encurralados (Half Nelson, 2006)
Por Matheus Bonez
Ryan Gosling já havia mostrado que seu talento ia muito além dos colegas de sua geração interpretando tanto papéis de destaque em sucessos de público (Diário de uma Paixão, 2004) quanto protagonizando projetos autorais (Tolerância Zero, 2001). Porém, até então, talvez nenhum destes personagens tivesse sido tão desafiador quanto o professor Dan Dunne, protagonista deste delicado drama. A palavra do subtítulo brasileiro, encurralados, não poderia ser mais apropriada, pois tanto ele quanto sua aluna, Drey (Shareeka Epps) estão sem saída no ambiente que circula a escola onde passam boa parte do dia. Ele, viciado em drogas, precisa aprender a controlar o vício para dar suporte à garota, que vive cercada por traficantes querendo levá-la para o mundo do crime. A relação de cumplicidade que é estabelecida entre ambos pode, ao primeiro momento, evocar clássicos da educação, num misto de Sociedade dos Poetas Mortos (1989) e Mentes Perigosas (1995). Mas ao focar a história apenas nestes dois personagens, as camadas são colocadas à prova, resultando num excelente drama sobre a sociedade contemporânea e as relações humanas. Ryan Gosling pode ter sido indicado apenas uma vez ao Oscar por este trabalho – aliás, merecia o prêmio. Porém, além de ter ganho ainda mais os holofotes, conseguiu mostrar que poderia interpretar com maestria qualquer papel – o que lhe rende frutos até hoje.
Namorados Para Sempre (Blue Valentine, 2010)
Por Conrado Heoli
Atento a projetos desafiadores desde que se tornou ator de tela grande, Ryan Gosling descarta o título de garoto bonito para evidenciar seu talento em tipos complexos como Dean, protagonista deste drama dirigido por Derek Cianfrance. O filme narra uma história de amor longe do ideário com o qual o sentimento é popularmente concebido. O drama, que estreou no Brasil com um título tão inadequado quanto confuso, é contraindicado para o casal que procura num filme a plenitude romântica que espera em seu próprio relacionamento. Dean e Cindy (esta interpretada magistralmente por Michelle Williams) são apresentados em dois espaços de tempo de uma narrativa não linear: quando se apaixonam e quando o casamento de ambos parece se esfacelar. Não há aqui a velha fórmula que transformou o gênero romance em programa para mulheres – como a própria indústria cinematográfica classifica. Numa estética que prioriza a verdade em frente a filtros, luzes e outros artifícios recorrentes, Cianfrance desenvolveu seu filme em tons azulados e frios, com o propósito singular de retratar o amor em sua vertente mais realista. Michelle Williams foi indicada ao Oscar, mas Gosling, esquecido, supera aqui qualquer nominado ao prêmio de Melhor Ator em 2011.
Tudo Pelo Poder (The Ides of March, 2011)
Por Marcelo Müller
Ryan Gosling interpreta aqui Stephen Meyers, um assessor de imprensa idealista e apaixonado pelos meandros da política. Sua tenacidade visando transformar o governador democrata Mike Morris (George Clooney, também diretor do filme) no possível concorrente à chefia da Casa Branca – dentro das prévias internas do partido – é admirável, própria da juventude, mas logo confrontada tanto por seus mentores quanto por adversários mais velhos, homens já bastante empedernidos pela sujeira do jogo. Na medida em que o personagem de Gosling avança, vai deixando para trás algo de sua ética pessoal, pois, invariavelmente, crescer em meio aos lobos, e mais, almejar a liderança da matilha, tem lá seus dissabores. Nesse mundo político em que a mídia é cabo-de-guerra, ou seja, onde os agentes da mesma desempenham papel fundamental, Meyers cada vez mais se enturmará com a corja e se refestelará nos dejetos de campanha. Por tudo isso, este é um grande filme não apenas no que tange a cena política, mas, e, sobretudo, por investigar o comportamento de quem gravita em torno, anseia, ou eventualmente atinge o poder.
Drive (idem, 2011)
Por Dimas Tadeu
Sem dúvida um dos papeis mais marcantes da carreira do ator, o “motorista sem nome” é sinônimo de Ryan Gosling para quem gosta dele ou mesmo quem não curte tanto. Combinando um jeitão blasé e extremamente masculino com uma sensibilidade violenta e cheia de camadas, o ator constrói um personagem complexo e empático, que seduz o público do primeiro ao último minuto, magnetizando tudo que há na tela e conduzindo o longa quase como seu diretor (no caso, Nicolas Winding Refn). Curioso, portanto, que em português a palavra “dirigir” sirva tanto pra carros quanto pra filmes. Com trejeitos que mimetizam John Ford e substituem os cavalos do western por um carro (de novo, Mustang é um nome que serviria pras duas coisas), Ryan Gosling se mostra um ator completo, potencializado por fotografia, figurino e trilha sonora estonteantes. Um filme obrigatório para qualquer pessoa que goste de cinema. E claro, de Ryan Gosling.
La La Land: Cantando Estações (2016)
Por Robledo Milani
O filme que quase chegou lá. Talvez La La Land: Cantando Estações fique para sempre marcado pela confusão que os apresentadores Warren Beatty e Faye Dunaway fizeram ao abrir o envelope com o nome do vencedor do Oscar de Melhor Filme, tendo chamado o longa dirigido por Damien Chazelle – que, de fato, era o grande favorito ao prêmio – sendo que o vencedor havia sido, para surpresa de todos, Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016). Mas, desfeito o engano, seria injustiça relegar o musical ao esquecimento: muito pelo contrário, afinal, apesar de ter perdido na principal categoria, se confirmou como o título mais premiado do ano – só na premiação da Academia foram 6 estatuetas – e muitos dos seus méritos se devem ao par de protagonistas. E se Emma Stone conquistou seu troféu, Ryan Gosling ficou apenas na indicação – mas, caso tivesse ganho, teria sido por puro merecimento. Como Sebastian, um músico de jazz que se apaixona por uma atriz em início de carreira numa Los Angeles colorida e repleta de oportunidades, ele é a alegria e o sacrifício daqueles que se deixam levar pelo amor e sofrem por escolhas profissionais que nem sempre estão de acordo com o coração. Seja dançando, cantando ou, principalmente, atuando, Gosling é puro deslumbre, indo do desconforto ao domínio em questão de instantes, com a leveza dos que sabem muito bem o que estão fazendo.
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Dois Caras Legais (2016)
Por Robledo Milani
No mesmo ano em que Ryan Gosling deslumbrou meio mundo como o apaixonado de La La Land: Cantando Estações, também marcou presença nas telas com um projeto de menor repercussão, mas igualmente imprescindível aos seus fãs e admiradores. No longa escrito e dirigido por Shane Black – roteirista responsável pela saga Máquina Mortífera – Gosling forma uma improvável dupla de investigadores ao lado de um bronco Russell Crowe. Os dois se metem em um caso muito além da alçada de ambos, ao mesmo tempo em que nosso homenageado precisa lidar com uma filha adolescente muito mais antenada do que ele – sem esquecer da interferência da diva interpretada por Kim Basinger. E se Crowe maneja bem um tom mais leve do que o habitual, é em Gosling que as atenções se concentram, visivelmente aproveitando com as trapalhadas, histrionismo e cacoetes de um personagem absolutamente patético, mas impossível de não se afeiçoar. Conhecido pela pose de galã ou por trabalhos mais sérios, aqui aposta tudo em uma veia cômica que lhe cai com imenso prazer, mostrando que há muito mais no rapaz além dos belos olhos azuis e da cabeleira loira reluzente: o que o público aqui é convidado a conhecer é um ator completo, que não apenas sabe se rir de si mesmo, mas também é convincente o bastante para convidar o espectador a se divertir junto com ele.
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